O mercado de sneakers no Brasil parece ter se tornado um fenômeno, são inúmeros modelos e cores que entraram para a lista de consumo de muitos apreciadores, o item de vestuário da década de 1980, que se tornou um verdadeiro símbolo da cultura urbana norte-americana, é disputado por uma legião de sneakerheads, nome usado para os consumidores do produto, com certo poder aquisitivo elevado, pois os valores não são para qualquer bolso, ainda mais se tratando de edições limitadas e colecionáveis.
O mercado dos sneakers é bem amplo e acaba gerando uma receita e uma conexão com outras áreas como esporte, moda e música – tudo está interligado. Segundo informações de uma pesquisa da Grand View Research, o segmento de calçados terá um crescimento e valerá US$ 95 bilhões até 2025, mas por outro lado um espectro ronda o mercado – o sucessivo aumento do valor dos tênis, fazendo com que o nicho sofra uma queda.
Com o mercado amplo e criativo, alguns artistas de streetwear viram no segmento uma saída para cativar o público que é aficionado por inovação e lançamentos, podendo destacar Ricardo Alexandre de Jesus, artista plástico paulistano que vem fazendo sucesso nas redes sociais com a marca IESU, que significa Jesus, mantendo seu nome de batismo, mas com uma pegada diferente e criando um mailling poderoso de clientes, além de criar o TDZ (tênis do zero), curso ao qual ensina a fazer os boots com costura manual.
“O crescimento do mercado de sneakers no mundo está sendo a passos largos e vejo isso como uma grande oportunidade no meio, observe como estão alguns artistas mundo afora com seus exemplares com um alto valor no mercado e sendo valorizados, basta o Brasil ver isso com olhos de empreendedor que o mercado também cresce internamente, afinal temos condições para entrar no jogo com muita arte”, comenta Alexander Iesu, nome adotado pelo artista plástico.
Com novas oportunidades podendo surgir ainda este ano, o mercado de tênis enfrenta condições macroeconômicas desafiadoras com a queda na demanda do consumidor. “Temos que mostrar para o mercado que é possível fazer seus próprios tênis personalizados e a valorizar os artistas brasileiros, assim como são valorizados os de fora. A cadeia de produção ainda é industrial e alguns materiais são vendidos em grande escala”, pontua Iesu.
Aos sete anos, Alexander Iesu já gostava de consertar as coisas dentro de casa, fazendo com que suas habilidades manuais fossem se aperfeiçoando no decorrer dos anos, mas foi aos 14 anos de idade, quando teve seu primeiro contato com o grafite que decidiu sua trajetória profissional – a arte. Na fase adulta criou uma empresa de cenografia para eventos, em seguida se aventurou no ramo da estamparia criando uma marca de camisetas que estava a todo vapor, mas logo, o sonho de expansão foi interrompido pela terrível pandemia que assombrou milhões de pessoas por todo o mundo.
“Devido a paralisação, perdi tudo, inclusive meu galpão, e me enxerguei falido, afinal quem estava fazendo festas no meio desta loucura? O hobby que sempre tive nos bastidores da minha vida profissional foi fazer tênis personalizados, mas isso sempre foi para mim, nunca havia mostrado nas redes sociais esse meu lado. Minha família vendo o estado depressivo que me encontrava, trouxe essa luz novamente para meus olhos e observei uma grande oportunidade de reviver – e foi isso que aconteceu mergulhei de cabeça – em agosto de 2021 comecei a divulgar o que já fazia. Com receio e um pouco abalado, dei minha versão do que é fazer tênis personalizado do zero, e hoje já faço meus tênis com a mesma desenvoltura que fazia os cenários e as estampas que encantavam meus clientes e hoje tenho 17 alunos que confiam no meu método”, comemora o artista plástico.
Sobre o método TDZ (tênis do zero), pontua: “Meus alunos aprendem todo o processo de fabricação do tênis, separados em módulos como materiais, ferramentas, criação, corte, costura, etc. O curso é 100% online e são mais de 180 aulas muito bem explicadas”. Por estar na fase de recomeço, devido às seqüelas deixadas pela pandemia, Alexander Iesu pretende lançar sua linha de tênis autoral – “algumas coisas que são necessárias para essa linha autoral ser tirada do papel, pois tenho um projeto, mas isso demanda recursos que como citei, perdi tudo na pandemia e estou recomeçando mesmo”, complementa.
Suas inspirações para a construção dos projetos são diversas, mas Iesu destaca Travis Scott como artista que admira, mas sua maior referência é Dominic Chiambrione e Virgil Abloh. “Acredito que como em qualquer nicho/mercado sempre vai existir as panelinhas e no meio de sneakers não é diferente, mas algo que aprendi é não me importar, continuo fazendo meu trabalho, seguindo em frente, fazendo o que mais gosto que é ensinar e logo realizar o meu sonho que é ter o maior número de pessoas fazendo seus próprios tênis”, finaliza.