PEITO É CORPO: A HIPOCRISIA DAS TARJAS

A HIPERSEXUALIZAÇÃO DOS SEIOS FEMININOS DIFICULTA A ACEITAÇÃO DO CORPO E DO “SER MULHER”, DA ADOLESCÊNCIA À IDADE ADULTA
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16.04.2021

Reprodução / Janaina Tschape / Luiza Baldan

Mulher, sabe a sensação de tirar a camiseta e sentir o vento batendo nos peitos ao correr pela rua? E o prazer de sentir o calor do sol da manhã nutrindo os mamilos na praia? Não, não sabemos. Ter peitos e sair nas ruas sem querer ser julgada significa deixá-los presos o dia todo. A estrutura que fica na parte frontal do corpo, que difere em tamanho, forma e volume, não pode ser vista. A hipersexualização dos seios femininos nos proíbe de sentir e vivenciar nosso próprio corpo.

Nas redes sociais a régua é violenta, depois que a influenciadora plus size foi censurada por postar uma foto em seu Instagram, com as mãos na frente dos seios, e ter questionado o fato de ser uma imagem parecida com publicações de mulheres magras, a rede social alterou sua política sobre exibição parcial de seios e assumiu, em nota, a gordofobia. A publicação de mamilos com estereótipos masculinos continua liberada pela empresa. O que faz alguns mamilos serem proibidos e outros não? O que faz um ser considerado mais “sexy” do que outro? 

Em uma campanha sobre a prevenção do câncer de mama, uma agência publicitária brasileira usou seios de homens para driblar a censura digital e assim alertar sobre a importância do autoexame, apesar do índice em mulheres ser mais alto. Tamanho tabu!  

MENSTRUAÇÃO: O SANGUE É VERMELHO

A hipersexualização dos seios femininos dificulta a aceitação do corpo e do “ser mulher”, da adolescência à idade adulta. O movimento de esconder-se é tanto, que qualquer sinal na camiseta da escola já é assustador. Depois vem o tamanho cobrado, cuidado com as roupas pra não marcar, a imposição dos sutiãs, a preocupação com flacidez e assim por diante. Como esconder-se para não ser olhada como objeto de desejo? A postura tenta, fecha, e chega até a ser afetada ao se curvar. O movimento é contido, para não balançar e não chamar atenção, mas não tem como, o existir-mulher nessa sociedade  já balança estruturas e soma forças para peitarmos o mundo e os olhares indesejados.

Usar uma regata, colo à mostra, bicos visíveis, isso não deveria ser nada mais do que a apresentação de um corpo no espaço, não um incômodo. Em “Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta”, filme de Ammy Poehler, nova produção da Netflix, uma das personagens (contém spoiler) vai de regata para a escola, assim como a colega, porém ela é repreendida pela diretora que a pede para trocar de blusa para não “provocar” os meninos, isso porque ela tem seios maiores que outras meninas da turma.

“A repressão sexual é uma das maneiras de controle do corpo feminino e a repulsa e perseguição sistemática ao seio desnudo é emblemática desta repressão”, escreve Pamela Oliveira no artigo “TETA: Os papéis simbólicos do seio desnudo na sociedade brasileira urbana atual” da Universidade de São Paulo. Ela traz uma discussão sobre a representação simbólica do seio no Ocidente, já que esse simbolismo muda de lugar pra lugar, em algumas culturas da África e do Pacífico Sul, por exemplo, os seios femininos andam descobertos desde os primórdios e os povos destas localidades não cultivam o aspecto erótico

No filme brasileiro “Alice Junior” – vencedor do prêmio Felix de melhor direção e júri popular – uma cena é marcante: a festa rolando ao redor da piscina, tiram a roupa de Alice a força, mostrando grosseiramente seu Lib e jogando ela na água sem a camiseta. Impossível não sentir vontade de mergulhar junto. Quando de repente, as meninas pulam sem a parte de cima do biquíni para apoiá-la. Será que sou menos mulher por ter menos peito? 

E PRA VOCÊ, O QUE É SER MULHER?

A amamentação em público é outro desafio, “basta colocar um paninho”, um dos inúmeros comentários que causam constrangimento em muitas mulheres, que condena a função primária das mamas e denuncia uma sociedade que só enxerga os peitos como objeto sexual. “Separar o papel sexual do seio de seu papel maternal tem sido uma difícil tarefa para as mães brasileiras, que se articulam através de encontros de amamentação coletiva, em páginas na internet, compartilhando experiências e denunciando a opressão para que se evidencie essa distinção”, acrescenta Paola.

Em meio a tanto tabu vale a pena visitar a galeria viva contínua “Cem Peitos”, produzida por Hysteria, atualizada toda semana até chegar a centenas de obras artísticas protagonizadas pelos seios. Outra visita interessante, a página @genderless_nipples que desafia a lei das tarjas e expõe mamilos de homens e mulheres no Instagram, formando um mosaico de mamilos.  Não dá pra esconder o tempo todo, quando pulamos, os peitos pulam também. É natural. É pele, glândula e gordura. Gordura é um dos tecidos que compõem o corpo e que balança. Balança os tecidos para peitar a estrutura patriarcal que tenta nos abafar. Por isso, quando puder, tire a camisa e abra o plexo, como diz a dançarina Thais Rosa: “Uma mulher que enfrenta o mundo de peito aberto é uma mulher perigosa para nossa sociedade”.

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