por Anderson Camorra
Leandro Lehart, produtor, cantor e compositor paulistano, lança seu 13º álbum, “Samba Soul”. Cantando em inglês, tocando todos os instrumentos, além de produzir, mixar e masterizar, Leandro dá nova vida a sucessos internacionais com seu toque musical unicamente brasileiro. Ao lado o artista, o cavaquinho é o protagonista do trabalho. O título do projeto veio de Wayne Vaughan, compositor de “Let’s Groove” da banda Earth, Wind & Fire, que, quando ouviu músicas do disco, respondeu com “Samba Soul” para Leandro.
“Ah, quem ouviu um disco, ouviu todos”. Esta afirmação talvez sirva para inúmeros artistas que, por falta de criatividade, preguiça ou por buscarem ter uma assinatura em suas obras, abdicam de testarem novas texturas, novas sonoridades e atuam “no modo automático” em suas produções musicais. Mas, para Leandro Lehart, não!
Ele consegue imprimir sua marca e conservar vestígios em seu novo álbum solo, já está disponível nas plataformas de música e conta com distribuição na Europa e Estados Unidos. Nele, Lehart testa novos timbres e tramas em releituras capazes de tirar qualquer um da cadeira ou ainda nos transportar para lugares raramente visitados. Com poucos elementos (voz, piano, cavaquinho, pandeirola e cajon), o som do álbum (raridade nos dias de hoje), flui de forma invejável, como se forjasse um estilo próprio. Isso porque Leandro decidiu fazer não apenas releituras de clássicos, mas decodificações deles.
As 11 faixas são sim uma ode à música negra e, apesar do minimalismo e do tom quase experimental, apresentam complexidade desde as passagens calmas e quase flutuantes com seus coros de muitas nuances (todas as vozes são de Lehart); mesclando com momentos de agressividade puxados pela forte marcação do piano que, somado ao ritmo do cajon, tem papel mais percussivo do que harmônico e, também neste caso, são instrumentos executados por ele.
Ao cavaquinho, sim, cabe a condução de toda harmonia e, sendo ele um dos instrumentos de cordas mais percussivo que existe… Bingo! O groove está garantido! Junte a isso tudo, o mérito de conseguir prender a atenção do mais distraído dos ouvintes com arranjos que transmitem sensação imagética, construindo paulatinamente uma síntese musical única e inédita. No repertório, delicada e intrincadamente pinçado de dentro de uma estante de uma loja de discos há 30 anos, ou içados de um poço de música potável, há clássicos como “Close To You” do inglês Maxi Priest. Música retirada do álbum Bonafide de 1990 e passa por “Crazy” (assista abaixo), do também inglês Seal, lançada apenas um ano depois em 1991. “Crazy”, certamente entrelaçou os dedos das mãos do rock aos da música eletrônica, não de modo inaugural, mas de modo magistral.
O pop rock do R.E.M também se vestiu de samba na canção “Losing My Religion” (nascida no mesmo ano de 1991); e, segundo o vocalista Michael Stipe, foi inspirada em “Every Breath You Take” do The Police (quem sabe não pinta um Samba Soul II por aí?). Ainda passeando pelos anos 90, mais precisamente em 1993 o “couro come” na faixa “That’s The Way Love Goes” de Janet Jackson, que originalmente fora produzida pela dupla genial Jimmy Jam e Terry Lewis e nela Lehart “abusa” de uma polifonia no contracanto sustentada pela tensão dos poucos acordes do piano que produz um looping para receber toda a riqueza da linda melodia outrora cantada pela irmã preferida de Michael.
Reverenciando o criador do new jack swing, Teddy Riley, a faixa “Don’t Leave Me”, do Blackstreet (banda onde Riley era líder); nos faz lamentar o fato do R&B dos anos 90, não ter descoberto o cavaquinho tal qual o pagode o fez na mesma época. Como Seal nunca é demais, há uma segunda canção deste neto de brasileiro, chamada “Prayer For The Dying”, do ano de 1994, que soa mesmo como uma oração. Lighthouse Family com “Loving Every Minute” lançada em 1995 e “This Is Your Love” de Banderas de 1991, finalizam a lista de músicas dessa década com muito louvor e um toque amadeirado tal qual os melhores perfumes.
Com uma breve passagem pelos anos 80, o álbum ainda nos apresenta “Give Me The Night” de George Benson gravada no ano de 1980 e “When Doves Cry” de Prince do ano 1984 e ambas, bem como as originais, são capazes de nos colocar numa pista de dança. “Nature Boy” de Nat King Cole é o resgate mais antigo (primeira gravação é de 1948); e profundo neste álbum por ser uma canção em que Leandro Lehart dedica ao seu pai, sr. Elço (já falecido); muito apaixonado pelo cantor e pianista de jazz.
Nesta releitura, residem fortes contornos de profícua afeição e um caminho longínquo e distante como aquele percorrido pelo menino estranho e encantado da canção eternizada por Nat. Wayne Vaughan, compositor de “Let’s Groove” (famosa música da banda Earth Wind and Fire), quando ouviu algumas músicas do disco “Samba Soul”, acidentalmente deu nome ao álbum. Então, esse é o verdadeiro “Samba Soul”. Ouça o álbum na íntegra: