“A DOENÇA DO OUTRO” FAZ UMA ANÁLISE DA HISTÓRIA SOCIAL DA AIDS E, AO MESMO TEMPO, CELEBRAR A VIDA

RONALDO SERRUYA UNE INFORMAÇÃO E TEATRALIDADE EM UM SOLO NO SESC IPIRANGA, EM SÃO PAULO
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11.11.2022

Jonatas Marques

“A Doença do Outro” recebeu de seu criador, o ator e dramaturgo Ronaldo Serruya, várias designações: peça-manifesto, palestra performativa, conferência artística, construção ético-estética de um depoimento, mas segundo ele próprio, é uma celebração à vida, antes de tudo. O solo, interpretado pelo próprio autor, coloca em cena a história social em torno da Aids, e sua relação com o diagnóstico recebido em 2014. A peça, que se consolida como uma abordagem sensível para a produção artística em torno do tema, ganha temporada agora no Sesc Ipiranga, em São Paulo, de 11 de novembro a 11 de dezembro. Esse texto foi vencedor do 7º Edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo, em 2019. 

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“O que a peça faz é construir um discurso a partir do nosso tempo, tratar sobre HIV/AIDS em 2022, com tudo o que foi produzido ao longo dos 40 anos (desde que o vírus do HIV foi identificado)”, revela Ronaldo Serruya sobre a abordagem do trabalho. “Nós honramos um legado de luta para que chegássemos até aqui, mas celebramos a vida em cena”, completa. 

“Mas o que define um corpo como o meu não se vê a olho nu. Um vírus não se vê a olho nu. HIV não se vê. Não está à mostra. Não é perceptível, a princípio. Mas nem sempre foi assim. Teve um momento nessa história toda. No princípio dela. Durante algum tempo dela, que era impossível, em meio a tantas mortes envergonhadas e silenciosas, passarmos despercebidos. Tínhamos uma marca. Tínhamos uma peste para chamar de nossa. Mas as histórias que duram se transformam no tempo” – Trecho de “A Doença do Outro”.

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Dirigido por Fabiano Dadado de Freitas, o espetáculo debate preconceitos, estigmas e, acima de tudo, quebra o silêncio sobre a vida de pessoas portadoras do vírus. “O silêncio não nos protege porque nos escondemos. Se não falo, eu me preservo, mas ao mesmo tempo fico invisível. Mesmo após tantos anos, décadas, a regra do silêncio sempre permaneceu. O desejo da peça é de que um dia ninguém mais precise se esconder nesse armário do HIV, que não precisemos mais de uma lei que defenda o anonimato – lei que defendo porque ainda enfrentamos muito preconceito”, coloca o ator. 

Na sua construção do texto, Serruya tem como ponto de partida algumas fontes essenciais: a obra “A Doença e Suas Metáforas”, da ensaísta e filósofa estadunidense Susan Sontag, que propõe uma análise sobre a história social da doença e como a sociedade enxerga um corpo doente; conceitos do feminismo negro e da teoria queer também aparecem sempre no sentido de pensar como os conceitos de um corpo diverso vão se formando; por fim, há relatos autobiográficos do próprio autor e perfomer da cena, que vive com HIV desde 2014. 

Neste solo, a direção coloca a teatralidade e a interatividade unidas: os temas dessa “conversa”, como diz o ator, se apresentam em uma série de jogos com a plateia, permeados pelo videografismo presente em projeções em vários locais, inclusive no figurino.  

“A Doença do Outro” integra a programação do Teatro Mínimo, criado em 2011, pela equipe de programação do Sesc Ipiranga. Depois de três anos sem programação por conta da Covid-19, em outubro, o espaço voltou a receber espetáculos teatrais que discutem a experimentação das linguagens cênicas, além de aproximar fisicamente o público dos artistas, deixando a experiência mais intimista.

Ronaldo Serruya e Fabiano Dadado de Freitas participam de uma conversa no dia 27 de novembro, das 15h às 16h30, na Área de Convivência da unidade Ipiranga, dentro do Projeto Contato, organizado pelo Sesc-SP, para estimular conversas que despertem o autocuidado e o cuidado mútuo, no intuito de promover a saúde sexual e a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST). 

Na conversa, os artistas apresentam uma análise dos discursos artísticos e produções de narrativas que, ao longo da história da epidemia, tiveram o HIV/ AIDS como recorte temático. 

A ideia é traçar uma história social da AIDS por meio das múltiplas linguagens e artistas das mais variadas searas que se debruçaram sobre a questão, além de traçar novas políticas de linguagem para pensar o HIV hoje, perpassando por autores e artistas como Susan Sontag, Michael Foucault, Preciado, Herbert Daniel, Caio Fernando Abreu, Leonilson, assim como as ações performativas do lendário grupo de ativistas ACT UP, entre outros.

SERVIÇO

Espetáculo “A Doença do Outro”

Onde: Sesc Ipiranga

Endereço: Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga – São Paulo

Quando: 11 de novembro a 11 de dezembro

Horário: sexta às 21h30, sábado às 19h30 e domingo às 18h30

Quanto: R$ 30 (inteira) R$ 15 (meia)

Classificação etária: 14 anos

Duração: 60 minutos

Informações: (11) 3340-2000 ou através do site

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