Em 16 de julho de 1993, “Free Willy” chegava aos cinemas do Canadá e dos Estados Unidos, estreando no Brasil cinco meses depois, em 17 de dezembro daquele ano – lançamentos simultâneos em múltiplos países, como é praxe hoje em dia, só se consolidariam na década seguinte. Embalado pela canção ‘Will You Be There’ (assista abaixo), composta e interpretada por Michael Jackson, o filme conquistou público e crítica com a inesperada amizade entre Jesse (Jason James Richter), um jovem órfão, e Willy, uma orca separada de sua família por mãos humanas. O filme marcou o início da carreira de James Richter nos cinemas, então com 12 anos de idade durante as gravações.
Numa época em que Hollywood gerava com mais frequência produções bem dirigidas destinadas ao grande público, Simon Wincer, australiano que solidificou a carreira com trabalhos para TV na década de 1970, conduz “Free Willy” com segurança e fluidez, fazendo o básico com eficiência. Roteirizado por Corey Blechman e Keith Walker, uma história em torno do companheirismo entre um garoto e um mamífero aquático não era novidade, já que nos anos 1960 o golfinho Flipper teve grande popularidade como personagem em dois filmes (‘O Menino e o Delfim’, de 1963, e ‘As Novas Aventuras de Flipper’, de 1964) e uma série para TV (‘Flipper’, 1964-67). Estas produções, no entanto, pouco abordavam questões ambientais em seus enredos, algo que mudou em seus respectivos remakes, lançados a partir de 1995, já sob influência de “Free Willy”, que ousou ao criticar frontalmente a manutenção dessas espécies em cativeiro por parques temáticos que as utilizam como fonte de lucro e entretenimento.
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Aqui começa a polêmica, já que Keiko, a orca que se passa por Willy em cerca de metade das cenas do filme (na outra metade são usados bonecos eletrônicos), vivia em parques assim desde 1979, quando foi capturada nos mares da Islândia, próxima dos três anos de idade. De lá, foi vendida para um parque canadense, em 1982, chegando ao Reino Aventura, no México, em 1985, onde permanecia no momento das gravações, em 1992. Logo após o lançamento do filme, no ano seguinte, ambientalistas e simpatizantes se engajaram em forte campanha pela libertação de Keiko, que ganhou ainda mais destaque com a revelação das condições precárias em que o animal vivia. Seu tanque já não era grande o suficiente e a temperatura da água em que era mantido costumava estar muito alta, o que enfraquecia seu sistema imunológico.
Após milhões de dólares em doações feitas através do telefone inserido nos créditos finais de “Free Willy”, apenas no início de 1996 a situação de Keiko começou a melhorar, com sua transferência para um tanque maior, agora no Oregon, noroeste dos Estados Unidos, e um plano para recuperar sua saúde e devolvê-la à natureza. Em setembro de 1998, mais de 20 anos depois, a orca enfim se reaproximou de seu local de origem, permanecendo numa baía cercada na Islândia até julho de 2002, quando passou a nadar em mar aberto, viajando centenas de quilômetros até águas norueguesas. Sem conseguir se integrar a nenhum grupo de orcas selvagens com que interagiu no período e ainda dependente de cuidados humanos para se alimentar adequadamente, Keiko sucumbiu próximo a Halsa, Noruega, em 12 de dezembro de 2003, aos 27 anos – cerca de metade do esperado para orcas machos que vivem na natureza.
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Apesar da reintegração de Keiko à natureza não ter sido bem-sucedida, as ações em torno de sua libertação pressionaram inúmeros parques a deixar de utilizar ou ao menos reduzir a quantidade de animais marinhos em suas dependências. As doações dos espectadores ajudaram a criar a Free Willy-Keiko Foundation, que junto a Save the Whales Foundation permanecem lutando pela preservação de seres marinhos, seja por meio de campanhas educativas ou por medidas judiciais que visam impedir ações prejudiciais a essas espécies, como testes militares, minerações em locais indevidos e despejo de esgoto não tratado ao mar. Um dos resultados mais positivos após esforços como esses foi o exponencial aumento da população de baleias jubartes nas últimas décadas, saindo de cerca de 450 nos anos 1960, quando estava em alto risco de extinção, para aproximadamente 80 mil atualmente, sendo 25 mil apenas no litoral brasileiro.
Embora não tenha liderado as bilheterias, as críticas positivas ajudaram “Free Willy” a brigar de igual para igual com “Jurassic Park” – produção que mais vendeu ingressos em 1993 – mantendo o filme entre os cinco mais vistos nas salas americanas durante as quatro primeiras semanas de exibição e entre os dez mais rentáveis por outras quatro semanas. Como resultado, acumulou mundialmente mais de US$ 150 milhões, quase oito vezes o valor de seu orçamento, estimado em US$ 20 milhões. O sucesso garantiu duas sequências diretas, “Free Willy 2: A Aventura Continua” (1995) e “Free Willy 3: O Resgate” (1997), ambas com James Richter e parte do elenco original, além de uma série animada com duas temporadas, entre 1994 e 1995, e um reboot, “Free Willy: A Grande Fuga”, lançado em 2010 diretamente para o vídeo. Nenhuma dessas produções utilizou orcas em cativeiro durante as filmagens. Aliás, ao contrário do imaginário popular, a orca pertence a uma espécie de golfinhos. Seu tamanho avantajado (pode chegar a 10 metros de comprimento) a torna confundida como um tipo de baleia.
Free Willy - EUA, 112 min, 1993 - Dir.: Simon Wincer. Estreou em 16/7/1993 (Canadá e EUA) e 17/12/1993 (Brasil) - Disponível para streaming em plataformas de aluguel digital
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