Rosa Maria Pereira Murtinho é uma atriz com um talento incomparável e carisma sem igual. Conhecida por Rosamaria Murtinho, nascida em Belém do Pará, terra do calipso e da castanha, chegou ao Rio de Janeiro para se tronar patrimônio da arte brasileira.
Em um bate papo agradável, entre um assunto e outro, a atriz interrompia a entrevista para opinar, por exemplo, sobre a Lei da Ficha Limpa, pois, durante a conversa, a TV do camarim estava ligada no Jornal Nacional.
Leia a entrevista completa:
Portal Pepper: Você nasceu em Belém do Pará. O que fez sua família partir ao Rio de Janeiro?
Rosamaria Murtinho: Na verdade minha família Murtinho é do Rio de Janeiro. Meu pai era engenheiro agrônomo foi trabalhar no norte, e como diria o ditado “quem foi ao Pará parou, bebeu açaí e ficou”. Ele se apaixonou pela minha mãe, ficaram noivos, ele voltou ao Rio de Janeiro, casou com minha mãe. Voltaram ao Pará, eu nasci e fui com 21 dias de vida para o Rio de Janeiro, em Ipanema. Hoje eu moro no Rio de Janeiro, morei treze anos em São Paulo.
PP: Você morou nos Estados Unidos durante um ano. O que foi fazer nas terras do Tio Sam?
RM: Eu ia estudar Direito, terminei o ginásio por lá. E voltei em seguida para o Brasil.
PP: Como nasceu o interesse pelo teatro?
RM: Meu irmão tinha um teatro em Ipanema, era um grupo que fazia teatro amador, inclusive Paulo Francis fazia parte desse grupo. Uma das meninas ficou doente, e eu sempre ia ao ensaio, mas nunca tive sonho de entrar no palco. Ela adoeceu, e o Paulo Francis disse, “Murtinho não tem ninguém para o lugar, coloca tua irmã mesmo, se não a gente não estreia”. E eu nunca mais sai.
PP: Foi ai então que você se apaixonou pelo teatro?
RM: Gostei do teatro sim, mas o teatro me escolheu. Apaixonada mesmo eu sou por dança, por balé. Se eu pudesse eu seria bailarina, mais do que atriz, sem dúvida. Quando eu tinha entre 13 e 14 anos eu tive uma lesão no joelho, deixei ai fui viajar, depois entrei no teatro e nunca mais. O teatro me conquistou. Até eu fico um pouco com uma inveja branca, quando as pessoas dizem a única coisa que eu gosto da minha vida é estar em cena. Eu fico olhando, meu Deus do Céu tem tantos objetos de prazer na minha vida, que atuar não é o único. Eu tenho uma vida pessoal, interior muito boa, pra ficar dependendo de coisas só externas.
PP: Então entre teatro e dança, você escolhe a dança?
RM: Com a dança, sem dúvida.
PP: No inicio da carreira, você foi trabalhar em Portugal, como foi essa experiência?
RM: A Maria Della Costa me convidou e eu fui, foi super interessante, a televisão no Brasil estava nos primórdios ainda. O Sandro Polônio, marido da Maria, me viu trabalhar no teatro no Rio, com o grupo do meu irmão, eu estava lá e me convidou.
PP: Você conheceu o Mauro Mendonça na década de 50. Em qual trabalho?
RM: Numa peça do Abílio Pereira de Almeida, Rua São Luís, 27, oitavo andar. A peça era aqui em São Paulo, eu vim pra substituir uma amiga, a Verônica que quebrou o pé. O Abílio tinha me visto na Maria Della Costa, já sabia de mim, e me levou pra trabalhar no TBC. Este ano comemoramos 53 anos de casamento.
PP: 56 anos de casados. Como é a convivência?
RM: Foi bom, que passamos oito anos separados, e deu pra valorizar.
PP: Você é mãe de três filhos homens, sentiu falta de ter uma filha?
RM: Senti, sempre. Tenho quatro netas e um neto. E tenho minha nora querida a Juju, que é casada com o Maurinho, Mauro Mendonça Filho, inclusive ele me dirigiu na minissérie O Astro. E meu outro filho está fazendo a trilha sonora para a novela Fina Estampa.
PP: Você prefere atuar em cinema ou televisão?
RM: Eu atuei em um longa só. Fiz uma participação em outro também. O primeiro filme que eu fiz eu ganhei um kikito [prêmio máximo concedido no Festival de Gramado] com o 1 de abril, da Maria Leticia. Gostei muito de ter participado. Eu tive azar de começar no cinema quando houve aquele problema no cinema na década de 90.
PP: Você pretende voltar ao cinema?
RM: Se tiver um papel pra bruxa de repente. [muitos risos]
PP: Qual papel você adoraria interpretar e qual marcou mais sua carreira?
RM: O papel que marcou mais, a gente sempre diz que foi o último. Mas no teatro gostei muito de ter feito “Pequenos Burgueses”, “O Abre Alas” da Maria Adelaide Amaral, “Isaurinha Garcia” e agora estou fazendo com a Natália Timberg um maravilhoso, “Um sopro de vida” a gente vai 2 de março Limeira e depois Piracicaba. Eu gostaria de ter feito “Um Bonde Chamado Desejo”, mas agora não tenho mais idade pra isso.
PP: Está prestes a completar 80 anos de idade, qual é o segredo da sua vitalidade?
RM: Não pensar muito na idade, em velhice. Idade não faz mal. Jovens fiquem velhos. A coisa chata da vida é a morte.
PP: Qual palavra te define?
RM: Eu acho muito difícil eu me definir. Ou você fica presunçosa e fala coisas maravilhosas, ou você fica com a alta estima baixa, e se deprime. Eu deixo os outros me analisarem. Eu posso dizer que sou uma pessoa leal com os amigos. Talvez lealdade seja algo marcante para o escorpião, eu tenho uma ética com os amigos que eles gostam muito.