“Ao quebrar o silêncio, a linguagem realiza o que o silêncio pretendia e não conseguiu obter”, disse o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. Talvez essa seja a mensagem que John Krasinski, diretor do terror psicológico “Um Lugar Silencioso 2” que acaba de estrear no cinema queira dizer nas entrelinhas aos telespectadores ou talvez não. Sucesso de público e aclamado pela critica após o surgimento de “Um Lugar Silencioso” (2018), onde trazia o silêncio como protagonista, nesta sequencia, ele é abafado pelo barulho de sobreviventes de um caos apocalíptico gerado por criaturas alienígenas que invadiram nosso planeta.
“SWEET TOOTH”, NOVA SÉRIE DA NETFLIX, TRAZ MENSAGENS SUBLIMINARES DO ATUAL CENÁRIO EM QUE VIVEMOS
O público aguardava uma resposta para o surgimento das criaturas assassinas extremamente sensíveis ao som, que logo no inicio da trama é revelada. Com um flashback, o longa mostra a família Abbott acompanhando o evento esportivo do adolescente Marcus (Noah Jupe) que é interrompido pela queda de vários meteoros, causando pânico na cidade, onde todos abandonam a partida de beisebol indo em direção aos seus carros, mas logo são atacados pelas criaturas monstruosas, muito semelhantes aos Demogorgons da série “Stranger Things”.
Longe do esconderijo e saudosos com a morte do pai Lee (John Krasinski), Evelyn (Emily Blunt), Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e o pequeno bebê, saem à procura de um novo lugar para se protegerem, mas logo descobrem que não estão sozinhos, outros seres humanos estão na mesma situação e outros conseguiram se salvar em uma ilha, pois as criaturas não sabem nadar, logo, o local de onde os monstros vieram não possui água. “Eles cresceram em um planeta sem luz, então não têm olhos e só podem caçar pelo som. Eles também desenvolveram uma forma de se proteger de tudo, por isso são à prova de balas. E eu tinha que fazer tudo isso ter sentido para que eles seguissem regras tão rígidas quanto às da família, para que não fossem só convenientes. A resistência dos monstros veio do fato deles terem precisado sobreviver a explosões e meteoritos em seu planeta e origem, o que os tornou praticamente invulneráveis e máquinas evolucionárias perfeitas”, disse o diretor em entrevista à The Empire.
Sou da opinião que todo filme, por mais bizarro que seja, traz uma mensagem para o público, e não foi diferente com “Um Lugar Silencioso 2” – o filme traz no roteiro a proteção familiar, a importância da solidariedade em um momento de caos, e o principal, o respeito pelo silêncio do outro, que por muitas vezes carrega uma história de sofrimento que aos olhos dos barulhentos, não conseguem enxergar o outro lado da moeda, ou melhor, entender através do olhar que a comunicação é feita de inúmeras formas e que o barulho pode ser mortal e o silêncio primordial para a preservação da espécie humana. Por outro lado, a indústria cinematográfica, através de seu poder midiático sobre a população mundial, diz que devemos nos calar em diversas situações, pois vivemos em uma ditadura camuflada, onde ter voz e reivindicar os direitos é logo interrompido por bombardeios para o silenciamento de quem realmente necessita expressar sua indignação. Afinal, precisamos fazer barulho para sermos ouvidos.