“Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor”, disse o compositor austríaco Mozart. Parecia que a frase foi dita e jogada ao vento com destino certo, décadas depois, para os artistas plásticos Jullyanderson Carvalho, 33 anos, e João Paulo Pigosso, 28 anos, ambos de Goiânia.
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Um material inusitado, fita isolante preta, foi assim que a arte uniu os artistas. “Nos conhecemos em 2017 após eu ter visto as artes que o Ju fazia em paredes, tudo usando as fitas isolantes pretas. Me interessei e entrei em contato com ele para um orçamento, porém tivemos uma conexão tão grande com a arte que, a partir do encontro para planejar a ideia, começamos a desenvolver e desbravar as possibilidades e técnicas das artes com materiais adesivos juntos. Depois disso criamos o projeto de arte, que completará 5 anos agora em novembro”, explica João.
A técnica conhecida por tape art nasceu em meio aos grafites urbanos na década de 60, tornando-se muito popular nos Estados Unidos e Alemanha, no Brasil a expressão artística começou a ser aplicada no inicio dos anos 2000 – com inúmeras possibilidades de uso do material – durex, silver tape, fita colorida, fita de envelopamento automotivo e fitas escolares – as opções são infinitas. Com criatividade a mil por hora, determinação e paciência para lidar com um trabalho minucioso e demorado, Pigosso e Carvalho se tornaram referência no segmento no país.
“Em 2013 eu estava procurando referências para fazer uma arte na parede da minha casa, pra dar uma “cara nova” pra minha sala. Como não queria usar tintas eu pesquisei alternativas e encontrei a tape art, me apaixonei imediatamente”, diz Jullyanderson. “Quando conheci a tape art, através do Ju, eu fiquei muito empolgado com a técnica. Foi nostálgico, pois sempre gostei de grudar adesivos em todos os lugares que tinha oportunidade e agora estava vendo possibilidade de criar artes diferentes e únicas de forma manual”, complementa João.
Após 5 anos desenvolvendo o projeto, a habilidade na criação das obras se tornou freqüente. Em média uma ilustração repleta de detalhes demora 30 dias para ser finalizada. “Criamos técnicas diferentes para cada tipo de material adesivo e cada superfície de aplicação – criamos também muitas formas de acabamento, tudo para garantir a resistência e integridade das obras por décadas. Acreditamos que a maior dificuldade na execução de cada projeto está no foco e na dedicação. Tudo que fazemos exige calma, tranquilidade e muita atenção, e manter esse equilíbrio por horas e horas seguidas é muito desafiador, porém muito recompensador”, comenta Carvalho.
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Após o sucesso com sua arte, a dupla prepara uma exposição para outubro, em Goiânia, cidade natal de ambos, ainda sem data definida. O cliente que recebe a arte em casa, além de ter a sua encomenda, a parte de trás da ilustração são retalhos com material descartado, ou seja, forma-se uma outra arte de forma abstrata – ao invés de ser descartado no meio ambiente os artistas criaram essa alternativa sustentável. “Nossas obras abstratas são criadas a partir dos retalhos da criação da nossa arte, que seriam descartados no lixo. Fazendo com que a nossa técnica não gere resíduos prejudiciais à natureza”, diz João.
Recentemente criaram o projeto “Negras Douradas” que visa a ancestralidade e homenageia a negritude brasileira com fitas adesivas pretas e douradas – “A série foi criada depois de uma longa conversa que tivemos sobre ancestralidade, estávamos falando sobre como admiramos as mulheres negras e logo começamos a discutir sobre a importância e a preciosidade que elas têm no desenvolvimento da humanidade. Devemos muito respeito a toda essa ancestralidade negra que passou por situações abusivas e desumanas, escravizadas também para irem em busca do ouro, quando na verdade eles são a nossa verdadeira preciosidade”, explica Jullyanderson.
A dupla se prepara para fazer o lançamento de uma nova coleção com a temática indígena: “Gostamos de falar sobre o adesivo espelhado que usamos para criar a série, o escolhemos para gerar uma interação entre o observador e a obra, fazendo com que a gente se perceba dentro da arte através do nosso reflexo. Mostrando que estamos todos interligados de alguma forma”, complementa.
Quando questionados sobre o mercado da arte nacional, eles são pontuais: “Acreditamos que a arte nunca foi tão necessária quanto está sendo agora. Vemos que as pessoas estão abrindo os olhos para isso cada dia mais. A arte que existe para trazer beleza, amor, cuidado e reflexão tem o seu espaço no mercado e está sendo consumida”.
“Muitas pessoas questionam sobre a durabilidade das obras e a gente gosta de falar sobre isso para desmistificar algumas ideias. Além de usarmos materiais de alta qualidade, durabilidade e excelente aderência, criamos técnicas para acabamentos precisos que garantem a fixação de cada corte. Quando finalizamos a obra, nós fazemos uma selagem com verniz de alto solido para garantir que a arte durará por gerações”, finalizam.
