HOMOSSEXUALISMO X HOMOSSEXUALIDADE: A BUSCA PELA DESCONSTRUÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO E DO PRECONCEITO

A DOUTORA EM PSICANÁLISE, ANDRÉA LADISLAU FALA SOBRE O TEMA E EXPLICA A DIFERENÇA ENTRE OS SUFIXOS
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23.06.2021

Divulgação / Reprodução

No mês em que comemoramos a diversidade LGBTQIA+, ainda nos deparamos com uma triste realidade sobre a intolerância: a grande maioria das pessoas ou não percebem que são intolerantes ou estão convencidos de que a intolerância está perfeitamente justificada. Diante deste infeliz cenário, em pleno século XXI, encontramos a homossexualidade como um tema sensível cercado por julgamentos morais e preconceitos, quando é, na verdade, apenas uma característica da personalidade humana. Ou seja, é preciso reafirmar o compromisso com a diversidade e o respeito a todas as pessoas, independente de sua orientação sexual e identidade de gênero.

A luta pelo respeito à diversidade sexual e, principalmente, contra o preconceito e às agressões que acompanham a intolerância, também esbarra no entendimento correto do conceito do Homossexualismo e da Homossexualidade.

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Entende-se que a orientação sexual é apenas mais uma característica de um sujeito, dentro da expressão de sua sexualidade, que é subjetiva e única. Ela engloba tudo aquilo que a pessoa é capaz de construir em relação ao amor, ao carinho e ao sexo, e não o que o outro acredita ou quer dela. Nenhum indivíduo é igual ao outro, e isso inclui também pensar em sua orientação sexual. Por isso, é importante entender que é mais adequado utilizar o termo “homossexualidade” em vez de “homossexualismo” para definir a orientação sexual das pessoas que sentem atração ou mantêm relações amorosas ou sexuais com pessoas do próprio sexo.

O primeiro termo descreve essa condição de forma neutra, enquanto o segundo, equivocadamente, tem uma forte carga pejorativa ligada à crença de que a orientação homossexual seria uma doença, uma ideologia ou um movimento político a que as pessoas aderem de maneira voluntária. Isto porque, somente em 1995, que o “homossexualismo” deixou de ser considerado um distúrbio psicossocial e, consequentemente, não consta mais no CID (Classificação Internacional de Doenças), sendo substituído o sufixo “ismo” pelo sufixo “dade”, que passou a significar “modo de ser”. Portanto, afirmamos que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão: reflete uma ideia de comportamento, ou modo de ser de alguém.

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Porém, à medida que o mundo todo caminha para compreender que Homossexualismo e Homossexualidade são termos similares – mas que na prática, são extremamente diferentes -, a linguagem cotidiana ainda apresenta o uso do termo pejorativo e patológico “homossexualismo”. Mas o que deve ser realmente levado em conta é que existe sim uma doença relacionada à homossexualidade: a tão famigerada homofobia.

Motivados pela linda luta por diversidade e pelo respeito ao outro, devemos inspirar reflexões que encontrem maneiras para abolir o preconceito. E como fazer? Que tal começarmos pelo início? Falar sobre sexualidade com as crianças, desde a primeira infância, já é um bom começo. Respeitando, claro, o desenvolvimento e compreensão de cada faixa etária – pois a orientação, transparência e educação salvam vidas. Assim, teremos crianças esclarecidas e capazes de se conhecerem melhor, respeitando seus desejos e os desejos do outro, e principalmente com abertura para conversarem com seus pais e tirarem eventuais dúvidas.

Sabemos que boa parte do tabu está ligado ao que as pessoas entendem quando ouvem “sexualidade”. Se o que vem à cabeça é “o ato em si” e vivências eróticas do mundo adulto, é compreensível que achem inapropriados, ou mesmo inaceitável, abordar o tema na infância. Mas o termo diz respeito à identidade, autoestima, afeto, relacionamentos e individualidade. E isso é o que deve ser esclarecido e disseminado. Afinal, nascemos e morremos sexuais, mesmo que nunca pratiquemos sexo na vida. Além disso, a sexualidade não depende da puberdade para florescer. Ela é um bem precioso que faz parte da nossa essência.

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Enfim, diante de todo o exposto, é possível concluir que a homossexualidade não é uma doença e nem um transtorno psicológico, e que por este motivo não existe razão em dispensar qualquer tratamento diferenciado aos mesmos, devendo todos nós dispensarmos tratamento igual, bem como os mesmos direitos e garantias que são dados a sociedade como um todo. Homossexualidade não é algo que possa ser “curada” com medicamentos. Muito pelo contrário, é algo natural. Não há qualquer problema ou desvio nisso.

A mudança do conceito “Homossexualismo” para “Homossexualidade” reforça a ideia de que ser lésbica, gay, bissexual, transexual, queer, intersexual, assexual ou pertencentes a grupos e variações de sexualidade e gênero (LGBTQIA+) não é doença. É apenas uma expressão da sua sexualidade. Uma pequena parte de quem se é. O importante é ser livre para ser quem você quiser. Afinal, temos aqui a manifestação do amor e ele é o sentimento mais puro e genuíno que podemos oferecer ao outro. Até mesmo porque a homofobia, comprovadamente e psicanaliticamente falando, gera doenças psíquicas que impactam na saúde mental e física de quem a recebe.

E se o preconceito, a intolerância e a discriminação são doenças da nossa sociedade, não podemos esquecer que a sociedade somos nós. Portanto, está em nossas mãos o poder de transformar o mundo, gerando o mais belo colorido, onde todas as formas de amor vençam o ódio. E já que qualquer forma de amor vale a pena, que possamos viver a liberdade potencializada pelo afeto e pelo desejo.

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