XAUIM HOMENAGEIA MULHERES NEGRAS INVISIBILIZADAS NA HISTÓRIA DO BRASIL NO CLIPE DE “MARIA FELIPA”

“MARIA FELIPA É A PERSONIFICAÇÃO DAS HISTÓRIAS QUE RESISTEM NAS MARGENS, QUE NÃO FORAM INCLUÍDAS NO PROJETO OFICIAL DA NAÇÃO”
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15.09.2024

Divulgação

O cantor e compositor Xauim lança “Maria Felipa”, uma obra que revisita a luta pela independência do Brasil, com um enfoque especial no contexto da Bahia e na data simbólica de 2 de julho. A música destaca histórias de resistência e coragem frequentemente apagadas pela narrativa oficial.

SETEMBRO TAMBÉM É O MÊS DA ESPERANÇA PARA MAIS UM ANO

“Na minha visão, Maria Felipa é a personificação das histórias que resistem nas margens, que não foram incluídas no projeto oficial de nação, mas que permanecem vivas e pulsantes na cultura popular. Por isso, essa música vai além de ser um tributo a essa heroína; é também uma homenagem a todas aquelas que, como ela, foram excluídas da narrativa oficial, mas que desempenharam um papel fundamental na construção da resistência e da verdadeira identidade do Brasil. Quando eu falo ‘Marielle vive em Maria Felipa’ e inverto a ordem natural da cronologia delas, estou apontando para essa força de representação que coexiste no passado, presente e futuro. Parafraseando Glauber Rocha, eu diria: as crianças brasileiras não devem acreditar em uma independência às margens do Ipiranga. Close em Maria Felipa, a verdadeira imagem do povo brasileiro”, ressalta o artista.

Mesclando música baiana com fortes influências de afro house e kuduro, “Maria Felipa” é, assim, um manifesto artístico que busca dar voz àqueles que foram e continuam sendo invisibilizados. O single é acompanhado de um videoclipe dirigido pelo próprio Xauim, também conhecido como Matheus L8 no cenário audiovisual. Gravado em Saubara, a 103 km de Salvador, o vídeo captura a essência de uma região marcada por cultura e resistência. Todos os anos, na madrugada do dia 2 de julho, as ruas de Saubara acolhem uma procissão de mulheres vestidas com lençóis brancos, armadas com facões e espingardas, carregando panelas de mingau, em homenagem às ancestrais que alimentaram os combatentes durante as batalhas. A indumentária, além de servir de disfarce, aterrorizava os portugueses, que acreditavam estar vendo fantasmas.

Nas imagens que ganham destaque, um encontro poético entre Maria Felipa e as Caretas do Mingau ao redor de uma fogueira, celebrando com samba de roda, evoca a força e a resiliência das mulheres guerreiras da Bahia.

O LUTO NA LUTA – O ALVO PRINCIPAL TEM COR, GÊNERO E ETNIA

“Neste clipe, pude propiciar o encontro de duas forças populares pelas quais tenho profunda admiração e que participaram da mesma guerra. Reuni a heroína Maria Felipa de Itaparica com as Caretas do Mingau de Saubara. Existem algumas interseções entre elas; vou destacar duas. A primeira é a força e a habilidade popular de subverter e lutar com as armas que possuem. A segunda é o fato de que essas duas potências da história baiana foram marginalizadas e até hoje lutam em outro campo de batalha para serem reconhecidas”.

O projeto inclui, ainda, o lançamento de três produtos adicionais: um vídeo de poesia em Libras com recitação de Bárbara Carine, um guia educacional para professores, e uma versão do clipe com interpretação em Libras.

“É importante para mim que esse trabalho tenha desdobramentos, e por isso decidi disponibilizar para download um guia, elaborado pela historiadora Jaqueline Machado, para que os professores possam utilizar em sala de aula. Neste material, abordamos a independência do Brasil a partir da participação e do papel da Bahia. É urgente lembrar que as tropas portuguesas não fugiram com o grito do Imperador às margens do Ipiranga em 1822, mas sim com as guerras que ocorreram posteriormente neste território”.

Para os fãs de BaianaSystem, Titica, e do movimento Sound System, “Maria Felipa”, de Xauim, oferece uma experiência sonora e visual que reverbera com a ancestralidade e a luta por justiça.

“Me considero um observador. A maior parte do que faço vem desse lugar de observação mais do que de uma vivência profunda. Eu observo os hábitos e a história do meu lugar, procuro saber sobre minha genealogia, e isso me nutre de forma suficiente para querer colocar para fora uma visão de mundo. Embora eu sinta que faço parte desse caldeirão, não me vejo como um representante da cultura; estou mais na posição de quem assiste e é tocado intensamente por tudo ao redor, desejando contar essas experiências. Talvez eu seja mais como um griô moderno, que presenciou uma aventura e depois a conta ao seu povo. Assim, a observação do mundo e a reflexão que surge a partir disso são a minha fonte de inspiração para fazer música”, comenta Xauim.

O nome Xauim, que significa sagui em tupi, representa a sua busca pela harmonia entre as vibrações da mata e os circuitos da cidade. Assim como o sagui, que vive entre fios elétricos e galhos, Xauim busca equilibrar essas duas dimensões em sua música. Com temas que vão de uma crítica social escancarada à leveza de um dengo, o cantor costura os contrastes da vida, história e cidade no seu som. Assista ao clipe:

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