APROVADO EM TRÊS CONCURSOS, ERIVALDO AMANCIO É SUCESSO NAS REDES SOCIAIS COM DICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

NATURAL DE ARAPIRACA, EM ALAGOAS, O ASSISTENTE DE ALUNOS GANHOU NOTORIEDADE APÓS CORRIGIR UMA OFENSA REPLETA DE ERROS GRAMATICAIS
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31.07.2021

Reprodução / Instagram

Erivaldo Amancio da Silva é uma daquelas pessoas que fez da necessidade o seu ganha pão, natural de Arapiraca, região agreste de Alagoas, o assistente de alunos do IFAL (Instituto Federal de Alagoas), filho de uma agricultora, que o ajudou a ler antes mesmo de entrar no colégio, fez uma brilhante trajetória para chegar ao seu destino. Foi aprovado em três concursos: Prefeitura de Alagoas e dois para o Instituto Federal do Estado. Hoje é sucesso nas redes sociais com mais de meio milhão de seguidores que prestam atenção em suas dicas irônicas relacionadas aos principais erros ortográficos da língua portuguesa.

JENIFFER NASCIMENTO – “A ESCUTA É ALGO MUITO IMPORTANTE PARA AJUDAR ALGUÉM COM DEPRESSÃO”

Quando questionado por sua paixão pela profissão, Erivaldo reforça – “Na real, nem é paixão. Não gosto de tornar as coisas tão românticas, pois sou mais realista. Foi necessidade mais esforço. Não tinha grana alguma e também não queria depender do pouco dinheiro de minha mãe. Comecei a estudar para um concurso de nível fundamental, para uma prefeitura de Alagoas. Mesmo diante de quase dois mil concorrentes, passei. Em seguida, comecei a estudar para um concurso de nível médio, para o Instituto Federal de Alagoas e passei novamente. Fui nomeado nele, antes de ser chamado para a prefeitura. Por fim, passei em um concurso de nível superior, também para o Instituto Federal de Alagoas, cargo de assistente social. Eu também passei. No entanto, devido a questões pessoais, abri mão da minha vaga. Vale dizer que tais problemas foram resolvidos e, por isso, já estou estudando para outro concurso”.

Erivaldo Amancio e sua mãe Marinalva

Como milhões de brasileiros, o assistente teve uma infância simples, onde ajudava sua mãe no trabalho no campo sem a presença de uma figura paterna. “Minha mãe sempre foi rígida, no sentido de me orientar a “andar na linha”. Dessa forma, se recebia reclamação sobre mim, ela, geralmente, dava algumas palmadas, na verdade muitas, o que era uma prática comum à época. Fui criado só por ela. Eu só conheci meu pai muito tempo depois”, relembra.

Após receber uma ofensa repleta de erros gramaticais em sua rede social, Amancio deu uma resposta em forma de aula ao hater, os vídeos viralizaram em alguns perfis de humor no Instagram que o fizeram alavancar sua audiência na rede – “Demorou muito para conseguir um bom número de visualizações. Além disso, tinha dificuldade técnica, pois o celular não ajudava muito, tampouco tinha equipamentos básicos, como um tripé e um microfone. Hoje estou rico, pois já tenho um tripé. Tal fato fez com que eu começasse a me destacar na referida plataforma, hoje estou crescendo mais do que minhas dívidas (e não são poucas)”, comenta de forma bem humorada.

Erivaldo exibe orgulhoso seu diploma da Universidade Federal de Alagoas

Por ser negro e nordestino, Erivaldo enfrenta diariamente o preconceito no mundo virtual. “Constrangimento não; racismo sim. No entanto, não sofro com isso; rio do racista, embora tenha consciência de que ele faz muita gente chorar. Em minha opinião, é preciso que a gente critique e combata o racismo, mas, ao mesmo tempo, deixe claro que a ofensa do racista não pode derrubar a atitude da pessoa negra. Para tais pessoas, não é necessário dizer nada. A melhor vingança é não querer se vingar: é querer crescer. Elas se sentirão menores quando perceberem que você está grande”.

A cada dia a escrita sofre mutações nas redes sociais, seja através de emojis ou redução das frases através de palavras abreviadas, trazendo um alerta para a nova geração que pretende se candidatar a um concurso público ou até mesmo a uma prova do Enem. “A língua portuguesa é muito estranha. Estranha no sentido de não ser feita pelos brasileiros. É uma língua vinda de outro lugar, e isso atrapalha muito. Assim, não se deve exigir que as pessoas saibam a gramática oficial. Por outro lado, também não se deve louvar a abreviações, pois essa atitude também traz um problema: reforça a ideia de futilidade, de pressa. É preciso haver equilíbrio. Deixar claro que cada coisa tem seu momento e seu lugar. A meu ver, é preciso educar para a linguagem formal, respeitando a linguagem cotidiana. Os sujeitos devem aprender tudo, para usar quando necessário. O maior ensinamento é o exemplo. Quem discorda da hegemonia das abreviações e emojis deve, no dia a dia, nos diálogos digitais, usar menos abreviações, menos emojis e um pouco mais de formalidade. Pode criticar? Claro, mas nunca desrespeitar o outro”, explica.

“O que mais vejo é o erro de uso da crase. Muita gente coloca onde não deveria e, onde deveria, não coloca. O único erro imperdoável é não me seguir. No entanto, tem um, de português, que me incomoda bastante: o “Para mim fazer””. Erivaldo Amancio vem crescendo nas redes sociais devido ao seu conteúdo agregador de forma engraçada e irônica e sua originalidade – marca registrada do assistente de alunos. “Já tenho um minicurso disponível, simples e direto, sobre acentuação, pontuação, crase e colocação pronominal e, em breve, lançarei um de redação”, destaca.

“Em vez de reclamar de barriga cheia, contribua, através de palavras e gestos, para que todos possam encher as barrigas diariamente”, finaliza.

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