Quando o dia vira noite durante um eclipse, um circo aparece por entre as sombras, convidando todos a adentrar seu picadeiro. Esse mito é narrado pelo Laboratório Siameses em “Circo da Meia-Noite”, que estreia no dia 28 de outubro no Teatro Anchieta do Sesc Consolação. O espetáculo dá continuidade à pesquisa do grupo sobre a imaginação e mescla dança, teatro e música para criar uma história sobre a natureza do divino nos dias de hoje e o nascimento do desejo.
ESPETÁCULO “CAPIROTO” BUSCA “DESDEMONIZAR” DE MANEIRA BEM HUMORADA, VÁRIAS ENTIDADES NÃO CRISTÃS
A montagem tem direção de Maurício de Oliveira e Tono Guimarães. Já o elenco traz os intérpretes Danielle Rodrigues, Lucas Pardin, Maurício de Oliveira, Moisés Matos, Sthéphanie Mascara e Vinícius Francês, além da atriz convidada Joy Catharina.

No “Circo da Meia-Noite”, a lógica parece se desfazer pelo encantamento das figuras que o habitam. São deuses que outrora povoaram o cosmos nos tempos da ancestralidade e que, hoje, perambulam entre a dimensão do real e do sonho para guiar o mundo para além do esquecimento. Eles guardam o coração do planeta, que pulsa vivamente debaixo da terra consagrada desse picadeiro.
Trazendo como subtexto as ancestralidades da Lua Negra – Lilith, Ísis, Perséfone, Santa Muerte – em que o futuro se decidia numa batalha coletiva na noite mais longa do ano, o trabalho se propõe a criar um sabá secular, que permite a revelação da centelha primordial que foi solapada pelo Estado das coisas, por esses novos deuses vazios de ancestralidade. O espetáculo é um manifesto de renascimento, recuperando nosso direito de imaginar futuros não-distópicos.

O trabalho tem como inspiração o imaginário histórico do circo. Herdeiro das tradições luciânicas da Saturnalia – festival realizado no Solstício de Inverno, no qual as normas que ordinariamente regiam a sociedade eram invertidas, ou seja, os homens se vestiam de mulher e os senhores, de servos etc., o circo era o espaço da subversão das regras. Ali, aqueles que eram mantidos à margem da sociedade, construíam uma comunidade à parte com suas próprias regras de funcionamento. Em seus shows, o circo tornava-se local de poder, de confronto com a alteridade do abismo social que lhe deu origem.

Costurando uma dramaturgia original a partir da pesquisa de textos, filmes e outras mídias, “Circo da Meia-Noite” é uma reflexão sobre o futuro e o nosso legado. Na peça, o circo é o espaço em que somos recebidos pela Morte. Ela apresenta a todos aquilo que será presenciado: o nascimento do Desejo.
A montagem se materializa como uma instalação visual em que cenário e figurino serão compostos como entidades complementares. A companhia cria um ambiente que possa se alterar subitamente pela interferência desses bailarinos que invadem a cena. Os intérpretes manipulam um cenário que se reconfigura aos poucos através de roldanas, montando uma lona de circo que tem vida própria.

No figurino, o caráter escultural das peças caracteriza os personagens como esculturas vivas, cujas formas se transformam a cada nova ação que ali se desenvolve. Para intensificar esse efeito de mudança, o desenho de luz se dá como microambientes que migram pelo espaço cênico, contrapondo cor e forma a fim de dar materialidade à presença de cada ente ali apresentado. Já a trilha sonora tem papel fundamental nesse quadro: será executada ao vivo para que cada cena possa ser reconfigurada à medida que ela se desenvolve, ganhando novos matizes a cada apresentação.
SERVIÇO
Espetáculo “Circo da Meia-Noite”
Onde: Sesc Consolação
Endereço: Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque – São Paulo
Quando: 28 e 29 de outubro
Horário: sábado às 20h e domingo às 18h
Quanto: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia)
Classificação etária: 14 anos
Duração: 60 minutos
Informações: (11) 3234-3000 ou através do site