MENSTRUAÇÃO: O SANGUE É VERMELHO

O SANGUE NÃO É SUJO, NÃO É RUIM, É PARTE DE UM CICLO QUE COMEÇA, TERMINA E RECOMEÇA
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02.04.2021

Brunela Behring

Você é o seu corpo, então você é o seu útero, que cria camadas e depois solta. Um novo ciclo começa no primeiro dia da menstruação. Um sangue vivo sai do corpo. Vermelho! Essas camadas são formadas ao mesmo tempo em que acontecem tantas coisas na vida, alegres, desconcertantes, tristes, emocionantes, desgastantes. E depois, é hora de deixar ir, escorrer, sangrar. Qual é o tom de vermelho do seu sangue?

O ciclo menstrual pode ser o caminho do sentir-se, uma valiosa ferramenta para o autoconhecimento, não somos uma linha reta, somos espiraladas, passamos e repassamos por cada período de cada ciclo, e um ciclo nunca é igual ao outro. Como está o seu durante esse tempo de pandemia? 

Cada fase do ciclo corresponde a uma fase lunar. Reconhecer as características físicas e comportamentais dessas mulheres que somos ao longo de um ciclo menstrual e não negar esse ritmo uterino pode ser mais agradável, porque nos aproxima da natureza do que somos. E nos ajuda a vivenciar a potência de cada momento, para planejar, para agir, para saborear e para recuperar fôlego.

Essa conexão e escuta é uma bússola que nos direciona a vivenciar nossos projetos de vida com mais harmonia. Saber quando precisamos pegar mais leve, descansar um pouco mais, beber mais líquido, consumir vegetais com mais ferro, preparar um chá quentinho, cada uma sabe qual é o cuidado por si mesma.

O ciclo menstrual é uma dança cíclica e contínua de hormônios, o primeiro dia deste ciclo é o primeiro dia da menstruação, liberações de camadas da parede do útero, essa parede fica rica de nutrientes e bem espessa e se descama. Como é seu sangue? A cor, a quantidade, o cheiro. Como fica a textura da sua pele em cada fase do ciclo? O que se manifesta?

Sangrar. Sangrar às vezes é assustador, às vezes é romantizado, às vezes dá uma sensação conexa com a ancestralidade e às vezes, não é nada além de um direito de existir na rua e ser compreendida porque vazou!. Líquido vaza. Corpo transborda. Normalizem! Normalizem o sangue menstrual e não o sangue das violências e do feminicídio

E PRA VOCÊ, O QUE É SER MULHER?

O sangue menstrual, o sangue das mulheres mortas pelo feminicídio, e o “sangue invisível”, que a sociedade derrama diariamente sobre o meio ambiente – esse é o tema da mostra de vídeoartes da Cia de arte-ritual RangdArt dirigida por Allegra Ceccarelli: “3 sangues: da terra, do útero e do pulso”. A mostra traz trabalhos produzidos por artistas de diferentes regiões do Brasil e evidenciam através da performance o sangue da violência contra a mulher, da hegemonia patriarcal e da destruição da natureza em apresentações online.

Allegra, idealizadora desta mostra, multiartista e criadora do Festival menstruAÇÃO traz a performance “Vestida para morrer 3 vezes”, uma ode à vida, à morte e à natureza.  Em seguida vem a artista pernambucana Kali Saxa com “As Aventuras de Sandy Sangrenta”, e “O Sangue Repudiado” de Gael Jardim, homem trans, que apresenta seu corpo e a sua relação pessoal com a menstruação. Zahy Guajajara, atriz e ativista pelas causas indígenas traz “Pó de Urucum” e Bruna Brignol encerra com “Isso não é assunto de Criança”, performance que investiga a relação com as transformações que ocorrem no corpo a partir da menarca. Vai ser dia 10 de abril e os ingressos gratuitos podem ser encontrados no Sympla

O sangue não é sujo, não é ruim, é parte de um ciclo que começa, termina e recomeça. Não somos máquinas produtivas, constantes e incansáveis. O dia que produzimos menos é o dia de descansar ou fazer as coisas mais devagar. Descansar, trabalhar, sem culpas ou desculpas, apenas escuta e respeito pelos ciclos da natureza que somos.

Muitos tabus giram em torno da menstruação,  falar que está menstruada dependendo do lugar causa timidez, na adolescência carregar um absorvente da sala de aula até o banheiro é a mágica das mais bem feitas, desenvolvemos habilidades para esconder as manifestações do corpo. Será que dá pra lavar copos coletores em banheiros masculinos de boa? Homens trans menstruam. Copo, absorvente ou roupa manchada, tem cor sim e é vermelho. Cor de vida, cor de morte. A menstruação pode ser dolorosa, não só pela cólica, mas porque é uma relação de negação e aceitação. É cíclica. É sinuosa, oscilante, envolve desde mudanças de humor à disforia de gênero. Precisamos conversar mais sobre isso nas rodas,  falar sobre ser corpo.

“Absorvendo o tabu”, documentário curta-metragem de Rayka Zehtabchi, vencedor do Oscar em 2019, fala sobre os estigmas da menstruação na Índia rural, onde meninas largam os estudos por se sentirem constrangidas na menarca e mostra como foi desenvolvida por mulheres uma máquina para fazer absorventes biodegradáveis e de baixo custo. Disponível na Netflix. (Assista abaixo)

Aceite seu sangue. Reclame dele, faça as pazes e reclame de novo. Sangre com a terra, sangre. Se você não menstrua, sinta e reconheça os ciclos do seu corpo. Aproveite a menopausa para criar e recriar. Abra a vulva, abra cada poro do seu corpo para deixar sair. Não segure, deixe sair!

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