Blota Filho: “As portas se abrem para a beleza e não para o talento”

O ator falou sobre carreira, amigos, família e dificuldades
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27.04.2015

Eduardo Neratika / Divulgação

Em um bate papo animado, emocionante e super bem humorado, o ator Blota Filho concedeu essa entrevista ao Portal Pepper. O ator falou sobre carreira, amigos, família e dificuldades.

Portal Pepper: Você cresceu no meio artístico, foi mais fácil conseguir bons papéis?
Blota Filho: Não… Tudo que consegui nessa profissão foi por esforço próprio. É lógico que ajuda existe. Eu tive uma casa, um pai maravilhoso, uma mãe que foi atriz na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, alimento, instrução de vida e de alma. Mas ser filho do Geraldo Blota, sobrinho do Blota Junior não me facilitou em nada. Tudo que aprendi foi na labuta. Minha mãe foi minha grande mestra. Ela me ensinou como atuar, ela me ajudava a decorar as falas, tomava os meus textos. E sempre exigiu que eu soubesse falar o texto com muita propriedade.

PP: Filho do radialista Geraldo Blota, a cobrança foi maior devido ser filho de um famoso?
BF: Não me cobraram não. Mesmo porque eu segui a carreira de ator e meu pai foi um dos maiores radialistas do Brasil. Eu me cobrava! Eu exigia ser o melhor por causa dele e de minha mãe. Todo filho quer que os pais se orgulhem dele. Ser o melhor não só no atuar, mas como homem, como ser humano. Aprendi vendo meu pai falar e trabalhar a ser um profissional humilde, educado e nunca pisar em ninguém pra chegar aonde cheguei. Tive os melhores mestres na escola de vida: Meu pai e minha mãe.

PP: É verdade que você aprendeu a arte de atuar com sua mãe?
BF: Sim. Como te falei ela me ensinava. Assistia a tudo que fiz em teatro amador. Infelizmente ela não me viu como ator profissional. Mas mesmo na atuação amadora sempre tinha crítica construtiva e apontava onde errei e onde acertei. Onde poderia melhorar, onde tinha exagerado. Minha mãe e meu pai foram a minha escola de vida e profissional.

PP: Como é ser sobrinho de um dos grandes apresentadores brasileiros, Blota Júnior?
BF: É um orgulho maravilhoso. Você ter visto, falado, brincado e ouvido o maior apresentador que já existiu. Meu tio era dono de uma oratória impecável, meu pai também. Eles me mostraram o que é ter dicção, carisma e credibilidade. E uso isso nos papéis que faço por menor que seja. Tenho muito orgulho de pertencer a essa família, de ler nos livros o marco do meu pai e do meu tio nessa vida. Surpreendo-me ainda em saber que meu pai escreveu músicas, como “Ó Nóis Aqui Traveis”, imortalizada pelo Adoniran Barbosa e Os Demônios da Garoa. Em saber que meu tio apresentou nomes como Chico Buarque, Elis Regina, Caetano, Nara Leão, Roberto Carlos e a Jovem Guarda. Sei que muitos que hoje estão ai com carreiras bem estruturadas e bem sucedidas conheceram meu pai e meu tio. E lógico a grande dama da TV Brasileira Sônia Ribeiro que também acompanhei nos programas femininos da Tv Record e com ela entendi como falar para a câmera, como tratar um convidado e se inteirar do assunto antes de tudo.

PP: Qual foi seu primeiro trabalho na televisão?
BF: Eu comecei em TV fazendo figuração na Bandeirantes, depois de ter sido colocado pra fora, literalmente, por uma assistente de direção da novela Adolescentes nessa emissora. Não me deram chance de atuar nem me testaram. Fui convidado a sair por que era calado, quieto, sou muito tímido, sim, até hoje. Estava fazendo parte do elenco jovem dessa produção que tinha Imara Reis, Beatriz Segall entre outros. E ficava calado para ouvir e aprender. Um dia indo para os trabalhos de integração numa casa lá na rua dos Franceses, nem me deixaram entrar. Essa moça, que nem sei quem é hoje, e se existe ainda, me parou e disse, “Você não pode entrar. Pode voltar que não vamos mais querer você aqui…Procure o departamento de figuração”. E foi o que fiz. Virei figurante. E na produção “Os Imigrantes” pôde ver Henrique Martins dirigindo. Vi o inicio da carreira de Lúcia Verissimo e Solange Couto. E lógico quieto ia aprendendo. Tudo era, e é fascinante.

PP: E qual foi o papel que mais te marcou como artista?
BF: Nossa. Renê de Fascinação, novela de Walcyr Carrasco para o SBT, pude usar o lado cômico de um personagem. Lógico que Zacarias de Pérola Negra, meu único vilão até hoje, me deixava muito feliz. Camilo de Sandy & Junior fez com que as pessoas soubessem quem eu sou nessa área, mas acho que o papel que mais me marcou será sempre o próximo, porque vou estar mais experiente para encará-lo.

PP: Como recebeu o convite para interpretar o papel do diretor Camilo no seriado Sandy & Junior, falado até hoje pelos jovens?
BF: Eu havia trabalhado em teatro com o diretor Paulo Trevisan. Ele era diretor de clipes para o Fantástico, e escreveu o primeiro Sandy & Junior, um especial de fim de ano na Globo. Ele me ligou e pediu que eu aprontasse uma VHS com algumas cenas minhas, não tinha muita coisa só duas novelas, coloquei alguns comerciais e cenas da novela, tudo feito muito caseiro pelo vídeo cassete de uma irmã. Era 1998 e mandei pra ele sem nenhuma esperança, já que as portas sempre estavam trancadas. Ele levou a fita ao Carlos Manga, o ‘big boss’ do horário. E ai dois dias depois toca o telefone, era da Globo marcando a prova do figurino. Completamente desacreditado eu achei que era trote de algum amigo e tratei o cara com cinismo. Liguei pro Trevisan e nem falei nada. Ele aos berros: “É você sim, cara é você”. Cai no choro. E deu no que deu.

PP: Recentemente você assinou novo contrato com a Rede Globo para viver o personagem Mathias, outro diretor no seriado Malhação. Seria uma perseguição escolar? (risos)
BF: (Gargalhadas) Se for, eu estou amando essa perseguição. Já fiz tantos advogados, médico, juízes que mais um diretor de escola vai ser muito bom. Mesmo porque Mathias é totalmente o oposto do Camilo. Um motoqueiro, rígido, sem paciência, enérgico e bravo. Camilo era mais doce. Mathias tem mais pimenta. Mas para um cara que começou na TV fazendo “close de nuca” sendo mal tratado pela produção na época, estou me dando bem.

seriado sandy e junior

PP: O que gosta de fazer nas horas vagas?
BF: Sou muito caseiro. Adoro receber amigos em casa, cozinhar, brincar com o José meu cachorro, ver TV, tomar café e rir muuuuito. Andar pela Av. Paulista, que eu amo. Tenho hábitos muito simples, sempre fomos assim em casa.

PP: É verdade que passou uma fase profissional ruim?
BF: Uma? Já foram tantas. Sempre é difícil para um ator estar trabalhando. Junte a isso os meus 54 anos. As portas hoje se abrem para a beleza e juventude para as celebridades de reality show e não para o talento. Já vendi meu carro, conseguido com muito suor, para pagar contas, comer e seguir tocando uma casa que era do meu pai, por comida na geladeira, comprar remédios enfim, viver. Faço muita coisa sim, trabalho sim, mas receber pra isso é outra história. As pessoas acham que ganho fortunas pra fazer teatro, musicais ou TV. É bem o contrário. Já paguei muito pra trabalhar. Aceitava o que me davam e no quesito custo benefício estava pagando para trabalhar. Já ganhei numa produção teatral R$ 6 de salário quinzenal, pois é! Todo ano eu desisto de ser ator e tento trabalhar em outra área, mas ai vem alguma coisa e lá estou eu atuando mais uma vez. Acho que é um sinal né? Sinal de siga, siga, siga.

PP: Você é muito amigo da atriz Suzy Rêgo, como a conheceu?
BF: Foi nesse trabalho com o Paulo Trevisan, “O Diário de um Mago”. Já sabia que era a Suzy junto com João Signorelli e Jayme Periard estrelar a peça. Ela havia acabado de fazer “A Viagem” e tinha ido a Disney passar sete dias de lua de mel. Nós do elenco já estávamos juntos fazendo laboratório há uns 10 dias, e certo dia entro no teatro (matando meu trabalho no Centro Cultural São Paulo) e ela estava sentada no meio da plateia. Eu passei e disse: Boa tarde. E fui me juntar com o elenco. Segundo a Suzy ela quando me viu pensou: Gostei dessa pessoa, e me seguia literalmente pelo teatro, nos jogos de interação de elenco, lembro que ficava no mesmo camarim umas 5 pessoas, e eu coloquei as minhas coisas de um lado e ela do outro, sai e quando voltei ela tinha colocado tudo que era meu do lado dela, e disse: “você eu quero aqui comigo sempre”, e de lá pra cá, já se passaram 20 anos, nunca mais nos desgrudamos. É minha irmã de alma. Devo a ela meu primeiro teste para TV. Devo a ela a segurança de ser quem sou também.

PP: Qual é o seu maior sonho ou desejo?
BF: Ter estabilidade nessa profissão. Poder fazer planos para o futuro sabendo que estou empregado. Poder planejar uma viagem, ter meu apartamento. Ajudar meus irmãos. Meu desejo é nunca mais ter que me desfazer de nada para sobreviver. Quero trabalhar até o finzinho de tudo. Até o dia que irei reencontrar meu pai e minha mãe e dizer a eles: Muito obrigado mais uma vez.

PP: Colocaria pimenta em…
BF: Numa coxinha, num pastel, em comida, é só ai que a pimenta deve entrar, na vida só doce pra mim e para outras pessoas. Em algum personagem a pimenta já vem no pacote criação (risos).

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