A cada tecla apertada, um estalo soava no recinto, dependendo da agilidade, uma sintonia de notas emanava querendo dizer algo, ou melhor, dizia. O papel com letras em alto-relevo permitia que além da leitura, você sentisse o poder das palavras entre os dedos, bons tempos que foram deixados para trás devido à evolução tecnológica, a poesia sonora deu lugar aos ruídos eletrônicos dos computadores. A nova era chegou.
Com um olhar criativo e aguçado, Hal Wildson, 29 anos, natural de Vale do Araguaia, interior de Goiás, mantém viva a sonoridade das teclas da máquina de escrever, mas em forma de arte. “A máquina de escrever é um objeto simbólico para a representação do ato de reconstruir memórias. Na datilografia consigo atravessar o passado e o presente através de milhares de palavras em construção, além disso, a máquina de escrever possui ligação com a carga poética e a importância da palavra escrita no meu trabalho, no corpo da minha pesquisa a palavra é o meu pincel”, comenta Hal.
Nascido em terra indígena invadida pelo garimpo explorador, vivência que o fez crescer diante de temas e debates importantes sobre a trama social brasileira. O artista investiga temas relacionados à memória, a incompletude humana e o esquecimento através dos aspectos da palavra, rememoração e consciência social.
“Desde cedo lidei com temas sociais como – pobreza, desigualdade, desestrutura e violência familiar. Fui criado por minha avó e encarei a vida adulta aos 14 anos, não tive nenhuma referência direta na família que levasse a ser artista, o que sempre me motivou na arte é o seu potencial de transformação da realidade a sua volta, vi a oportunidade de mudar o meu destino também. Através da arte eu contemplo a incompletude do que somos e denuncio o mundo injusto que criamos”, afirma o artista.
A pesquisa artística do artista se iniciou com a busca incessante pelo esquecimento, foi na tentativa de esquecer as marcas e os traumas de sua família que o trabalho de Hal rompe as paredes do ateliê e se revelam pro mundo como confissões e protestos. A sua arte transita de forma fluída entre a arte política e a poética existencial, desbravando as memórias autobiográficas e memórias sociais.
“Somos a perfeita dualidade daquilo que lembramos e esquecemos. Em nossas vidas individuais nem sempre podemos escolher o que esquecer ou o que lembrar, mas quando falamos de memória-social a memória se transforma em uma “arma” de poder. É através da memória que criamos um conceito de Brasil, ou melhor, criaram esse conceito e vivemos sob sua estrutura. Vivemos atualmente um conflito de interesses acerca da construção e reconstrução da memória e identidade do que é ser brasileiro, por isso conhecer nossa história é ser capaz de projetar um futuro que não simplesmente repita as injustiças do passado. Uma de minhas obras diz: “É na memória que plantamos a semente do passado”, é nisso que acredito”, finaliza.