A profissão de barbeiro surgiu na Grécia Antiga, na necessidade de ter um espaço, onde alguns deuses teriam acesso para cuidar da aparência. Assim surgiu a profissão até então denominada masculina.
Entre os séculos XVII e XVIII os barbeiros viajavam para oferecer seu trabalho pelas províncias, nessas caminhadas, os profissionais levavam muitas histórias, e antigamente os barbeiros eram figuras extremamente importantes na área da saúde, muitas pessoas resolviam problemas diretamente com esses profissionais.
Os barbeiros passavam dois anos praticando atos medicinais em hospitais, até que o cirurgião responsável os liberassem para exercer os serviços. Assim a profissão ficou associada à saúde física da pessoa.
A figura da mulher no ambiente das barbearias surgiu no século XIX, tanto na profissão como na clientela, fazendo com que surgissem os primórdios dos salões de beleza. Esse número de mulheres cresceu mais ainda no século XXI, hoje a barbearia está em alta novamente, virou vintage, se tornou cool.
Aos 24 anos, Juliana Félix, faz parte da nova geração de barbeiras, ou melhor, dizendo, barber designer da atualidade, reside no bairro da Penha, zona leste de São Paulo, levanta às 6h de terça-feira a sábado, pausa todos os dias cinco minutos para renovar as energias, em seguida vai para a academia, chega à estação do metrô e dirigi-se ao Circus Hair, seu local de trabalho, que fica localizado nos Jardins, bairro nobre da cidade.
“As pessoas devem pensar, aonde essa menina vai de suspensório e gravata borboleta essa hora da manhã. Devem se questionar para onde eu estou indo”, diz Juliana ao se referir à reação das pessoas no transporte público.
Questionada sobre a mulher fazer parte desse ambiente masculinizado, Juliana afirma que “a mulher é bem mais delicada, passar a navalha não necessita de força e sim manuseio, o trabalho é a mesma coisa, o que muda é o físico”.
Acompanhe o bate papo com a barber designer Juliana Félix.
Portal Pepper: Como se interessou pelo universo masculino?
Juliana Félix: Quando pequena, costumava acompanhar meu pai na barbearia e ficava completamente fascinada pelo ambiente. Conforme fui crescendo, a paixão e o interesse pela barbearia e por cortes masculinos só foram aumentando. Decidi, então, me aperfeiçoar na área e seguir o meu coração. Estava certa.
PP: Sofreu ou sofre algum preconceito por ser ‘barbeira’?
JF: Antes de ingressar na área, cheguei a ficar preocupada algumas vezes se teria uma boa receptividade das pessoas. Entretanto, felizmente, desde que iniciei como barbeira no Circus me surpreendeu positivamente, pois todos os clientes que chegaram ao espaço me trataram normalmente. Quero que os clientes me tratem com o mesmo grau de exigência, sendo mulher ou homem. E isso tem acontecido naturalmente.
PP: Como é tratada no trabalho e/ou quando descobrem que é barbeira?
JF: No trabalho sou tratada como qualquer profissional. O Circus tem uma diversidade incrível em termos de equipe e clientes e isso é o mais legal de trabalhar aqui. Nossa marca é reconhecida por ser um espaço inclusivo. Então, o cliente que frequenta o salão, já sabe que não tem estereótipo e nem regra e naturalmente já é mais aberto a essa questão. O cliente chega ao espaço e quando me conhece até elogia o fato do salão ter uma barbeira, pois alguns deles já fizeram barbas com profissionais barbeiras no exterior. Ainda que alguns possam se surpreender, sempre voltam e se tornam clientes fiéis, o que para mim significa que gostaram do meu atendimento, independente da questão de gênero.
PP: Como é a relação com a sua família?
JF: Tenho uma relação super positiva com a minha família. Sou muito grata por sempre me apoiarem e me incentivarem a seguir essa carreira.
PP: Já aconteceu algum fato interessante/ desagradável em seu trabalho, pelo fato de ser mulher?
JF: Não, ainda não. Mas eu acredito que se um dia acontecer terei de me posicionar e gerar algum tipo de aprendizado para mim e para essa pessoa. Nós só mudamos nossa visão a respeito das coisas quando temos a chance de dialogar, conhecer, vivenciar. Eu respeito o ponto de vista do outro desde que o outro também respeite o meu, ou seja, fico tranquila nesse sentido. Tento mostrar que sou uma boa profissional e que vou fazer o meu melhor sempre.
PP: Se não fosse barbeira, o que seria ?
JF: Trabalharia com alguma profissão relacionada à arte ou criatividade. Eu acredito que ser Barber Designer e Hairstylist, é um conjunto dos dois, sendo assim me sinto muito realizada na minha área.
PP: O que deve ser feito para se tornar uma barber designer?
JF: Bom, primeiro de tudo ter paixão pelo universo masculino, não só relacionado à barba. Depois ir buscar conhecimento, seja em forma de cursos, livro, viagens, conversa com barbeiros e profissionais mais experientes. Observar quem faz, quem fez e incorporar o seu estilo, para ter o seu toque. Ainda quero fazer cursos e viagens para continuar me especializando.
PP: Por que o mercado de barbearias cresceu tanto ultimamente em São Paulo?
JF: O homem está buscando cuidar-se mais, não só em termos estéticos, mas principalmente saúde e bem-estar. Complementar a isso, acredito que os padrões estão caindo, então vale usar barba, bigode, cavanhaque ou mesmo não usar nada disso, que tudo bem. Vejo diminuir aquele preconceito que existia no mundo corporativo de que não podia ter barba em determinadas áreas. As barbearias sempre existiram, mas agora estão oferecendo novas experiências ao público masculino, com informação sobre novas técnicas, tendências e estilo de vida.
PP: Acha que tem espaço para todos?
JF: Tem espaço para todos aqueles que se aprimoram. Hoje em dia as técnicas avançam com muita rapidez e é fundamental buscar conhecimento na área para ser um excelente barber designer.
PP: O que falta nesse ambiente masculino para integrar a mulher?
JF: Em minha opinião nada falta. A mulher que queira se tornar uma barber designer deve ter coragem e seguir a sua paixão pela profissão, assim como eu segui a minha.
PP: O que não pode faltar para uma barbeira?
JF: Não pode faltar informação! Muitas barbearias fazem o trabalho manual perfeitamente e se esquecem de passar informações aos seus clientes como a forma como o cliente deve cuidar da barba no dia a dia, a forma como ele irá fazer a manutenção antes de voltar etc.
PP: E seus projetos?
JF: Bom, além de atender como barber designer e realizar cortes masculinos, começo meu caminho nesse mês como uma “educadora” oficial do Circus. Vou dar meu primeiro curso de barbearia no salão para iniciantes. A ideia é oferecer cursos do iniciante ao avançado. O mais legal é que muitos dos alunos são mulheres, o que me deixa muito feliz em saber que em um futuro próximo a mulher não será mais um tabu nessa profissão.
PP: Você é vaidosa? Se maquia? É antenada com moda ou segue um estilo próprio?
JF: Sou muito atentada à moda e tenho meu estilo próprio, muito pautado no universo masculino. Amo usar suspensório, gravata borboleta, não uso muita maquiagem, mas meu cabelo está sempre com um corte moderno. O fato de trabalhar com consultoria de imagem faz com que sempre fique antenada nas últimas tendências.
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