OBRA “O REFORMATÓRIO NICKEL”, DE COLSON WHITEHEAD, DÁ PORRADA MORAL EM RACISTAS

A LEITURA FICA AINDA MAIS AMARGA QUANDO RELACIONADA A FATOS REAIS
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20.03.2021

Robert Deutsch / Divulgação

Em 2020, George Floyd foi assassinado por policiais brancos nos Estados Unidos. Em 2020, João Alberto Silveira Freitas foi assassinado por seguranças numa unidade da rede Carrefour no Brasil. Outros milhares de nomes somam-se a números assustadores de homicídios motivados pelo racismo. Mas “O Reformatório Nickel”, de Colson Whitehead, não é um livro sobre assassinato físico, mas também sobre homicídio moral, sobre como um sistema social preconceituoso destrói sonhos e almas.

Publicado pela primeira vez no Brasil em 2019, pela editora Harper Collins, o livro venceu o prêmio Pulitzer de melhor ficção em 2020. Whitehead levou também o troféu em 2017 por “The Underground Railroad: Os Caminhos Pela Liberdade”, também editado pela Harper. A narrativa de “O Reformatório Nickel” dá porrada atrás de porrada para mostrar a luta pelos direitos civis nos anos 1960.

Constantemente inspirado pelas ideias de Martin Luther King, o jovem e brilhante estudante Elwood Curtis é vítima de uma injustiça e sentenciado a um reformatório no Sul dos Estados Unidos. Apesar de toda a brutalidade cometida contra ele ao longo da vida, durante muito tempo Elwood tem esperança na humanidade: “Vai enriquecer o seu espírito como nada mais fará. Vai lhe dar um raro senso de nobreza que só pode nascer do amor e da ajuda altruísta ao seu companheiro. Faça da humanidade uma carreira. Faça dela a parte central da sua vida”.

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Mas, ao chegar ao reformatório, tudo muda na formação do protagonista. O Reformatório Nickel é o próprio inferno em vida: violências sequenciais e ilimitadas irão forjar a personalidade de Elwood e seu amigo Turner. “Talvez a violência não tivesse nenhum sistema e ninguém, nem quem batia, nem quem apanhava, soubesse o que acontecia e por quê”. É preciso estar com o fígado em dia para aguentar as descrições precisas do sadismo impetrado pelas autoridades do Nickel.

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Descrições, porém, necessárias para a compreensão dos terríveis efeitos do sistema de leis Jim Crow, as chamadas leis de segregação racial. A leitura fica ainda mais amarga quando relacionada a fatos reais. O Nickel do livro não existiu, mas foi inspirado no Florida School For Boys, onde restos mortais de pelo menos 100 crianças foram descobertos num cemitério clandestino. Ao menos, cabe a nós, no terrível século 21, sermos ferozmente antirracistas.

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