Sexualidade, morte, amadurecimento, religião e identidade. Estes são só alguns dos temas tratados pelo poeta fluminense Leo Nunes em “está na hora de me tornar um homem sério”, livro de poesias publicado pela Editora Minimalismos. Como um filho bastardo da geração beat e um possível adepto da geração mimeógrafo, a geração que andava pelas ruas da cidade de São Paulo fazendo uma poesia libertária, Leo não tem medo de enfrentar os seus fantasmas para encarar os percalços de uma vida moderna, principalmente para um homem gay em um espaço urbano.
“GAY DE FAMÍLIA”, LIVRO DE FELIPE FAGUNDES, MOSTRA NOÇÕES VALIOSAS SOBRE PERTENCIMENTO E RESPEITO
Subversivo, mas apaixonado, o autor faz uma exploração pessoal dentro da criação e desenvolvimento de um personagem, e busca encontrar através dessa investigação os ecos poéticos que ressoam em cada um de nós. Sua escrita resgata temas e assuntos que o acompanharam ao longo da adolescência e início da vida adulta.
Através dos ecos de uma Ana Cristina Cesar ou um Roberto Piva, “está na hora de me tornar um homem sério” adota um tom mais confessional e autoficcional, sendo dividido em três partes. Na primeira, “pequena trajetória de uma bicha da baixada”, acompanhamos a trajetória de se descobrir um homem gay e encarar o mundo conservador de uma região pobre da cidade: “Procurei trabalhar no livro a jornada de um personagem. Queria poder ler um livro que contasse e trouxesse os desejos e sabores de um ser muito específico: uma bicha da baixada fluminense que vai tentar descobrir o mundo”.
Dos encontros com “os meninos da igreja” a uma tentativa de “administrar uma cadela no cio”, para Leo a poesia é quase que uma preparação para uma vida que virá. Na segunda parte, “a magia está aqui”, o poeta nos apresenta um mundo mais convulso e complexo, das montanhas-russas ao Bate-Bate, das Maratonas ao Sambas, a poesia encontra um espaço urbano complexo de se aprender, cuja aparência é retratada através das entrelinhas da poesia.
Por fim, na terceira parte, “a vida no apartamento 1107”, seguimos com este jovem adulto em seu pequeno apartamento e fazemos companhia às aventuras íntimas das noites mal dormidas, dos amores mal passados e das poéticas que atravessam sua vida.
Algumas das suas principais influências literárias são as obras de Andrea del Fuego e Victor Heringer. No campo da poesia, Leo passeia por um campo vasto de referências como Ana Martins Marques, Marília Garcia, Flávia Péret, Lilian Sais (que fez a leitura crítica da obra), Rafael Zacca, Angélica Freitas, Pedro Cassel, Ana Cristina Cesar, entre outros nomes. Multidisciplinarmente, tem como referências cinematográficas Eduardo Coutinho e Agnés Varda. 90 páginas. R$ 45.