“BOY”, MONÓLOGO INTERPRETADO POR GIL HERNÁNDEZ, RETRATA A EPIDEMIA DA AIDS DA DÉCADA DE 90

“O QUE MAIS ME ATRAI NO PERSONAGEM, É QUE ELE TEM UMA MENSAGEM POSITIVA DE QUE A AIDS NÃO DESTRUIU A COMUNIDADE”, DIZ O DRAMATURGO
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01.11.2022

Leekyung Kim

Com interpretação de Gil Hernández, dramaturgia de Rogério Corrêa e direção de Isaac Bernat, o espetáculo “Boy” estreia dia 3 de novembro no palco da Galeria Café, em São Paulo, onde segue em cartaz até o dia 25 de novembro. O espetáculo nasceu da peça “De Bar em Bar”, escrita pelo próprio Corrêa, que reúne os monólogos de quatro personagens que viveram no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), quando, além da grande crise econômica e política, o país enfrentava o auge da epidemia de HIV/AIDS. 

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“Boy” é a versão expandida da história de um desses personagens, o garoto de programa Fernando. “Eu sentia que a história dele não cabia na peça. Ele não só descreve essa época do ponto de vista das pessoas LGBTQIA+, como viveu muito intensamente nesse período. Ele perdeu muitos amigos e viu a AIDS surgir logo depois da enorme liberação sexual, política e cultural que aconteceu depois do fim da ditadura militar”, conta Corrêa.

A trama conta a história de um garoto de programa que trabalhava em uma sauna gay desde os anos do governo Collor, tendo se relacionado até com figuras importantes da política. Em 2022, no aniversário de 30 anos do impeachment do presidente Collor, ele está no bar da sua sauna e relembra como aqueles anos impactaram a sua vida. O protagonista evoca várias memórias, entre elas a epidemia de HIV/AIDS e as pessoas queridas que perderam a vida para a doença.

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“O que mais me atrai nesse personagem é que ele tem uma mensagem positiva de que a AIDS não destruiu a comunidade, mesmo diante de toda a tragédia e todas as perdas representadas por aquele período. Foi preciso começar a se falar de gays, de sexo anal, de camisinha e de sexualidade. A comunidade LGBTQIA+ começou a se politizar e a se unir para lutar pelos seus direitos. E o personagem Fernando é a celebração da afirmação da sexualidade, da vida e da resistência da nossa comunidade”, acrescenta o dramaturgo. 

A peça, ainda segundo o autor, traça um paralelo entre a década de 1990 e o atual contexto do país. “Temos novamente um novo político de direita no poder, com uma história de fisiologismo, de corrupção, alguém menor que se apresenta como um defensor da maioria. Também temos uma doença que matou quase 700 mil pessoas graças ao descaso com a ciência. Claro que as doenças são diferentes, mas quero passar uma mensagem positiva para a comunidade LGBTQIA+, que está novamente sob ataque, de que podemos nos fortalecer neste período e sermos felizes, alegres e bem-sucedidos na vida, assim como o protagonista, apesar de todo esse risco de sofrermos retrocessos em nossas conquistas”.

Já o diretor Isaac Bernat, que fez parte do elenco da primeira peça no Brasil sobre a AIDS – o espetáculo “Por Que Eu?” (1987), dirigido por Roberto Vignati, conta que o novo trabalho também tem a missão de alertar as pessoas para o fato de que a doença continua infectando muitas pessoas.

“Quando fiz a peça nos anos 80, aprendi muito sobre a AIDS, porque tínhamos aulas e conversas com muitos cientistas e pesquisadores. Na época, sabia-se muito pouco sobre a doença e ainda se falava que a comunidade LGBTQIA+ era um grupo de risco, o que gerava muitos estigmas. Então, aprendemos que deveríamos falar, na verdade, sobre comportamento de risco e passamos a entender que qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode entrar em contato com o vírus”, afirma Bernat.

O diretor ainda conta que a encenação vai se basear na simplicidade. “Gil, que faz seu primeiro monólogo, vai estar ali conversando com o público. E ele vai transitar livremente por esse espaço, como se estivesse mesmo no bar da sauna gay. A proposta baseia-se na relação de proximidade com a plateia, de conversar, trocar ideias e contar histórias. Tenho desenvolvido em vários trabalhos que dirigi recentemente essa pesquisa em cima do épico e do narrativo, com influência do grande griot africano Sotigui Kouyaté, um mestre para mim. Claro que o dramático também aparece, mas queremos esse diálogo com o público”, explica.

E, além do texto de Corrêa, o diretor traz como referência para a encenação, obras como o seriado “Pose”, que retratada os bailes gays e a cena ballroomn nos anos 1980 nos Estados Unidos, e o trabalho do grupo de teatro e dança brasileiro Dzi Croquettes, ícone da contracultura que apresentava performances provocantes, sensuais e eróticas para falar sobre sexualidade e questionar o conservadorismo nos anos de 1970-80.

SERVIÇO

Espetáculo “Boy”

Onde: Galeria Café

Endereço: Praça Benedito Calixto, 103, Pinheiros – SP

Quando: 3 a 25 de novembro

Horário: quinta e sexta-feira às 21h

Quanto: R$ 50

Classificação etária: 18 anos

Duração: 45 minutos

Informações: através do site

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