Há cinco anos, a influenciadora digital Gessica Kayane, vulgo GKay, comemora a data de seu aniversário com a conhecida festa “Farofa da Gkay”, onde reúne alguns amigos e subcelebridades que festejam durante três dias com shows, atrações e o polêmico darkroom (quarto escuro), onde se reúnem para a prática sexual, longe dos holofotes, já que é proibido a entrada de celular no local. O evento é um divisor de opiniões, as quais muitos adoram e outros nem tanto.
OPINIÃO – A ERA DOS INFLUENCIADORES QUE NÃO INFLUENCIAM EM NADA
Em 2021, a festa se tornou um grande sucesso nas redes sociais, pois o marketing em cima do evento foi realizado com sucesso, despertando a curiosidade dos internautas e chamando a atenção das marcas. Bingo. A “Farofa da Gkay” deu um salto na edição deste ano, com atrações desde Ivete Sangalo, Pabllo Vittar, Luisa Sonsa e Gloria Groove, que substituiu a cantora Anitta, que se ausentou por problemas de saúde. Os cachês variavam de R$ 200 mil a R$ 600 mil, mas desta vez, a influenciadora contou com o apoio das empresas Latam, que fretou uma aeronave para levar os convidados até Fortaleza, onde foi realizada a festa, Vivara, Avon, Listerine e XP Investimentos. Segundo informações da organizadora da festa, o evento teve um investimento de quase R$ 8 milhões.
A plataforma de streaming GloboPlay e o Multishow transmitiram o evento em tempo real, tratando a ocasião a nível de um festival musical, mas sabemos que esse evento não é um festival e sim uma festa feita para um grupo especifico de convidados que foram para curtir e ter seus quinze minutos de fama, afinal vivem disso, aparências. Durante os shows o que não faltava eram celulares erguidos e muitas lives para abastecer os seguidores de tudo que rolava na “farofa”, em vários momentos as atrações artísticas cantaram seus hits para uma plateia dispersa que demonstrava total desinteresse pelos shows.
OPINIÃO – CELEBRIDADE É ARTISTA, ARTISTA QUE NÃO FAZ ARTE
Afinal, o que a “Farofa da Gkay” agrega no segmento de entretenimento para a população brasileira? Nada. O evento necessita urgentemente de uma equipe qualificada para tornar a festividade coerente com o que a própria anfitriã prega em suas redes sociais, pois, no último dia das apresentações, em entrevista, Gkay trajava um look peculiar, aparentemente desconfortável para a ocasião, onde afirmou que se tratava de uma critica ao uso excessivo do celular – vale lembrar que a dona da festa e os convidados trabalham como “influenciadores digitais”, ou seja, usam a todo instante o aparelho – esse protesto não colou.
Outro fato importante que marcou a festividade foi a expulsão do “humorista” Tirullipa, ao qual foi acusado de assédio sexual, no momento em que desamarrou os trajes de banho de algumas convidadas tentando deixar os seios delas a mostra. As vitimas do ocorrido gravaram vários stories nas redes sociais para demonstrar tamanha indignação, mas pelo visto nenhuma delas denunciou o ato para as autoridades – lembrando que assédio sexual é crime. A própria Gessica Kayane não deu muita importância ao fato, postando um aviso que as medidas necessárias foram tomadas. Assunto encerrado, mas não deveria.
O que assusta é saber que empresas como a Avon que levanta a bandeira do empoderamento feminino e sororidade, não se pronunciou sobre o corrido, e pelo visto nem vai. O que vale é investir uma quota de patrocínio, onde 500 convidados possuem milhões de seguidores e levaram o nome da empresa com sucesso até os seus devotos que consomem compulsivamente seus conteúdos que na maioria das vezes não agrega em nada. Será que as pessoas não percebem que o nicho de influenciadores é uma roda que só favorecem a eles mesmos, onde pregam o consumismo de forma desenfreada. Estou me perguntando até agora, o que a Vivara e a XP Investimentos estavam fazendo nessa festa?
Nos últimos meses, Gkay vinha tentando se transformar em um ícone fashion, título que Sabrina Sato e Adriane Galisteu carregam com maestria, mas com seu posicionamento e atitude, esse mérito esta cada vez mais distante. Consumidora assídua e admiradora da grife Balenciaga, a influenciadora foi convidada para prestigiar na primeira fila o desfile de sua marca favorita, expondo inúmeras vezes os produtos adquiridos e valores pagos pelas aquisições, meses depois, a marca lançou sua nova coleção inspirada em fetiches sexuais, onde usava crianças para promover as peças, fazendo apologia à pornografia infantil, considerada crime. A influenciadora como consumidora e divulgadora da marca não se pronunciou sobre o ocorrido que tomou dimensões mundiais.
Será que essas pessoas sabem o poder que exercem sobre determinada parcela da sociedade que segue a risca o que eles ditam nas redes sociais? Será que eles sabem o real significado do termo “influenciador digital”? Se for para influenciar outra pessoa que seja de forma produtiva e que de fato irá transformar a vida delas e não com assuntos irrelevantes.
“Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”, já dizia Andy Warhol. E ele estava certo.