A MODA DE ÉPOCA POR TRÁS DOS FIGURINOS DO OSCAR 2021 PONTUA TEMPOS E LUGARES DISTINTOS NA HISTÓRIA

TODAS AS OBRAS CINEMATOGRÁFICAS ESBANJAM PRIMOR E PRECISÃO; CADA PRODUÇÃO COM SUA ESTÉTICA PARTICULAR
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11.04.2021

Divulgação / Reprodução

Os cinco filmes indicados ao prêmio de melhor figurino este ano tem um pezinho no passado. De Mulan (cuja lenda se situa na China medieval), passando por Pinóquio e Emma (século XIX na Europa), até chegar ao início do século XX, com A Voz Suprema do Blues (anos 1920, em Chicago) e Mank (final dos anos 30, na Califórnia) se vão 1.500 anos da história do vestuário. Todas as obras cinematográficas esbanjam primor e precisão; cada produção com a sua estética particular. Abaixo analise detalhada de cada indicado ao Oscar 2021.

Emma

O filme inspirado no romance de Jane Austen se passa na Inglaterra do início dos anos 1800, quando a moda feminina sofre grande influência da França, recebendo o título de “estilo Império ou Regência”. Este movimento estético das primeiras décadas do século XIX – que se consolida também em outras áreas como arquitetura e mobiliário – é diretamente influenciado pela supremacia do Imperador Napoleão Bonaparte e sua charmosa esposa Josefina, em solo francês. A Grã-Bretanha neste período domina apenas a moda masculina, especialmente por conta das inovações que surgiram com a Revolução Industrial a partir de 1750, que desenvolveu a indústria têxtil e técnicas refinadas de costura e alfaiataria. Esta contraposição entre os dois países criou a expressão Moda Parisiense e Alfaiataria Londrina. E é este o cenário histórico por trás do filme Emma, da diretora Autumn De Wilde, cujo guarda-roupa recriado pela aclamada figurinista Alexandra Byrne, representa um momento especial para a moda européia, que, por extensão, influencia todo o vestuário Ocidental.

Os vestidos justos no peito, com cintura alta e mais soltos no resto do comprimento, tinham inspiração nas antigas estátuas gregas e romanas (encontradas em escavações arqueológicas nos países invadidos por Bonaparte). Eram produzidos em algodão com estampas florais e listras, mas também em tecidos mais caros e luxuosos que iam sendo criados com os novos teares mecânicos. As manguinhas eram levemente bufantes. As ladies inglesas normalmente usavam xales nos ombros ou rufos (golas de tule bastante amplas e vistosas) em temperaturas amenas, e spencer (casaquinho curto de veludo) ou capas nos meses de inverno. Na cabeça era moda um chapeuzinho enfeitado com fitas e plumas e para a noite era comum usarem tiaras elaboradas com pedras e metais preciosos. Complementado por bolsinhas pequenas e delicadas, o look de uma mulher na época de Emma era bastante feminino.

E O OSCAR DE MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO VAI PARA…

Já os homens vestiam usualmente o culote (uma calça justa) e a sobrecasaca: um casaco abotoado até a cintura e mais comprido atrás, com uma abertura que possibilitava andar a cavalo. A influência dos uniformes militares do exército napoleônico se mostrava em muitos botões que traziam elegância, juntamente com os sobretudos e as gravatas em estilo plastron (ou plastrão), que eram similares a um lenço amarrado no pescoço.

A figurinista Alexandra Byrne foi indicada 5 vezes ao Oscar e ganhou a estatueta pelo melhor figurino em Elizabeth – Era de Ouro, em 2007. Em Emma ela se mostra mais uma vez uma sumidade na área de vestuário histórico. A atriz principal, Anya Taylor-Joy, juntamente com o elenco feminino, parece às vezes revestida em belos papéis de bala – no sentido positivo e gracioso desta expressão, para assinalar uma obra de grande apelo estético.

Mank

O filme que conta a trajetória da roteirização do filme Cidadão Kane por Herman J. Mankiewicz, se passa no final dos anos 30, quando a indústria cinematográfica de Hollywood estava em franca ascensão. Dirigido por David Fincher, tem figurinos assinados por Trish Summerville, que traduziu lindamente o glamour da época de ouro do cinema. O protagonista Mank (Gary Oldman) é um tipo boêmio que veste ternos largos displicentemente, mas a atriz Marion Davies – interpretada por Amanda Seyfried – possui um guarda-roupa fiel às estrelas hollywoodianas, que apareciam nas telas em vestidos longos colados no corpo em seda e cetim, cheios de brilho, pele e penas. O verdadeiro figurinista deste período das décadas de 30 e 40 nos estúdios MGM foi Gilbert Adrian, que criava os reais trajes sofisticados de Marion Davies para os filmes, assim como para outros grandes nomes da época: Greta Garbo e Jean Harlow. Nesta produção Trish Summerville encarou um grande desafio em replicar o estilo de Adrian, um dos maiores figurinistas de cinema de todos os tempos.

A Voz Suprema do Blues

Um relato sobre um dia de gravação na vida da cantora estadunidense de blues Gertrude “Ma” Rainey (Viola Davis), no ano de 1927. Chamada de “Mãe do Blues”, Ma foi uma das primeiras artistas negras a assinar contrato com a Paramount, gravando entre 1923 e 1928 mais de 100 canções em (discos) singles. Com direção de George C. Wolfe e figurinos de Ann Roth – que venceu um Oscar pela indumentária de O Paciente Inglês, em 1996 – o filme se encontra no ritmo das casas noturnas de black music da época e traz na personagem principal looks extravagantes e coloridos, cobertos por pedrarias, bordados, brocados, plumas e paetês. O figurino do trompetista Levee (último papel de Chadwick Boseman antes da sua morte em agosto de 2020) traz uma leve e descolada mistura de estampas. Ann Roth, com seus atuais 89 anos, colocou em cena um pouco de sua memória pessoal ao abarcar os “loucos anos 20”, o que é digno de nota!

Pinóquio

Dirigido por Matteo Garrone e com figurinos de Massimo Cantini Parrini, a adaptação do clássico da literatura infanto-juvenil, As Aventuras de Pinóquio, ganha um live-action bastante denso. Publicado por Carlo Collodi originalmente em 1883, a história do boneco de madeira se passa num mundo algo fantástico, com vestimentas que lembram as usadas na Europa entre os séculos XVIII e XIX, muitas delas do próprio acervo de Parrini. O ponto alto das produções é o toque de conto de fadas nestes trajes, incluindo o de Pinóquio – papel de Federico Ielapi – e o de Geppetto, interpretado pelo ator e cineasta Roberto Begnini. O boneco que quer ser um menino e cujo nariz cresce quando ele mente, é sempre uma história bonita e triste, mas acima de tudo, encantadora.

Mulan

A versão atual live-action da diretora Niki Caro retoma o desenho animado lançado em 1998 pela Disney, que retrata a China da época medieval. Na lenda, a protagonista Mulan (vivida pela atriz chinesa Yifei Liu), filha de um guerreiro doente, finge ser homem para entrar no exército e servir o seu país no lugar do pai. A figurinista alemã Bina Daigeler teve que criar do zero quase 2 mil trajes levando em consideração uma estética próxima do vestuário da dinastia Tang, mas que oferecesse a possibilidade de movimento para a filmagem dos atores. As armaduras do exército imperial foram recriadas principalmente em couro e depois pintadas.

A MODA E O CENÁRIO CULTURAL

Os Guerreiros da Sombra foram trajados com tecidos leves em inúmeras camadas que eram assentadas com cintos e turbantes, garantindo a flexibilidade. O que chama muito a atenção nesta produção é o fato da equipe ter sido obrigada a encomendar tecidos de várias partes do mundo, por conta da necessidade de centenas de metros de seda, algodão, lã e linho – apenas fibras naturais –, o que trouxe peso e texturas reais para os figurinos do imenso elenco. Além de ser mais fácil envelhecer e sujar estes materiais orgânicos, de acordo com a figurinista-chefe. Um destaque imperdível: o vestido final de Mulan, que ganhou 12 metros de bordados coloridos, executados pela artesã britânica Cathryn Avison.

Se fosse pra levar em consideração a metragem de tecidos usada em cada filme, nós já saberíamos qual produção levaria a estatueta do Oscar 2021. A cerimônia acontece no dia 25 de abril.

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