Do Crato, sertão do Ceará para o mundo, Daniel Peixoto lança seu terceiro disco solo, “Tropiqueer”, já disponível no streaming. O álbum, alter ego que Peixoto usa para contar e cantar aventuras e desventuras afetivas, é o marinheiro inspirado nas entidades “Marujos”, da Umbanda, narrando suas odisséias por diferentes mares e portos, onde deixa sempre um pedaço do seu coração – e outros corações partidos. “Navegar é preciso”, brinca Daniel, citando Fernando Pessoa.
DANIEL PEIXOTO E FILIPE CATTO TRAZEM REFERÊNCIAS AO LUTO PANDÊMICO NO CLIPE “POSTAL DE AMOR”
A Umbanda, religião de matriz africana praticada pelo artista, é uma das pautas mais expressivas do álbum, que começa e termina com orações aos orixás. Mas o protagonista absoluto é o amor, seja ele romântico, apaixonado, debochado e engraçado, até aquele que nos faz chorar.
Porém, nada de sofrência ao apertar o play. Com o pop e a música eletrônica na base principal do disco, a tracklist também aciona um mix plural de sonoridades, partindo da música popular do Nordeste, que vai do forró, guitarrada, batucada, lambada e pisadinha, alcançando referências internacionais como house music e trip hop, em efeito original, contemporâneo e cosmopolita. “Tropiqueer” propõe também o pós-tropicalismo agênero – ou a tropicália gay, numa era onde artistas LGBTQIA+ ganham caráter de coletivo e consolidam-se na cena musical evidenciando o orgulho de suas identidades, posicionamento com o qual Daniel Peixoto trabalha desde que fundou sua legendária banda Montage, há 18 anos, em Fortaleza.
EM PARCERIA COM SILVERO PEREIRA, DANIEL PEIXOTO DIVULGA CLIPE DE “ANJO QUERUBIM”
O disco traz ainda parcerias com os conterrâneos Silvero Pereira, em “Anjo Querubim”, Di Ferreira, “No Escuro” e Getúlio Abelha na versão de “La Isla Bonita”, de Madonna – aliás, na arte da capa, assinada por Fábio Viana com fotografia de Rafael Monteiro, Daniel mira no terreiro, mas acerta mesmo é no marinheiro fashion de Jean Paul Gaultier. Em novo dueto com Peixoto, Filipe Catto repete a dose com o amigo na interpretação da poderosa “Postal de Amor”, um achado arqueológico da MPB originalmente gravado por Fagner e Ney Matogrosso, em 1975.
Plugado na antropofagia modernista, “Tropiqueer” finaliza uma trilogia de tropicalbass, iniciada com “Mastigando Humanos” de 2011 e “Massa”, de 2017. O termo é amplamente utilizado nos Estados Unidos e Europa para definir a música eletrônica aliada aos ritmos tropicais e latinos. Em 2011, a MTV IGGY de New York elegeu “Mastigando Humanos” como o melhor disco de tropicalbass de todos os tempos, concedendo a Daniel o título de “príncipe brasileiro do electro”.
O álbum tem direção musical do próprio Daniel Peixoto, que escreveu nove das quinze canções, revelando-se um artista mais maduro sem perder a essência e irreverência dos tempos na proa da Montage, pioneira da queer music no Brasil que fez história e transbordou oceanos. Ouça na íntegra: