Recentemente as redes sociais foram invadidas por milhares de perfis “dublando” cenas de filmes e séries, “memes” momentâneos internéticos e situações ao estilo “vídeo cassetada”, mas são situações amadoras, pois a dublagem é muito mais que quinze segundos para atrair curtidas, dublar é algo sério e requer muito estudo, dedicação, técnicas e paixão pela profissão. Considerado um dos melhores dubladores da nova geração, o paulistano Leandro Luna, 38 anos, acaba de estrear a comédia antológica “Love Life”, na HBO Max, dublando o personagem Jim, o anime da Crunchyroll, “The Rising of Shield Hero”, na voz de Ren Amaki e o cachorro cantante tenor em “Vai, Cachorro Vai”, na Netflix, entre os mais de trinta filmes, séries e animações em seu vasto currículo.
A PERSONAGEM VELMA DO SCOOBY-DOO GANHARÁ UMA SÉRIE ANIMADA SOLO
Luna é formado em Artes Cênicas e Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e antes de ingressar na carreira artística, trabalhou por três anos com administração na empresa da família. No inicio, o ator não teve o apoio familiar, mas com o tempo a situação mudou – “Além do receio com relação à estabilidade financeira, meu pai tinha o grande desejo que os três filhos trabalhassem na empresa da família, aonde cheguei a trabalhar até os 21 anos. Foi então, que a paixão falou mais alto, e decidi realmente focar 100% na minha profissão de ator, e a partir daí, toda minha família me apoiou muito e me apoiam até hoje”.
Desde a infância, Leandro Luna é apaixonado por dublagem, mas antes de se dedicar à profissão, mergulhou no universo da atuação, pois para fazer dublagem é necessário ter a formação de ator, e hoje comemora 18 anos de carreira. Mas como qualquer outra profissão, a persistência é a chave do sucesso, e levar respostas negativas em relação ao seu trabalho deve-se ser levado com naturalidade, maturidade e aprendizado – “São muitos mais “nãos” do que sim, mas para conseguir o “sim”, é preciso estar bem preparado, estudar bastante e praticar. A dublagem é um mercado bem fechado. Cada diretor ou estúdio costuma trabalhar com seus núcleos de elenco, então, é preciso de bastante persistência. Ter uma boa amostra de áudio, contatar os estúdios, se apresentar aos diretores, pedir indicação aos dubladores e enviar o material”, comenta o ator.
Para os iniciantes, Leandro frisa a importância da preparação profissional e os estudos para ingressar na profissão. “Estudem atuação. Um bom dublador é aquele que além de conhecer muito bem a técnica, sabe dar vida aos personagens que dubla. Portanto, invistam nas aulas de interpretação e cursos técnicos de dublagem”.
Questionado sobre o “boom” das “dublagens” brincalhonas dos internautas e se os posts podem prejudicar de alguma forma o trabalho do dublador, Luna responde: “Não diria que “prejudica” a imagem da profissão, porém, se compartilha, de maneira equivocada, a falsa informação de que o que vemos nos vídeos do TikTok é dublagem, e na realidade, não é. O que vemos é apenas a sincronia labial, ou, lip synk. Para dublar, você precisa ter a referência visual e sonora com a voz original da personagem, para daí, emprestar sua voz e interpretação a ele. Substituindo a voz original por um novo idioma. Então, o que vemos, são excelentes sincronias labiais e não dublagem”.
Michael Banks de “O Retorno de Mary Poppins”, Elvis do cartoon “Eu, Elvis Riboldi”, Tez e El Silbon de “Victor e Valentino”, Kratus e Zefyr de “Gormiti”, são alguns de seus inúmeros trabalhos como dublador, mas o seu preferido e de muitas pessoas que se emocionaram com a animação, Hector de “Viva, a Vida é uma Festa” tem lugar cativo no coração do ator – “A melhor parte é poder colocar sua voz para uma obra e saber que ficará registrada pra posteridade. Além de ser uma grande diversão e um prato cheio para o ator, poder brincar de diferentes formas com a voz, seu principal instrumento de trabalho. Acredito que nessa área, não haja uma dificuldade que não seja prazerosa. Para mim, quanto mais desafiadora for a voz da personagem, mais divertido é”, ressalta.
O mercado de dublagem tem crescido consideravelmente no Brasil, devido o aumento das produções em audiovisual e plataformas de streaming. “O mercado da dublagem tem crescido e se tornado mais flexível com o passar dos anos. O aumento da demanda de produções audiovisuais, conteúdos, streamings, etc, incentiva essa expansão e consequentemente a competitividade, que eu considero ser muito positiva, pois exige que os profissionais saiam da zona de conforto e se aperfeiçoem cada vez mais, refletindo diretamente na qualidade final da obra dublada”.
Leandro Luna está ensaiando a peça “A Vela” que deve estrear no teatro em setembro, escrita por Raphael Gama, com direção de Elias Andreato, ao lado do ator Herson Capri – “A peça retrata a relação entre um pai e um filho, drag queen, que aparece após 20 anos longe de casa, para terem a oportunidade de uma última conversa. O final é surpreendente. Todos vão se emocionar muito”, finaliza o ator.