Na véspera da estreia de uma importante exposição, um artista encontra seu namorado morto e deixa o corpo no mesmo lugar, para não atrapalhar o grande dia. A história, com ares de filme de mistério, aconteceu com o pintor anglo-irlandês Francis Bacon (1909–1992) e inspirou Fause Haten a criar a performance “Eu Sou um Monstro”, que faz sua segunda temporada em São Paulo, até o dia 30 de junho, no Teatro Vivo.
Tudo começou a partir da palavra. Haten, que transita entre as diversas artes, ficou muito impressionado com esse relato e escreveu um conto ficcional. Em um determinado momento, surgiu a ideia de transportar a narrativa para o teatro – foi quando começou a fazer leituras individuais para amigos atores e diretores de teatro. Nessas leituras sempre gravadas e roteirizadas depois, foi performando de improviso todo o restante da obra.
“Eu Sou um Monstro” alcançou seu formato final e fez uma temporada na Casa Rosa Salvador, em 2022. Na prática, o universo desenvolvido pelo conto foi expandido para se tornar esse teatro-performance site specific, ou seja, que pode ser adaptado e alterado por cada espaço onde é encenado.
Fause Haten quer levar o público a uma vivência singular. Tudo aquilo que é, pode não ser. E tudo aquilo que deveria ser, talvez não seja. Todas as expectativas da rotina de um espetáculo teatral como a chegada, a entrada e o fim podem ser subvertidas e a mágica do teatro se fará por outras vias. “Talvez as projeções de imagens do espetáculo aconteçam dentro da cabeça do espectador. ‘Eu Sou um Monstro’ se apresenta como teatro, mas poderia ser uma exposição ou uma performance de artes visuais. Mas o trabalho é mais do que isso”, comenta o artista.
Como estilista, Fause extrapola ao também performar seus desfiles. Como ator, cria seus textos, cenários e figurinos. As artes plásticas também estão presentes na cena ou nos seus processos de criação. Neste trabalho, em particular, tudo está amalgamado, as artes cênicas, visuais e a moda estão presentes.
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As obras visuais presentes no espetáculo são fotos-performances elaboradas com o rosto de Fause Haten acrescido de diferentes materiais, como fitas, cordões e adesivos. Essas imagens provocam distorções em busca de um “novo” rosto ou da revelação de um interior desconhecido.
Neste jogo, o artista coloca na mesa as inquietações de um artista a respeito da arte. “Quando eu li ‘Os anormais’, de Michel Foucault, que estabelece uma relação entre o exame psiquiátrico e o direito penal, partindo da análise de grandes casos de monstruosidade criminal, vi várias frases que se eu tirasse a palavra monstro e colocasse artista, o sentido se manteria. Então, estou assumindo que sim, somos monstros: deixamos as pessoas sem ar e fazemos coisas inimagináveis. Eu sou um artista e quero redesenhar o mundo!”, defende.
SERVIÇO
Espetáculo “Eu Sou Um Monstro”
Onde: Teatro Vivo
Endereço: Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460, Morumbi, São Paulo
Quando: 25 de maio até 30 de junho
Horário: sábado às 20h – domingo às 18h
Quanto: R$ 100 (inteira) R$ 50 (meia)
Classificação etária: 14 anos
Duração: 50 minutos
Informações: (11) 3430-1524 ou através do site