A cada dia a temática que envolve o bullying vem ganhando cada vez mais espaço na mídia, ao qual é de suma importância o debate sobre o assunto. Trata-se de um ato de violência física ou psicológica, na maioria das vezes intencional e repetitiva que é praticada por um único individuo ou de forma grupal contra determinadas pessoas, com o intuito de intimidar, machucar e humilhar, causando dor, vergonha e desespero às vitimas, em muitos casos levando ao suicídio.
O ato do bullying é muito praticado no período da infância e adolescência, onde os agressores têm como foco crianças e adolescentes frágeis. “É muito importante as vítimas buscarem apoio com os pais e contar o que estão vivenciando. Muitas vezes elas escondem as agressões por vergonha em falar e por medo da reação dos pais, até mesmo deles irem brigar ou as expor na escola, a vítima guarda o segredo em sofrimento, quanto menos gente souber, melhor, como se pudessem esconder os ataques que vem sofrendo”, comenta a terapeuta Wanessa Moreira.
“De maneira geral, o acolhimento da criança que sofre bullying é um trabalho para aumentar a confiança dela para suportar essa pressão que está sofrendo. Orientar que não é razoável aceitar qualquer tipo de agressão sobre quem ela é ou aparência que ela tem, isso deve e precisa ser parte da educação escolar. O bullying tem as mesmas bases de um relacionamento abusivo, acontece a agressão constante das pessoas que se convive, intimidando e diminuindo a pessoa que está sendo assediada e tentar lidar sozinha com isso”, complementa.
Na trama “Terra e Paixão”, exibida na TV Globo, o personagem Cristian, interpretado pelo ator Felipe Melquiades, 10 anos, é um garoto albino que enfrenta diariamente ataques de outras crianças no colégio por sua aparência, apelidos como “vampiro” e “fantasma” são constantes, além de ser agredido com pedras, causando sofrimento ao menino. O ator passa por sessões psicológicas para lidar com as gravações das cenas de bullying na novela, já que na vida real, alega que nunca sofreu qualquer tipo de preconceito por sua condição genética.
“Os alunos que praticam bullying devem levar punições a altura incluindo suspensão, ou até mesmo expulsão se for o caso. É fundamental um trabalho preventivo sobre o assunto e ter espaço para rodas de orientação e conversa. Esse comportamento não é aceitável. Não dá para minimizar essas ações ou ainda arrastar isso. A ação da instituição quanto antes acontecer menor a dimensão que isso vai causar de impacto em todos os envolvidos”, comenta Wanessa Moreira.
No caso, a criança com albinismo vem sofrendo com ataques severos de bullying, afinal, porque ser diferente desperta a ira de certas pessoas? A terapeuta explica: “O que desperta a ira é o que as pessoas não compreendem ou não tem. Desperta a ira o diferente, o albino, o que tem excesso de peso, o magro demais, o rico, o pobre, o homossexual, o bom aluno, o mau aluno. Na verdade não tem uma regra, o que desperta a ira é a pessoa ter uma postura diferente do grupo, muitas vezes cuidar da própria vida, ser menos comunicativo, e não estar pertencendo e não agir como todos os outros esperam. A maneira diferente de agir desperta nos que têm o perfil de agressor uma indignação”.
O termo bullying vem de origem inglesa que é derivado da palavra bully, ao qual significa tirano e brutal, essas ações sempre existiram, mesmo inúmeras pessoas alegando que atualmente os atos se tratam de “mimimi”, onde pessoas fracas não sabem lidar de forma positiva com a agressão. O termo bullying nasceu na década de 1970 pelo psicólogo sueco Dan Olweus, um dos pioneiros do estudo nesse campo. A censura imediata do ato pode prevenir ações de suicídios que muitas pessoas cometem por não aguentarem as agressões.
“Os pais devem observar se houve mudança de comportamento, se a criança está mais silenciada, sem apetite ou ainda se desenvolveu o excesso por comida, se falta interesse em se divertir, falta de ânimo para ir à escola, esses são pontos importantes para serem investigados, pois quando chegar ao extremo é porque a criança está lidando sozinha com a informação, com a agressão e acha que tudo aquilo é muito maior que ela e não tem recursos para resolver e desperta a sensação que a única maneira de pôr fim aquilo seria acabar com a própria vida. Acredita que aquilo não tem solução e nunca terá fim”, alerta a terapeuta Wanessa Moreira.
A criança ou o adolescente deve trabalhar a autoconfiança para lidar de forma positiva com a situação e não deixar aquilo abalar seu emocional, devem ser orientadas para tratar de maneira correta as diferenças e afinidades que acontecem entre a família, colegas e que as atitudes agressivas devem ser limitadas pelas autoridades cabíveis. As pessoas mais próximas das vítimas devem ajudar a eliminar a culpa que elas têm de estarem sendo alvo de ataques, pois é essa culpa que deixará ela como refém e presa nesta relação com o agressor de bullying.
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“Quando os agressores percebem medo no outro e que a pessoa se sente intimidada com as atitudes do grupo, começa o desejo primitivo de medir força, acuar e desfazer para que saiba quem é o dono do espaço. Começa com uma disputa primitiva de território e infelizmente evolui para cenas tristes e desumanas, pois cresce de uma forma que quem começou o bullying nem sabe exatamente explicar, vira um desafio de diminuir até deixar o outro totalmente desprovido de pertencimento para mostrar que ganhou e que é forte”, explica Wanessa Moreira sobre o comportamento dos agressores.
“É como uma guerra que não para enquanto alguém com autoridade não interferir, pois quem pratica o bullying, normalmente são pessoas que sofrem pressão e agressão em casa ou assistem o ato entre as pessoas da família. Quem pratica o bullying quer medir força e mostrar que ganha, porque vive essa disputa como forma de mostrar que pertence. Falta amor, acolhimento, compaixão e até mesmo falta empatia e capacidade neurocognitiva de ter sentimentos positivos em relação ao outro”, finaliza.