aos meus pés tenho o palco
chão, terra, madeira ou lona,
sempre palco
sempre chão
sempre arte
nos meus olhos passam trajetórias,
coração aperta em saudades,
nostalgias,
esperanças e sonhos.
nos meus olhos ardem os aplausos em ver
os meus e as minhas em cena
seja na carroceria de um caminhão,
debaixo de uma lona de circo ou
no meio de uma praça ou
mesmo num Municipal
rodeado de público que
se identifica com o que é visto.
bate no peito a coragem de seu Abdias,
que com seu nascimento
deixou em nós seu legado.
nos deu garra, visibilidade e gana
para fazer de nossa cor
protagonista de nossas histórias.
bate no peito o sorriso ou gargalhada
que o palhaço Benjamim trazia
entre suas piadas e graças,
no picadeiro de cidade em cidade
colocando em cada criança
a possibilidade de também ser palhaço,
o primeiro de todos nós,
nesta terra chamada Brasil.
bate em meu peito
enquanto bato palmas em homenagem
a elas,
um gozo infindo ao ver
a grande Ruth, a grande Léa, a grande Neuza, a grande Zezé
que nos deu horizontes,
gerou sonhos,
fortaleceu a fé que um dia
na arte da interpretação,
posso ser atriz
posso ser ator.
no 1,2,3 vamos lá
merda pra todo mundo
merda pra todo o elenco
que fala palavra por palavra
do que cada dramaturgo
do que cada dramaturga
colocou no papel
papel que a mim pertence
que posso vestí-lo
e não,
não quero mais outro em meu lugar
tenho voz,
tenho cor,
tenho tez
é minha vez.
MILITÂNCIA – DESVALIDAR ESTAS LUTAS POR CAUSA DO CARÁTER DOS LUTADORES É NÃO OLHAR NO ESPELHO
nas tuas palavras Shu,
aprendo mais,
sei que quando morrer,
não contarei tudo somente a Deus.
na tua voz Grace, fica cada vez que Passô
os gestos em penumbra que aquele
cenário-corpo me deixou.
em cada confinamento,
Aldri me faz ver os confinamentos
que se anunciam dentro de nós,
e em nós, o belo Cuti,
que da madrugada clama que nos proteja!
bate em meu peito
tantas luzes, tantos sons.
geradas pelos espíritos iluminados
de Zâmbia, Milena Pitombo, Maria Carla
gerados pelas escutas sensíveis e criativas de
Elinaldo Nascimento, Marina Fonseca…
onde só engrandece a riqueza
das paisagens criadas por Thiago Romero,
Tina Melo, Uziel Lima…
bate em meu peito,
bate em minhas entranhas,
bate absurdamente em mim
a inflamação que a paixão pelos palcos
causa em nós,
artistas da cena,
que envolvidos por estes tempos
só quer colocar pra fora o que não
conseguimos segurar,
o que não conseguimos conter,
que só pensa em irradiar,
nossa paixão por esta arte que encanta e salva da dor
das lágrimas,
da saudade…
aos nossos pés pretos do palco preto,
há de chegar o nosso momento
que de novo, vamos voltar a ouvir
o próximo sinal
pra contar nossas histórias
não como antes,
mas como agora!
que seja perpétuo nosso dia mundial do teatro!