Certamente você se recorda do filme “De Repente 30” (2004), onde a atriz Judy Greer faz uma apresentação para o novo formato da revista Poise, mencionando “é o suicídio da moda”, parecia que a trama estava prevendo o trágico destino fashionista anos depois de sua exibição. Se já não bastasse a polêmica campanha da grife Balenciaga fazendo apologia à pornografia infantil, eis que surge, o desfile da marca Schiaparelli, conhecida por seus looks extravagantes e excêntricos, para a semana de alta costura em Paris, ao qual acabou gerando polêmica, revolta e repúdio de milhões de pessoas que acompanharam o evento pela internet.
SCHIAPARELLI – FEMININA, SURREAL E PODEROSA
A grife italiana levou para a passarela looks com cabeças de animais como se fossem troféus a serem exibidos para uma plateia alienada que se contenta com o verdadeiro espetáculo dos horrores. Em suas redes sociais, a marca escreveu: “O leopardo, o leão e a loba – representando lúxuria, orgulho e avareza na icônica alegoria de Dante – em espuma esculpida à mão, resina, lã e seda, pêlo falso para parecer o mais real possível. Nenhum animal foi prejudicado em fazer este olhar”. A problemática da situação não foi em usar pele falsa, e sim a mensagem cruel que esses adornos representam para o meio ambiente, incentivando um mercado ilegal de caça a olhar para esse desfile e “achar normal” a situação.
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Naomi Campbell
O fato assustador é ainda maior quando, além da marca dar um tiro no próprio pé com essa ideia acéfala, veículos de comunicação com alto poder de influenciar pessoas, citam o desfile de forma magnífica e mencionam que as cabeças dos animais são de material sintético, dando a entender que está tudo bem, mas na verdade não está.
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Segundo informações do Relatório Mundial sobre Crimes da Vida Selvagem, lançado pelo Escritório das Nações Unidas, em 2020, “quase seis mil espécies foram capturadas entre 1999 e 2019. Os suspeitos de tráfico vinham de 150 países. Acabar com o tráfico da vida selvagem é essencial para proteger a biodiversidade, mas também para evitar futuras emergências de saúde pública”, ou seja, empresas como a Schiaparelli devem tomar muito cuidado com a mensagem negativa que pode transmitir aos seus consumidores, a grife acaba incentivando as pessoas a praticarem um crime ambiental, devido ao marketing por trás de uma campanha mal elaborada. Nessa situação, engajamento e curtidas desenfreadas nas redes sociais devem ficar em segundo plano.
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Kylie Jenner
Infelizmente, no Brasil, a situação não é tão diferente, atualmente a caça ilegal cresce de forma desenfreada, causando um dano gigantesco para o reino animal. “O período entre os anos 1930 e 1960 é chamado de “época da fantasia” em muitas partes da Amazônia. “Fantasia” eram as peles de felinos exportadas para o mercado da moda norte-americano e europeu. Só a venda de pele das espécies mais exploradas que incluíam jacarés, peixes-boi, veados, porcos-do-mato, capivaras e ariranhas – movimentou cerca de US$ 500 milhões (em valores atuais) durante o auge desse comércio. De 1904 a 1969, algo em torno de 23 milhões de animais silvestres de ao menos 20 espécies foram mortos para suprir o consumo de couros e peles. Esses dados, apresentados em um artigo publicado em outubro na revista Science Advances, referem-se apenas ao que ocorreu nos estados de Rondônia, Acre, Roraima e Amazonas”, diz um trecho da Pesquisa Fapesp.
A consciência social e ambiental deve prevalecer independente do ramo de atuação. O assustador é saber que celebridades como Kylie Jenner, não se preocupam com os danos causados, e sim com o faturamento que a ação irá lhe render. Precisamos urgentemente rever o consumo desses tipos de produto.