“Processar comediante é ridículo” diz Evandro Santo

O humorista enfrentou grandes barreiras para atingir o sucesso
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09.06.2015

Divulgação

Evandro Márcio dos Santos, conhecido como Evandro Santo, ou simplesmente o Christian Pior do programa Pânico na Band. Nascido em Belo Horizonte, em Minas Gerais, veio para São Paulo fugido da família e se tornou um dos grandes humoristas do país.

Leia na íntegra a entrevista apimentada com o ator.

Portal Pepper: Até os 6 anos de idade você morou com os seus tios, em seguida sua mãe passou a criá-lo. Porque houve essa mudança?
Evandro Santo: Minha mãe não tinha condições de me criar, era mãe solteira, imagina ela nessas condições em Minas Gerais, nos anos 70? Meu avô não queria que eu nascesse, foram três tentativas de aborto, isso é sério. Quando nasci ela me deu pra minha tia-avó me criar, então até os meus 6 anos, eu achava que minha tia Luzia era minha mãe, e que meus quatro primos fossem meus irmãos. Quando minha mãe conseguiu dar um jeito na vida, ela me buscou e me levou pra Uberaba. Foi um grande choque.

PP: É verdade que saiu de casa porque sua família te aceitava como gay?
ES: É uma série de fatores, eu estava com 14 anos, era hiperativo, tinha o fato de eu ser gay, minha mãe tinha acabado de conhecer um cara que ia ser meu padrasto. Você junta tudo isso, sua mãe querendo se arrumar na vida, padrasto novo, um filho hiperativo e gay, numa cidade como Uberaba, não dá. Chegou ao ponto que ela me disse que não me queria desse jeito dentro de casa. Então eu fui embora, eu sempre tentei fugir de casa, primeiro foi aos 9 anos, depois aos 11, e só com 14 anos eu consegui.

PP: O Programa Pânico fez um reality chamado “Em Nome do Pai” para tentar achar seu verdadeiro pai. Conseguiu achar?
ES: Não consegui, não sei quem é, não sei a cara, não sei o nome, minha mãe também não fala. Não sei nada sobre ele. Quando pensaram que tinham encontrado o meu pai, o pessoal do programa abriu o exame de DNA no palco. Eu cheguei achar que esse senhor era meu pai.

PP: Quando você chegou a São Paulo passou por muitas dificuldades e pediu ajuda para travestis. É verdade?
ES: Eu morei com uma travesti, trabalhei como modelo vivo, vendia cueca para marca de um amigo meu, vendi brigadeiro e fazia um monte de coisa. Comecei a fazer dança e ai tudo começou a melhorar. Entrei no humor muito cedo, aos 17 anos fazia telegrama animado. Ou seja, foram 2 anos de ‘perrengue’.

PP: É verdade que você foi ajudado por um assaltante?
ES: O primeiro cara que eu conheci em São Paulo foi um assaltante, quando você cai numa cidade grande como esta, não vai ser uma pessoa de família que irá te ajudar. Quem vai te ajudar são os travestis, ladrão, traficante ou o cara de rua, são pessoas que estão na mesma situação que a sua.

PP: Você teve um romance com esse assaltante que te ajudou?
ES: Tive um ‘casinho’ com ele durante duas semanas, só para pagar a ajuda. Nada é de graça nesse mundo (risos).

PP: Como você descobriu que tinha vocação para o humor?
ES: Um amigo meu me indicou para uma empresa chamada “Telegrama e Alegria”, e disse a gente se veste de algumas coisas, entra na festa, para tudo e faz todo mundo rir, em 15 minutos você faz o trabalho e ainda ganha o que seria hoje R$ 80, eu acho que seria isso. Meu primeiro telegrama foi numa concessionária na Cantareira, mas eu não fiquei 15 minutos, ficava 30 a 40 minutos inventando piada, fui desenvolvendo um estilo muito próprio. Tinha preguiça pra fazer teste para comercial, eu achava um saco, aquele bando de atores metidos, sempre tinha algum que era amigo da produtora e conseguia pegar o comercial. Eu ia para pegar o cachê teste de R$ 30.

PP: Qual foi o seu primeiro trabalho na televisão?
ES: Putz! Foi figuração, fiz inúmeras, tinha gravação que só aparecia minha orelha, foi numa novela no SBT que tinha a Ana Paula Arósio, não me lembro agora. Depois fiz plateia, fiz bastante para o Programa do Jô, Silvia Poppovic etc.

PP: Você já trabalhou na balada Trash 80, em São Paulo?
ES: Foi uma época mágica, trabalhei 2 anos lá, de 2003 a 2005, ficava na porta da balada com a personagem “Janeide” era uma ‘bregaqueen’, tudo que uma drag queen quer de glamour, o personagem fazia o contrário.

PP: Como recebeu o convite para entrar no Pânico na TV?
ES: A Andreia que trabalha comigo até hoje era de um grupo de humor chamado “TPM”, um dia fiz uma participação no grupo dela, ficamos amigos, montamos até algumas peças, até que ela me disse que o programa Pânico na rádio estava sempre chamando algum comediante desconhecido para ser entrevistado, ela mandou meu material para eles, ligaram para o Diogo Portugal perguntando se eu era bom mesmo, o Diogo confirmou e me chamaram para a entrevista, quando terminou o Emilio (Surita) me fez o convite para fazer um personagem da minha peça no domingo, fiz o Percival , um terapeuta sexual, e não deu em nada, três semanas depois me ligou para fazer o casamento da Wanessa Camargo, depois fui gravar o Fashion Rio e o SPFW com a Sabrina Sato e ai que rolou meu primeiro contrato de 6 meses, e estou até agora com eles.

PP: O seu personagem Christian Pior foi inspirado no estilista Christian Dior?
ES: Na verdade o Emilio Surita queria alguém para fazer a cobertura do casamento da Wanessa Camargo, ele queria um cara que comentasse as roupas dos famosos. Ele queria fazer as avessas do tapete vermelho.

PP: O personagem atinge todas as classes sociais?
ES: Por causa da ascensão atingimos agora mais a classe C. O legal de tudo isso é que eu faço a brincadeira com os entrevistados, mas também me incluo nela, eu não me excluo da brincadeira.

PP: Como é ser considerado um dos melhores humoristas da atualidade? O que passa na sua cabeça?
ES: Tem muita gente boa. Eu agrado a um tipo de gente, a um tipo de humor, outras pessoas eu não agrado tanto. Quando você está escrevendo ou criando algo, você não para pra pensar, eu sou um grande humorista ou um grande cara. Eu fico preocupado em render matéria, em fazer o povo rir. Quando você chega lá, você não sente, porque está trabalhando demais igual a um corno. Eu sou um operário do humor.

PP: Você prefere a televisão ou um show de stand up comedy?
ES: Um show de stand up você consegue vê a reação na hora, quando você faz televisão, você imagina que tal coisa vai funcionar, que as pessoas irão rir daquilo.

christian pior

PP: Já levou algum processo por algum personagem que irritou alguém?
ES: Já. Eu não, o Pânico na Band. Foi aquele autor de novela [Walcyr Carrasco], mas também foi o único processo que levei.

PP: “Aquilo não é piada é ofensa”, essa frase você disse em entrevista a Ilustrada contra o humorista Rafinha Bastos. O que houve entre vocês?
ES: Saiu na Folha Online que eu estava sendo sondado pela Rede Record, o Rafinha Bastos nunca me seguiu no Twitter, não curte minha fanpage no Facebook, até ai tudo bem, foi só sair essa noticia que ele escreveu no Twitter: “Agora o Evandro Santo vai pra Record, 10% do salário dele vai para o bispo, ou seja, vai colocar só a cabecinha na bunda dele”. Eu respondi na mesma hora, além de sua piada ser digna de processo, porque tanto interesse no cú alheio. Ele tirou a frase dele. Eu não tirei a minha. Não vou processar ele, processar comediante é ridículo.

PP: Você pretende algum dia sair do Pânico?
ES: Tenho algum tempo de contrato pela frente ainda. Eu to bem lá, estou numa fase boa, tenho anos de salário garantido.

PP: O que não pode faltar no seu Ipod?
ES: Madonna, Marina Lima, Prince, George Michael, Rihanna acho muito boa, ela não faz música, ela faz hit. Gosto da Beyoncé, Diana Ross, meu universo vai de Byafra a Byork. Sou eclético. Gosto de Gilliard, Amado Batista, eu não nasci ouvindo Frank Sinatra, nasci ouvindo Zé Luiz e Fábio Jr.

PP: Qual é o seu estilo na moda?
ES: Estou na fase calça Adidas. Eu tenho umas dez, tem branca, preta, roxa, saio da rádio, vou pro pilates, dura o dia inteiro, fácil de colocar e fácil de tirar, fiquei quase quatro meses sem usar jeans nenhum. Adoro bermuda, camisetas, eu me produzo mais pra gravar.

PP: O que você assiste na televisão?
ES: Vejo muito seriado. Na televisão aberta só assisto Pânico na Band. Pra você ter uma ideia assisti à novela Avenida Brasil pela internet. A última novela que eu vi na TV foi Meu Bem, Meu Mal.

PP: Você tem um lado Cult, não é mesmo?
ES: Não. Tenho um lado de adolescente pobre que não tinha dinheiro para comprar as coisas e só agora posso comprar o que desejo. Até hoje compro gibis da Turma da Mônica, sou viciado nos personagens da Marvel. Eu leio muito gibi.

PP: O que você não perdoa?
ES: Traição até que eu perdoo, se ela for admitida. Eu não gosto de gente mau caráter, pessoas que te esfaqueiam pelas costas, que puxa tapete dos outros. Isso não dá, isso é muito forte.

PP: Pimenta pra mim é…
ES: Refresco. Eu gosto de pimenta. Na vida apimentar é ter história pra contar, não pode ter medo de pagar mico, não pode ter medo de cair, de vomitar, de passar mal, brigar, dar barraco, eu odeio as pessoas que pregam o equilíbrio total, a felicidade a qualquer custo, acho isso uma cafonice, tem dia que você está bem, tem dia que não. Pimenta pra mim é isso.

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