O dia 19 de fevereiro marca os dois anos da morte de Karl Lagerfeld, um dos criadores ícones da moda mundial. Mais conhecido pela direção criativa da Chanel, o estilista de personalidade forte e enigmática emprestou o seu talento para várias outras grifes internacionais – além da sua marca homônima KL – atuando também como fotógrafo, ilustrador, diretor de arte e editor. Um multiartista cujo olhar único para a moda, arte, cultura e o comportamento deixou um vácuo de estilo e sagacidade para as gerações que virão. Felizmente seu legado ficou entre nós.
![](https://portalpepper.com.br/wp-content/uploads/2021/02/autoretrato-karl-lagerfeld.jpg)
Paris, 1990. Minha agência de modelos me envia para o casting do próximo desfile da grife Karl Lagerfeld. Depois de passar por várias pré-seleções com assistentes, em uma enorme sala com centenas de manequins que tinham o mesmo tipo físico que o meu, eis que vou chegando cada vez mais perto do kaiser – o “rei” alemão já dava as cartas na capital da moda há pelo menos 35 anos. A figura daquele homem grisalho e bastante robusto (sim, ele ainda era um senhor bem acima do peso nos anos 90), de rabo de cavalo e óculos escuros em um ambiente fechado, trazia ao mesmo tempo as sensações de curiosidade e ansiedade. Quem era do métier sabia muito bem da importância mundial daquele criador, e trabalhar com ele era um sonho para qualquer modelo. Infelizmente eu não consegui ultrapassar o penúltimo grupo de selecionadas e fiquei com “água na boca” por exatos 15 anos até ser recebida por ele na Maison Chanel, em 2005, para as provas de roupa da peça Mademoiselle Chanel.
![](https://portalpepper.com.br/wp-content/uploads/2021/02/karl-lagerfeld-1990-681x1024.jpg)
Nascido em Hamburgo em 1933, em uma família bem-sucedida, Karl Lagerfeld desde cedo teve acesso à alta cultura. Nos anos 50, já em Paris, ganhou o concurso da Secretaria Internacional da Lã pelo desenho de um casaco, que foi então produzido pela renomada casa francesa Pierre Balmain. A partir daí foi convidado pelo próprio Balmain a ser seu assistente e entrou numa espiral de grande expressão, trabalhando como diretor de estilo ou freelancer em várias etiquetas internacionais, como Jean Patou, Chloe, Charles Jourdan e Valentino. Em 1965 se torna diretor de criação da empresa de peles italiana Fendi, e em 1983 assina com a Chanel, mantendo ambos os contratos até o fim da vida.
50 ANOS DA MORTE DE COCO CHANEL – LEGADO DA ESTILISTA SUPERA SUAS CRIAÇÕES
![](https://portalpepper.com.br/wp-content/uploads/2021/02/fendi-karl-lagerfeld.jpg)
![](https://portalpepper.com.br/wp-content/uploads/2021/02/karl-lagerfeld-young.jpg)
No ano de 1984 criou sua marca própria Karl Lagerfeld. Com olhar diferenciado não só para a alta costura e o prêt-à-porter de luxo, mas também com um aguçado tino comercial, ele desenhou coleções populares para a H&M e Diesel entre outras, e num movimento praticamente oposto, compôs figurinos para o teatro, balé e ópera. Karl adorava diversificar suas atuações e fotografou inúmeras campanhas para revistas, criando ainda as ilustrações para uma edição do livro “As Roupas Novas do Imperador”, de Hans Christian Andersen. Inquieto, cheio de ideias e ótimas parcerias, abriu livraria em Paris e na sequência uma editora especializada em livros de literatura, biografias, fotografia, moda, arte e música. Com vocação legítima para o belo, concebeu com sensibilidade espetacular a decoração de duas suítes do renomado e tradicional Hotel Crillon, na Cidade Luz. Um verdadeiro esteta, reconhecido pelo universo fashion e artístico nos quatro cantos do planeta.
![](https://portalpepper.com.br/wp-content/uploads/2021/02/as-roupas-novas-do-imperador.jpg)
Não foi surpreendente, então, quando em 2010 o designer recebe o prêmiovisionário da moda pelo conselho de alta costura do FIT (Fashion Institute of Technology, de New York) e em 2017 a menção do British Fashion Award por sua contribuição excepcional à moda.
![](https://portalpepper.com.br/wp-content/uploads/2021/02/karl-lagerfeld-chanel-1024x783.jpeg)
Karl Lagerfeld foi um verdadeiro gênio criativo, cuja postura aberta ao espírito do seu tempo e a disponibilidade para empreender em conceitos variados (e mesmo contraditórios), tornou o estilista um dos primeiros da indústria da moda moderna a circular com tanta naturalidade e autoridade por diversos estilos, áreas e segmentos, ultrapassando as fronteiras “do vestir” para se tornar um dos maiores nomes da história da criação. Quanto à minha experiência pessoal com o Kaiser na Maison Chanel… Contarei tudo na próxima coluna! Só posso dizer que foi mais positiva e curiosa do que eu esperava!
D’accord?