O livro infantojuvenil que o produtor cultural Vini Rigoletto acaba de publicar pela editora afrobrasileira Mazza Edições, para quem conhece o autor, poderia ser considerado uma autobiografia. Isso porque, a história é mais do que uma narrativa sobre o personagem – “Nini, O Menino que o Vento Levou” é uma celebração da ancestralidade e da identidade. O texto trata de aceitação, de pertencimento, de resistência e, principalmente, de amor-próprio.
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É um sopro da vida que revela raízes e identidade. Ao dar voz a um menino que aprende a se ver no espelho e a gostar do que vê, Vini Rigoletto convida o leitor a fazer o mesmo. Nini é uma rajada de liberdade, um convite para reconhecer que o vento que nos move vem, na verdade, de dentro. O autor mergulha nas descobertas de um menino que “carrega o mundo nos olhos” e que, assim como ele, precisou compreender seu lugar no mundo, entre afetos, identidades, dores e encantos. O livro é enriquecido pelas ilustrações de Thiago Amormino.

Nini é apresentado como uma criança leve, quase etérea, mas profundamente marcada pelas correntes que o atravessam: o amor, o preconceito, a curiosidade e o desejo de ser. O livro nasce como um voo entre o real e o simbólico em uma narrativa que mistura fantasia e autobiografia, memória e imaginação. Ao contar a história de Nini na primeira pessoa, Vini Rigoletto permite ao personagem uma maior proximidade com o leitor para poder revelar seus segredos mais íntimos que incluem as dores do preconceito racial, as confusões diante das questões de gênero e as dúvidas comuns entre a infância e a adolescência.
Em algumas situações, no entanto, o autor parece se afastar para que o distanciamento se transforme em reflexão sobre a necessidade de recuar para compreender as próprias emoções e identificar caminho a ser percorrido. É nesse movimento – entre se ver de fora e se escutar por dentro, que o menino de vento e o autor se encontram.
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Para quem conhece Rigoletto, não é difícil perceber o paralelo entre o criador e sua criatura. Vini também é um “menino levado pelo vento”, um ser inquieto, movido pela arte, pela imaginação e pelo desejo de transformação. Negro, adotado por uma família branca, o autor enfrentou desde cedo o peso do preconceito e os desafios de afirmar sua identidade. O “vento” que o moveu, no entanto, nunca foi o das circunstâncias externas, mas o de uma força interior, como um sopro criativo e libertador que o fez seguir em frente, mesmo nas tempestades.
Assim como Nini, Vini é dono de um estilo único: orgulha-se do cabelo crespo, das cores vibrantes das roupas que veste e da alegria ancestral que o conecta às raízes africanas. Sua trajetória é marcada pela coragem de se reconhecer como um ser múltiplo, criativo e sensível. Alguém que não se deixa definir por padrões, mas se afirma na autenticidade. Mais do que uma narrativa de crescimento, “Nini, O Menino que o Vento Levou” é uma celebração da ancestralidade e da identidade.
O livro fala de aceitação, e também de pertencimento; de resistência, mas também de amor. A obra é, ao mesmo tempo, confessional e universal, um voo leve e profundo sobre a beleza de ser quem se é de forma inteira, diversa e verdadeira.


