SINEAD O’CONNOR: ABUSADA NA INFÂNCIA, IDOLATRADA PELO PÚBLICO E EXCOMUNGADA PELA IGREJA CATÓLICA

AO RASGAR A FOTO DO PAPA JOÃO PAULO II, PUBLICAMENTE, A ARTISTA SOFREU UM DOS MAIORES CANCELAMENTOS DA HISTÓRIA MUSICAL
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27.07.2023

Getyy Images

Acordamos com uma enxurrada de postagens sobre a morte da cantora irlandesa Sinead O’Connor, que faleceu aos 56 anos, sem a causa da morte divulgada, uma artista completa, talentosa, corajosa, e que a cada aparição colocava todos seus incômodos para fora, literalmente, doa a quem doer. Sofreu abusos na infância, tentou o suicídio, em meio a um turbilhão de emoções, no auge da carreira, assumiu sua homossexualidade, foi excomungada da igreja católica após protestar contra abusos sexuais praticados por padres, ou seja, foi punida severamente por ser quem ela era de verdade.

CULTURA DO CANCELAMENTO – A INTERNET SE TRANSFORMOU EM UM VERDADEIRO TRIBUNAL

Seu visual rebelde de cabeça raspada, escondia uma doce artista que poucos conheciam, iniciou a carreira em 1987 com o lançamento do álbum “The Lion and the Cobra”, dedicado à sua mãe que acabará de falecer na época. Ganhou notoriedade ao se apresentar pela Europa e Estados Unidos, mas somente com o segundo álbum “I Do Not Want What I Haven’t Got”, lançado em 1990, que continha o single “Nothing Compares 2 U”, composta originalmente pelo Prince, que fez sua carreira deslanchar mundialmente.   

Foi também neste mesmo ano, ao qual foi ovacionada e acolhida pelo público e imprensa, que recebeu a pior punição e cancelamento da história, após rasgar publicamente a fotografia do então Papa João Paulo II, no programa Saturday Night Live, em protesto pelos abusos sexuais praticados por vários padres.

“Foi, de fato, uma artista à flor da pele, correndo risco com suas opiniões específicas, seu posicionamento social e político de extrema coragem e acima de tudo, tentando expurgar tanto bullying e tristeza de seu ser. Fez o mundo cair aos seus pés para depois condená-la em praça pública onde (metaforicamente?) foi queimada por se posicionar de forma radical contra o Papa e suas diretrizes, atitude hoje banal e menos danosa para quem se opõe contra as leis do Vaticano”, escreveu o DJ Zé Pedro em sua rede social.

Era a frente de seu tempo, lutava por aquilo que acreditava, e usava todo o seu poder de influência, que na época tinha total significado, ser uma influenciadora de verdade, para jogar holofote para assuntos importantes que precisavam da atenção de toda sociedade. Após quatro anos do cancelamento, retorna com o álbum “Universal Mother”, e traz à tona o abuso sexual infantil na canção “Fire on Babylon”. Deu uma pausa, entre várias na carreira, entre idas e vindas, lançou “Home”, seu último disco (2018), mesmo ano em que se converteu ao islamismo. Mãe de quatro filhos, perdeu Shane, aos 17 anos de idade, diagnosticado com depressão, o garoto cometeu suicídio em 2022. Outro soco no estômago da mulher que lutava naquilo que acreditava.

Ao ser anunciada sua morte, milhares de pessoas emergiram das profundezas internéticas para se solidarizar e fazer uma homenagem a cantora, que por muitos anos foi jogada aos leões e esquecida pelo mercado fonográfico. Em brilhante análise sobre sua partida prematura, o músico Morrissey, em carta aberta publicada em seu site oficial, escancarou a verdade nua e crua:

“Ela tinha tanto ‘eu’ para dar. Ela foi dispensada por sua gravadora depois de vender sete milhões de álbuns para eles. Ela ficou louca, sim, mas desinteressante, nunca. Ela não tinha feito nada de errado. Ela tinha uma vulnerabilidade orgulhosa… e há um certo ódio na indústria da música por cantores que não ‘se encaixam’ (isso eu sei muito bem), e eles nunca são elogiados até a morte – quando, finalmente, eles não podem responder de volta. O cercadinho cruel da fama jorra elogios para Sinead hoje… com os rótulos idiotas usuais de “ícone” e “lenda”. Você a elogia agora, apenas, porque é tarde demais. Você não teve coragem de apoiá-la quando ela estava viva e estava procurando por você. A imprensa rotulará os artistas de pestes por causa do que eles escondem… e chamariam Sinead de triste, gorda, chocante, louca… ah, mas não hoje!

CEOs da música que colocaram seu sorriso mais charmoso ao recusá-la para sua lista estão fazendo fila para chamá-la de “ícone feminista”, e celebridades de 15 minutos e duendes do inferno e gravadoras de diversidade artificialmente despertada estão se espremendo no Twitter para twittar seu jibber-jabber… quando foi você quem convenceu Sinead a desistir… porque ela se recusou a ser rotulada e foi degradada, como aqueles poucos que movem o mundo sempre são degradados. Por que alguém está surpreso que Sinead O’Connor esteja morta? Quem se importou o suficiente para salvar Judy Garland, Whitney Houston, Amy Winehouse, Marilyn Monroe, Billie Holiday? Para onde você vai quando a morte pode ser o melhor resultado? Essa loucura musical valeu a vida de Sinead? Não, não valeu.

Ela era um desafio, não podia ser encaixotada e tinha coragem de falar quando todos os outros permaneciam em silêncio. Ela foi assediada simplesmente por ser ela mesma. Seus olhos finalmente se fecharam em busca de uma alma que ela pudesse chamar de sua. Como sempre, os lamestreamers perdem o ponto de toque e, com as mandíbulas travadas, eles retornam ao “ícone” e à “lenda” insultuosamente estúpidos, quando na semana passada palavras muito mais cruéis e desdenhosas teriam feito. Amanhã, os almofadinhas bajuladores voltam para suas postagens de merda online e sua acolhedora cultura do câncer e sua superioridade moral e seus obituários de vômito papagaio… tudo isso vai te pegar mentindo em dias como hoje… quando Sinead não precisa de sua poça estéril”.

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