MUITO ALÉM DE JOGOS SANGUINÁRIOS, “ROUND 6” DESTACA TRÁFICO DE ORGÃOS HUMANOS E SIMBOLOGIAS NOS EPISÓDIOS

ACUSADA DE PLÁGIO, A NOVA QUERIDINHA DA NETFLIX DIVIDE OPINIÕES DOS TELESPECTADORES COM A GANÂNCIA E DESESPERO DOS PERSONAGENS
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29.09.2021

Divulgação / Reprodução

Recém lançada, a série “Round 6” já é sucesso absoluto de público na plataforma de streaming Netflix, deixando para trás a terceira temporada de “Sex Education”. Com jogos perturbadores e sádicos, a trama sul-coreana joga holofote na ganância e desespero de um grupo de pessoas endividadas, fato real, que assombra milhões de pessoas no cenário mundial, que buscam melhorar de vida, passando por cima de tudo e todos para alcançar o próprio objetivo – incluindo matar o adversário que está em seu caminho. O objetivo dos jogos é ter um único vencedor que abocanhará o prêmio de 49 bilhões de wones (moeda sul-coreana), ou seja, R$ 221 milhões.  

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A série lembra em vários momentos o filme “Jogos Vorazes”, mas o diretor e criador Hwang Dong-Hyuk acrescentou jogos infantis para o massacre. O jogo inicia com o típico “batatinha frita 123” sendo disputado por 456 jogadores, se a sequência dos numerais relacionando o primeiro jogo com o número de competidores possui uma relação, ainda não ficou claro, caso tenha uma nova temporada, ficaremos atentos quando surgir os numerais 789, mas o fato é, se o jogador se mexer após a contagem da boneca gigante, ele é assassinado perante os demais na arena de jogos, passa para a próxima fase quem ultrapassar a faixa vermelha antes do cronômetro zerar. Devendo para agiotas, os participantes assinam um termo, caso não paguem a divida, autorizando os criminosos a retirar os seus órgãos.

“E se eu jogar esses jogos novamente como adulto? Achei que isso poderia ter um significado muito simbólico. Os jogos poderiam ser algo que eu costumava brincar quando era inocente, mas levar as conseqüências mais intimidantes de vida ou morte. A mistura desses fatores poderia criar uma ironia muito marcante”, explica Hwang em entrevista para o Yahoo!, ao escolher jogos infantis para o enredo da série.  

Round 6 vai além de uma narrativa cruel e sanguinária com jogos mortais, ela destaca o mercado ilegal e lucrativo de tráfico de órgãos humanos. Segundo informações da ONU (Organização das Nações Unidas), o mercado é a segunda prática mais lucrativa, seguindo o tráfico de armas. Durante o evento Assembléia da República, onde reúnem especialistas da área da saúde e justiça, a perita do Instituto Português do Sangue, Ana Pires da Silva abordou a expressão “turismo de transplantação” para ilustrar o caso dos enfermos, ricos, que vão a outro país, por exemplo, Paquistão, China ou Índia, comprar um órgão para que este lhe seja transplantado, abusando e vitimizando pessoas desfavorecidas, sem estudos e que vivem no limiar da pobreza. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a Índia, Paquistão e China são os países onde há mais turismo de transplantação, locais onde pessoas desesperadas não se importam de mutilar o seu corpo e vender um órgão a troco de dinheiro, segundo informações do site Público.

Entre os 456 participantes da trama, somente um é imigrante paquistanês, que está de forma ilegal no país, sendo enganado pelo patrão abusador e durante os jogos é enganado por um participante sul-coreano, que acaba perdendo a vida por sua ingenuidade e por acreditar na palavra do ser humano, outro fato que é bastante frisado na série – você ainda acredita nas pessoas? De forma rápida, porém reflexiva, a temática dos idosos e mulheres ignorados por uma sociedade jovem machista também é abordada na trama. “Eu quis escrever uma história que fosse uma alegoria ou fábula sobre a sociedade capitalista moderna, algo que retrate uma competição extrema de alguma forma semelhante com a competição da vida. Eu quis usar os tipos de personagens que todos nós já conhecemos na vida real”, disse o diretor à Variety.

Cada participante recebeu um cartão com uma simbologia similar ao do controle do game Playstation – quadrado, triângulo e um círculo – símbolos que estavam estampados nas máscaras dos “carrascos” trajando vermelho, cada um com sua função na competição. No controle da empresa japonesa, o quadrado refere-se a um pedaço de papel como se fossem documentos a serem acessados, o triângulo significa ponto de vista e a direção a seguir, o círculo simboliza a decisão positiva a ser tomada, exatamente os comandos que cada um segue no jogo seguindo as ordens do superior, a série não utiliza o ícone do X, que no videogame aborda a decisão negativa, ou seja, na série simboliza o fim do jogo para o participante.

Todos os envolvidos no show dos horrores devem usar máscara, exceto os competidores, e por nenhum motivo devem divulgar sua identidade, incluindo o líder, que se destaca por sua vestimenta sombria, caso isso ocorra, o individuo é assassinado por descumprir uma das principais regras do jogo. Por trás das competições, existe um grupo de empresários multimilionários norte-americanos que por diversão apostam qual das pessoas irá vencer o jogo sangrento. A união entre a Coréia do Sul e Estados Unidos fica nítida no contexto, já que na vida real, os países acabaram de reafirmar uma aliança no papel da segurança, paz e prosperidade do Indo – Pacifico, ou seja, a terra do Tio Sam continua ditando as regras do jogo de interesse mundial. O lançamento da segunda temporada ainda é uma incógnita, mas o desfecho da história nos dá todos os indícios de uma continuidade. As métricas pelas quais julgamos o status e o valor do outro é a cartada final, e uma questão fica martelando em nossa mente – Até que ponto podemos e devemos confiar no ser humano?

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