Horário Negro
Mais uma vez o comportamento da negritude em horário nobre ganha visibilidade negativa em um reality show. Batemos com a cara na porta. Porém, o que esperar de um programa que junta os cancelados e as canceladas da vez para se exporem e assim tirar a prova de quem de fato são?
Uns aproveitam a oportunidade para limparem a imagem. Outros só consolidam o que a mídia tanto evidencia. Nego do Borel foi o alvo do momento. Não estou passando pano para ele, de jeito nenhum, mas reitero que precisamos aprender que tem uma coisa que é maior que raça, religião, gênero, idade, classe social e deficiência: é o caráter.
É tão óbvio que parecemos esquecer isso. Há mau-caratismo em todo lugar. O machismo atinge tanto brancos como negros, castiga tanto mulheres brancas quanto mulheres negras e atormenta desde sempre a comunidade LGBTQIA+ e héteros, que são moldados em uma masculinidade frágil e tóxica.
Ao mesmo tempo, não somos inocentes, pensando que a causa da encrenca toda é apenas o machismo. O racismo está ligado a esta situação também. Vemos homens brancos que agem de forma intimidadora com as mulheres, sem respeitar o espaço alheio e pensam que a insistência deles vai furar a resistência delas, e o pior é que muitas vezes, fura. É seletiva a escolha de quem permitimos ser escroto.
A quem é concedido o assédio? A quem permitimos que ultrapasse os limites mesmo nos incomodando?
Falando por Falar
O Abecê da Liberdade que continua nos aprisionando em ensinamentos equivocados, alimentando a ignorância do povo e sustentando o sistema escravocrata que se diz abolido. O livro infanto-juvenil escrito pelos autores brancos, José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, é um desserviço à educação. O problema não está somente na escrita branca, mas numa escrita sem pesquisa e que ao tentar contar nossa história, sempre busca o olhar do opressor para justificar suas ações e aliviar a culpa da branquitude.
Luiz Gama foi um célebre advogado do século 19, para conhecer sua história, vale a leitura do meu texto.
NEM SÓ DE IMPERADOR SE FAZ A HISTÓRIA
Onde já se viu achar engraçado crianças aprisionadas, muitas sem de seus pais, em um porão de navio que só exala mau cheiro, se divertirem brincando de escravos de Jó enquanto se lembram que são escravos de verdade e vão sofrer em uma terra estrangeira? Quem faria uma piada desta com as crianças sobreviventes do Holocasto?
A Negação do Brasil
Após 25 anos de Malhação, teríamos a alegria de ter dois roteiristas negros, nos dando o prazer de nos vermos nas tardes da TV, com o anúncio de um elenco, pela primeira vez, 70% de artistas negros e negras, recebemos a bomba de que o projeto foi cancelado. A vontade de ser feliz vai ficar guardada mais um pouco.
Quando será que teremos um espaço na TV aberta onde indígenas e negros/negras são os protagonistas de seus trabalhos?
Humor Nega
Morre aos 90 anos, Marina Miranda, a primeira humorista negra que ganhou destaque na TV brasileira. Mas lembramos dos nossos?
Comunidade Denegre
Samuel Vicente, de 17 anos, e Willian Vasconcelos, de 38, foram mortos numa ação da polícia militar, na zona norte do Rio de Janeiro.
Mais um guri.
Menos um guri.
Dia 14
No dia seguinte de decretado a abolição da escravatura, nasceu o racismo. Até então, à população negra foi vedada as possibilidades de viver com cidadania, mas no dia 14 de abril de 1888, a ameaça surgiu com a liberdade e as correntes passaram a ser outras.
O futuro dos pretos não depende dos brancos, mas sim de como nos tratamos uns aos outros. Malcom X disse: “Não estamos em menor número, estamos desorganizados”.