Mulher, você já se viu por inteira?
Eu sei que ouvimos desde pequenas, que é feia, fedida e até suja, mas são apenas meros boatos patriarcais. Entre apelidos e piadas nos perdemos e quase não sabemos nem nos nomear: mas é sobre a vulva que vamos falar!
Checar! Essa é a palavra, pegar o espelhinho e olhar para si: pra ver se está tudo bem, pra se admirar, pra se conhecer e pra não se perder em comparações. É saudável se ver, se analisar e consequentemente se admirar!
MENSTRUAÇÃO: O SANGUE É VERMELHO
A parte interna, que não conseguimos ver é a vagina, e toda a parte externa é a vulva, uma anatomia interessante pra gente se ver, rever e perceber uma curiosidade linda, que antes quase não se ouvia falar, a variedade vulvar: assimetrias de lábios, tamanhos diferentes, cores, quantidade de pelos e infinitas combinações.
Em 2019, pesquisadores de um hospital da Suíça, investigaram as variações nas vulvas de 657 mulheres por dois anos, medindo o tamanho dos grandes e pequenos lábios e a distância entre clitóris e uretra, e depois de dois anos de estudo chegaram à conclusão: não existe um padrão!
Falando em anatomia, o clitóris é muito mais, do que por muito tempo se imaginou, o assunto é tão tabu, que sua anatomia só foi descoberta recentemente, em 1998 pela urologista australiana Helen O’Connell, ela além de detalhar a vascularização, constatou que a inervação era mais potente do que antes observada. O clitóris é a parte do corpo que mais possui terminações nervosas, o único órgão cuja função exclusiva é o prazer. A partir daí, já deu pra entender o porquê desse desinteresse em pesquisar sobre ele, por muitos anos as mulheres foram privadas do prazer, e sua genitália lugar de vergonha, posse de um homem e socialmente usada apenas para procriação.
“A sexualidade feminina foi confinada na vergonha e na ignorância desde o início dos tempos. Portanto, não é surpresa que as pessoas não conheçam a anatomia do clitóris. É nossa herança cultural”, disse a médica e pesquisadora Helen em uma entrevista ao El País.
É importante ensinar às filhas ou filhos com vulva, as crianças em crescimento no geral, o nome certo de cada coisa, chega de diminuir e chacotear, não é florzinha não, quer dizer é tão bonita quanto uma, mas é mais que isso, é vulva, prazer! E não vem me dizer que não sabe, ou nunca ouviu falar só porque é homem, ou não sabe porque não gosta, é corpo, é vida, e todo mundo nasceu de uma, então faça o favor de reconhecer, porque esse discurso só reforça a sociedade patriarcal e machista que afeta a qualquer um, independente de gênero ou orientação sexual.
Outra coisa, órgão genital não define gênero não, viu! Então, não tem desculpa, gostando ou não, respeite e se informe.
Toda essa variedade de formas na contramão da cobrança social de um padrão estético (infantilizado, assunto pra outro texto), fez do Brasil campeão em cirurgias íntimas, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 25 mil labioplastia foram feitas no país em 2016, e a maioria dos casos por motivos estéticos. Antes de tudo é bom pensar porque é que incomoda, será que não é por falta de falarmos sobre o assunto? Será que não é vergonha de ser diferente? Quando na verdade nenhuma é igual. Às vezes, a falta de conhecimento nos faz pensar que somos feias, tortas, estranhas, sendo que o prazer pode estar justamente em admirar a beleza da singularidade, cada vulva é única!
No 3º episódio de “Goop Lab” com Gwyneth Paltrow (vale a pena assistir) tem um momento lindo, em que é mostrado com naturalidade uma variedade anatômica de vulvas, e pode apostar, você vai achar uma ou outra parecida com a sua, mas não igual.
SEM APELAÇÃO, SEX EDUCATION TRAZ TEMAS IMPORTANTES E MOSTRA QUE FALAR DE SEXO NÃO DEVE SER UM TABU
Maravilhosamente esse assunto veio à tona nas últimas semanas, com a chegada da 3ª temporada de Sex Education na Netflix, (contém spoiler), quando a personagem Aimee depois de se desesperar, descobre que sua vulva com lábios assimétricos não tinha nada de errado, uma descoberta bonita de se ver, que reverbera em várias discussões entre as amigas e amigos do colégio.
Precisamos falar mais sobre isso, para que as adolescentes, e as mulheres com vulvas de todas as idades, se reconheçam e se aprendam, sem se esconderem. A região da pelve precisa se abrir para flexibilizar, porque às vezes, as restrições por timidez decorrente de uma prisão social é tão forte, que a insegurança começa a se manifestar em outras áreas da vida. Estamos falando de corpo, somos corpo, não apenas possuímos uma genitália, somos com ela, na integridade da existência física. Por vezes essa região pode ficar tão esquecida que nem lembramos o quanto é saudável exercitar, mover e fortalecer essa musculatura, para o prazer e para qualidade de vida.
A perfeição da vulva está em ela ser única. Viva a diversidade vulvar!