Um manuscrito, ainda inédito, deixado pela escritora, poeta, feminista, desenhista, jornalista e militante Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) é o ponto de partida para “Pagú – Até Onde Chega a Sonda”. O espetáculo com direção de Elias Andreato e atuação de Martha Nowill – que também assina o texto, estreia em 1º de dezembro, em curtissima temporada, no Espaço Cênico do Sesc Pompeia, em São Paulo.
TARSILA DO AMARAL: A GUARDIÃ DO TESOURO NACIONAL
Em maio de 2018, a atriz e escritora Martha Nowill conheceu Rafael Moraes, um colecionador de arte, que lhe apresentou um manuscrito inédito de Patricia Rehder Galvão, a Pagú, escrito na casa de detenção em 1939, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Rafael havia comprado o manuscrito e outros objetos pertencentes à artista, de um leiloeiro, 20 anos antes.
Martha Nowill viu ali potencial para a realização de um espetáculo, mas havia dificuldade em transformar o texto de Pagú, tão denso, poético e pouco narrativo, em teatro. Ela se associou à produtora Dani Angelotti e juntas, o projeto começou a ganhar forma.
Martha, na coordenação geral, convidou Isabel Teixeira, sua parceira em projetos anteriores, para o processo de dramaturgia. Através de uma técnica desenvolvida por Isabel chamada “escrita na cena”, Martha desenvolveu uma escrita biográfica, na qual ela, mãe de gêmeos nascidos na pandemia, se misturava com Pagú e seu manuscrito. Desse processo surgiu a dramaturgia, assinada por Martha, que traz trechos do manuscrito original de Pagú, entrecortados por relatos pessoais dela mesma, resultando em um encontro improvável e cheio de pontos de diálogo entre mundos separados por 63 anos.
Em cena, os dois femininos dividem e se misturam no espaço, o da atriz e o de Pagú. As personagens compartilham temas como o machismo, a maternidade, o feminismo, angústias e processos criativos. Dentro destes temas, Martha desenha humor em seus relatos pessoais, com um olhar sarcástico e uma “lente de aumento” para os fatos cotidianos que ainda carregam heranças do patriarcado. Elias Andreato chegou ao processo para que com sua cuidadosa direção, e extensa experiência com solos, conduzisse a encenação.
Jornalista, feminista, artista, escritora e desenhista, Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) nasceu em uma família burguesa paulista, mas depois, seguindo as orientações do Partido Comunista se proletarizou e foi viver em Santos e no Rio de Janeiro. Dedicou boa parte de sua vida à militância política em Santos, São Paulo, Rio de Janeiro, além de ter viajado o mundo. Desde bem cedo, ela questionava os padrões patriarcais.
Pagú, apelido dado pelo poeta Raul Bopp, começou a escrever críticas contra o governo ainda na adolescência, aos 15 anos, quando se tornou colaboradora do Brás Jornal e assinava uma coluna sob o pseudônimo de Patsy. Sua estreia artística aconteceu em 1929, ao publicar seus desenhos politizados nas páginas da “Revista da Antropofagia”.
Apesar de Pagú só possuir 12 anos quando aconteceu a Semana de Arte Moderna, ela é considerada uma das grandes forças do Movimento Antropofágico – seu envolvimento começou sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Junto com Oswald, ela entrou para o Partido Comunista Brasileiro em 1931, quando foi presa pela primeira vez (ela foi presa mais de 20 vezes ao longo de sua vida). Ela e Oswald tiveram um filho, Rudá.
A autora fez importantes contribuições para o movimento feminista. No tabloide “O Homem do Povo”, por exemplo, questionava o papel da mulher na sociedade por meio de suas ilustrações. E no livro “Parque Industrial” (1933), denuncia mulheres exploradas por sua condição de gênero.
Publicou ainda o livro “A Famosa Revista” (1945), em colaboração com Geraldo Ferraz (com quem também teve um filho), e sua autobiografia “Paixão Pagu: A Autobiografia Precoce de Patrícia Galvão”, lançada em 2005 a partir de um texto até então inédito escrito em 1940. E “Safra Macabra”, uma coletânea de seus contos policiais escritos para a revista “Detective” em 1944, sob o pseudônimo de King Shelter, foi publicada em 1998.
SERVIÇO
Espetáculo “Pagú: Até Onde Chega a Sonda”
Onde: Sesc Pompeia
Endereço: Rua Clélia, 93, Pompeia – São Paulo
Quando: 1º a 16 de dezembro
Horário: terça a sexta às 20h30
Quanto: R$ 30 (inteira) R$ 15 (meia)
Classificação etária: 12 anos
Duração: 60 minutos
Informações: através do site
*15 de dezembro – sessão com intérprete de libras