Documentário ‘Safári’ exige estômago para acompanhar sua ironia

Produção mostra rotina de turistas que vão à África para caçar
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25.06.2018

Divulgação / Reprodução

Não é preciso ser um ativo protetor dos animais, de rigorosa dieta vegana, para se chocar com este documentário. Em ‘Safári’, acompanhamos turistas europeus que se deslocam até a África para sanar o prazer de encontrar os grandes mamíferos que habitam o continente, matando-os em seguida. Ou “capturando”, como um desses caçadores sazonais prefere definir.

E se justificarão de inúmeras formas: procuram acertar apenas os membros mais velhos e doentes de cada bando; tentam ao máximo abatê-los no primeiro tiro, a fim de evitar que os bichos agonizem; tratam o ato como parte de um ritual sagrado, e por aí vai.

Tudo é feito sob supervisão profissional, uma vez que os visitantes se encontram num tipo de resort de luxo, em meio às savanas africanas. Há um guia líder, caucasiano, apoiado por auxiliares nativos, que orientam os hóspedes na busca pelos animais, sugerindo a melhor distância e momento para se efetuar os disparos. Depois, ajeitam a presa na melhor posição para a foto ao lado do carrasco. Tudo incluso no pacote.

Quem lucra é o proprietário da imensa região, também caucasiano, uma espécie de senhor de engenho que fez de sua capitania um parque onde se pode caçar legalmente animais hoje vulneráveis à ameaça de extinção, como zebras e girafas. O governo local, diante das dificuldades comuns às nações africanas, não vê outra saída a não ser incentivar o negócio, de onde saem carcaças, couro e carne valiosíssima no exterior. Aos nativos, que extraem cada um desses itens, sobram partes menos nobres, como patas e articulações, para dividir com suas famílias em seus humildes barracos.

Critica Safari

Mais do que a frieza com que o diretor e roteirista austríaco Ulrich Seidl registra as cenas, aliada a certo cinismo – algo característico em sua filmografia – o que faz de ‘Safári’ algo inebriante e digno de atenção é a relação feita entre senhorio e subjugados, remetendo aos tempos do neocolonialismo de um século atrás. Ou seja, vai muito além da questão sobre preservação animal e as implicâncias morais inerentes. Trata-se, também, de um estudo sobre as percepções atuais de racismo e imperialismo velados que persistem na região.

Mas o alerta é válido: é preciso que o espectador tenha estômago de ferro para acompanhar integralmente a ironia proposta pelo diretor. Seidl não nos poupa de registros realmente fortes de autópsia animal. Talvez para reforçar o ponto de alienação (insanidade, talvez) que o caráter humano pode chegar. Embora assistir a uma conversa de adolescentes falando sobre armas e calibres mais adequados para diferentes espécies animais, como se discutissem a escalação ideal da seleção de futebol, já poderia chocar o suficiente.

Critica Safari Filme

Safári (Safari) – Áustria, 91 min, 2016 – Direção: Ulrich Seidl – Estreou em 14 de junho. Assista ao trailer:

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