Bóris Casoy: “Isso é uma vergonha”

Infância, formação, ditadura e polêmica marcam essa entrevista
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25.02.2015

Divulgação

Bóris Casoy completou recentemente, 74 anos de vida. Em meio a tantas polêmicas que rondam o seu nome, o âncora concedeu esse bate-papo de forma simples e bem humorada.

Na conversa, Casoy falou de temas como infância, formação profissional, ditadura e até sobre o polêmico caso dos garis, além de sua demissão da Rede Record.

Leia, na íntegra, a entrevista completa:

Portal Pepper: Você tem uma irmã gêmea? Como é o relacionamento de vocês dois?
Bóris Casoy: Nosso relacionamento é muito bom. Quando crianças, brigávamos muito…Passar todo tempo junto não é mole…Hoje nos curtimos muito.

PP: Você teve poliomielite recém nascido, e ficou até os nove anos sem andar. Conte-nos um pouco mais sobre sua infância.
BC: Eu e minha irmã gêmea pegamos paralisia infantil juntos, com um ano de idade. Em 1942 não havia vacina. Acho que dá pra imaginar: duas crianças que não podem correr, “diferentes”. Quando as outras crianças me chamavam de mula-manca eu ia chorar para minha mãe. Aí ela chorava…e eu me sentia culpado por entristecer minha mãe. Foi duro. Aos 9 anos fomos operados nos Estados Unidos. Voltei a ter todos os movimentos. E estou descontando até hoje os anos que perdi.

PP: Como você descobriu o talento para o jornalismo?
BC: Gostava de notícias. Lia jornal para o meu pai e ele ia me explicando o significado delas. Mas eu adorava rádio e esporte. Queria juntas os dois como locutor esportivo. Foi o que eu acabei. Fui aprovado num teste na falecida Rádio Piratininga, aos 15 anos, assim começou. Mas sempre achei que ia ser advogado. Tranquei minha matricula na faculdade no último ano e assim ficou.

PP: Você foi assessor do Ministro da Agricultura Luís Fernando Cirne Lima, na época do governo Médici. Período conhecido como anos de chumbo, como você encarava a ditadura? E hoje como você analisa todo esse processo?
BC: Como estudante, apoiei o movimento de 64. Via o perigo de o Brasil ser levado para um regime comunista. Comecei a divergir no momento em que apareceu as evidências de tortura e a tentativa de perpetuação dos militares no poder. O Ministério da Agricultura é uma pasta eminentemente técnica, nada a ver com política. Hoje vivemos em plena democracia, embora haja muita gente saudosa de um regime totalitário, basta ver as tentativas de controle da imprensa e a idolatria que merece da ditadura familiar cubana.

PP: Sua entrada na grande imprensa deve-se a alguma influência dos militares?
BC: Minha entrada na grande imprensa deve-se a mim mesmo, ao suor do trabalho e do aperfeiçoamento técnico. Não houve influência de ninguém, a não ser do dono do jornal.

PP: Como e quando surgiu o bordão “Isso É Uma Vergonha”?
BC: Foi no SBT. Uma reportagem sobre um pronto-socorro no Recife me impressionou muito. À medida que os absurdos desfilavam, eu ficava mais revoltado. Lembrei-me de uma pequena rede de TV americana que, quando o presidente Kennedy foi assassinado interrompeu suas transmissões e colocou no ar em letras garrafais. “chama”, vergonha !!!!. Quando a câmera abriu para mim, eu botei pra fora minha indignação com três “Isso é uma vergonha”.

PP: Na época de sua demissão da Rede Record, houve especulações que o Governo Federal à época estava insatisfeito com as criticas, e que dessa insatisfação teria resultado seu desligamento. Até que ponto isso é verdade?
BC: No meu desligamento, creio que nenhum. A direção me informava que ele reclamava muito de certas reportagens. Depois, tanto ele, como a antiga direção da emissora disseram que não havia essas reclamações.

PP: Qual o papel de José Dirceu no seu desligamento com a Rede Record?
BC: Ele não teve nada a ver com minha demissão, a minha demissão é outra história que envolveu o PT [Partido dos Trabalhadores] e um acordo do ex-presidente Lula com o Bispo.

PP: Judicialmente, a que ponto está o processo de sua demissão?
BC: Ganhei o processo no Tribunal de São Paulo. Ainda cabe recurso ao STJ.

PP: O jornalismo da Rede Bandeirantes é muito respeitado. Você notou alguma diferença entre a liberdade proporcionada pela Band em relação às outras?
BC: Tenho e tive a mesma liberdade em todas as emissoras que eu trabalhei. É só assistir ao Jornal da Noite!

PP: Para que fique claro o episódio de seu comentário sobre os garis no Jornal da Band, o que de fato ocorreu no momento?
BC: Evidentemente eu estava brincando, gozando a edição que havia colocado lado a lado os garis e o prêmio de milhões da loteria de fim de ano. Foi um vazamento produzido por um erro técnico. Quem estava no estúdio riu. A repercussão foi péssima. E muita gente, especialmente ligada à corrupção, que eu combati, e os autoritários de sempre, vibraram e se aproveitaram do fato para me agredir. Me chamaram de tudo. Poucos o fizeram frontalmente, são covardes. Há várias ações pedindo indenização.

PP: Posteriormente, o episódio citado acima te trouxe algum incomodo de pessoas lhe agredindo verbalmente, idas ao Tribunal?
BC: É mentira que haja qualquer ação criminal a respeito.

PP: Âncora de jornal tem direito a folgar?
BC: Âncora comemora o aniversário na bancada.

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