Mesmo com o direito garantido pela Justiça e aprovado por lei como o casamento homoafetivo, adoção de crianças e criminalização da LGBTfobia, o Brasil é o país que mais mata a população trans no mundo, pelo 12º ano consecutivo, segundo informações da Trans Murder Monitoring (Observatório de Assassinatos Trans). Com números alarmantes, muitas pessoas acordaram para a realidade e o país bateu um recorde com pessoas trans eleitas nas eleições municipais, mas queremos mais, muito mais espaços públicos ocupados pela população LGBTQIA+, muito mais visibilidade na mídia e reconhecimento. A artista Grag Queen, personagem criado por Gregóry Mohd, foi a grande vencedora da primeira temporada do reality “Queen of the Universe”, nos Estados Unidos, sendo a única drag queen brasileira a representar a nação verde e amarela, levando para casa o prêmio de US$ 250 mil, equivalente a R$ 1,4 milhão.
Aos 26 anos, natural de Canela, região serrana do Rio Grande do Sul, Grag vem de uma família tradicional regionalista evangélica, onde seu espaço sofreu certa opressão. “Vindo de uma cidade extremamente tradicionalista e cultivando doutrinas evangélicas dentro de casa, sim, hoje entendo que fui muito oprimido em todos os espaços que ocupei – escola, igreja, amigos e família”, lembra. “Ainda muito conturbado com a infância acabei desenvolvendo muitas compulsões e traumas, logo me formei no ensino médio e fui morar um tempo em New York, onde tive contato com muitas pessoas “livres” que me inspiraram a viver em paz do jeito que eu era”, complementa.
Após muitos ensinamentos da vida, Grag Queen vive em harmonia com sua família, mas já possui planos para sair de casa. “Depois de muitos desentendimentos, nós vivemos em um clima de muito respeito e amor. Nunca desistimos do nosso amor mesmo que pensando diferente, hoje sabemos o quanto aprendemos uns com os outros”, diz Grag.
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Durante seis anos, Gregóry trabalhou como office boy, motorista de aplicativo e ator de teatro musical, até encontrar sua verdadeira vocação e encher um país extremamente homofóbico de orgulho, doa a quem doer. Engana-se quem acha que a arte drag queen é apenas um modismo, o termo ‘drag’ surgiu em meados de 1870, em Londres, na era shakespeariana, para a descrição de atores que usavam figurinos femininos, já que mulheres eram proibidas de atuar, em terras tupiniquins, a arte chegou por volta dos anos 70 com as maravilhosas transformistas.
“A arte drag entrou na minha vida por acidente, e repentinamente. Lembro que causou estranhamentos em todos, até um namoro eu rompi, hoje eu entendo que a arte drag era apenas a união das coisas que eu mais amo fazer. Creio que estar montada me devolve muita coisa que o Grégory nunca teve acesso, como se olhar no espelho e se amar”, comemora. Em relação ao atual cenário de artistas LGBTQIA+, a cantora comenta – “Eu acho a cena excelente, mas ainda sim muito pequena em comparação aos lugares que já pisei, ainda mais tendo consciência de que existem muitas drags impecáveis no nosso país só esperando uma oportunidade pra brilhar, como estou brilhando”.
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Performática, carismática, acessível, talentosa e com um timbre único, Grag Queen é a nova estrela brasileira que o público pode aclamar. “Fiquei muito feliz de terem notado e gostado do jeito diferente que eu canto, eu realmente amo me divertir enquanto canto e espero que isso inspire as pessoas – se divertir em primeiro lugar”. Foi com esses requisitos que a brasileira percorreu todo o processo para sua entrada no reality internacional, seguindo todas as etapas até a grande vitória – “cada etapa que eu avançava era um surto diferente”.
“No programa eu tive certeza de que ninguém faz o que eu faço e eu sou muito feliz levando arte de qualidade e diversão pra quem me assiste, aprendi que ser eu mesmo é o maior segredo”, diz.
Grag Queen já tem algumas propostas de trabalho e algumas parcerias, mas nada que possa ser divulgado atualmente, em questão ao que irá fazer com o prêmio, a artista pontua – “com certeza investir na dona Grag, já que foi ela que ganhou”. “Não vejo a hora de lançar minhas músicas, meus clipes e ver vocês no meu show, saudáveis e felizes”, finaliza.
