SONY MUSIC HOMENAGEIA MORAES MOREIRA E DISPONIBILIZA SUCESSOS E PRECIOSIDADES EM 11 ÁLBUNS AINDA INÉDITOS

O SWING, A POTÊNCIA CRIATIVA E O ALTO ASTRAL ÚNICOS DO ARTISTA ESTARÃO SEMPRE CONOSCO
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09.12.2023

Daryan Dornelles / Divulgação

por Rodrigo Faour

Por uma fatalidade, um mês após o começo da pandemia do coronavírus, em abril de 2020, Moraes Moreira nos deixou, justo ele, um arauto da alegria, dono de uma voz e de um cancioneiro dos mais marcantes. Por não estar mais aqui, nos resta recordá-lo ouvindo seus inúmeros e ótimos álbuns, vários deles ressurgindo agora via streaming. Gravados na extinta CBS (1984-1991), nem todos estão entre os mais conhecidos de sua obra, porém valem muito serem redescobertos.

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Por iniciativa do incansável time de estratégia de catálogo da Sony Music, que dá prosseguimento ao projeto de digitalização de seu catálogo, incluindo a restauração de tapes analógicos e projetos gráficos originais, além de “Cidadão” (1991), já disponibilizado, são lançados agora mais cinco álbuns de carreira, dois compactos (sendo um, de seu filho Davi Moraes), e quatro boas coletâneas (sendo uma delas uma coletânea dupla com Pepeu Gomes), já disponibilizados. Moraes Moreira nasceu e foi criado na pequena Itaiçú, no sertão baiano, onde foi alfabetizado musicalmente ouvindo o serviço de alto-falantes e as emissoras de rádio locais que tocavam os artistas populares daquele tempo, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Angela Maria, Anísio Silva e a turma roqueira do país que estava começando.

Aos 17 anos, em 1964, foi para Salvador tentar a sorte. Ali se deparou com uma capital efervescente de grandes novidades: o Cinema Novo, a bossa nova, o trio elétrico, os shows do Teatro Vila Velha que revelaram, entre outros, Caetano e Gil, que dali a alguns anos fundariam a Tropicália. No final da década, ele já estava ao lado de Baby Consuelo (hoje “do Brasil”), Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor e do poeta Luiz Galvão no grupo Novos Baianos, que, migrando para o Rio de Janeiro, marcou época não apenas pelo sucesso, como pelo visual e postura hippies, vivendo numa comunidade em Jacarepaguá, zona oeste da cidade, na base do “paz e amor”. Moraes foi o principal compositor do grupo, junto ao letrista e poeta Galvão, tendo sido grande responsável pela inventividade musical do grupo, que marcou a música brasileira e influenciam gerações até hoje.

A carreira solo veio em 1975 e o nome artístico Moraes Moreira (antes era apenas Morais) lhe foi sugerido pelo empresário Guilherme Araújo. Na mesma época, ao lado de Armandinho somou-se o pioneiro trio elétrico Dodô e Osmar, produzindo seu primeiro disco, e compondo o hit “Pombo Correio”, baseado numa velha melodia dos dois. Em 1976, já era o primeiro cantor a vocalizar em cima de um trio, na Bahia, ainda de forma rudimentar, pois até então eram apenas instrumentais. Entre o fim dos anos 1970 e o início da década seguinte, vieram muitos sucessos e novos parceiros, como Fausto Nilo, Abel Silva, Tom Zé, Fred Góes, Guilherme Maia, Zeca Barreto, Risério, Capinam, Toni Costa e tantos outros. Na mesma época, medalhões da MPB, como Gal Costa, Simone, Ney Matogrosso, MPB/4, Amelinha, Elba Ramalho estouraram com músicas de sua autoria, na maioria, criadas exclusivamente para eles. Estava consagrado.

Foi nesse contexto que, após passar pela Som Livre e pela Ariola, Moraes assinou com a CBS. Seu primeiro álbum, “Mancha de Dendê Não Sai” (1984), passeava por usos e costumes de vários cantos do Brasil, como Minas, Bahia, Goiás, Rio e Pernambuco, abordando assuntos que iam da cultura dos orixás ao tempero do dendê, passando pela exaltação aos ritmos pernambucanos do frevo e do maracatu, pelo futebol carioca no Maracanã e o contraste do mar com o sertão, sem esquecer o trio elétrico, tema da canção “Caminhão da Alegria”. Vale mencionar parcerias como Dominguinhos (o xote pop “Beijo de planeta”), Fausto Nilo (na delicada “Carro alegórico”) e Paulo Leminski (na funkeada faixa-título). Ainda em 1984, seu filho Davi Moraes, então com 11 anos de idade, ganhava um compacto com o aval paterno, marcando a estreia do futuro grande músico, trazendo “Papai no Colégio”, de Moraes e Ziraldo, tendo do outro lado o tema instrumental autoral “Pai e Filho”.

Em 1985, foi a vez do álbum “Tocando a Vida”, cuja canção mais conhecida é o samba “Santa fé”, tema de abertura da novela de maior sucesso de todos os tempos, “Roque Santeiro”, da TV Globo. O álbum, realizado em pleno boom da retomada do rock brasileiro nas paradas, abria justamente com um exemplar do ritmo, “Alma de guitarra”, dele com Paulo Leminski. Eclético, gravou o belo choro “O bandolim de Jacob” (com Armandinho), em tributo ao ás do gênero, Jacob do Bandolim. Na verdade, este álbum é uma elegia aos instrumentos musicais, há temas evocativos também à bateria, ao violão, ao piano (“ex-cravo”), ao acordeom (“e a sanfona”), ao cavaquinho, à flauta até chegar à última faixa, quase uma “bonus track”, o afoxé de tempero pop “Olhos de Xangô”. No final do ano, ele lançou o compacto “Moraes Carnaval Moreira” com duas músicas para a folia de 86, “Cara de robô” (com Fausto Nilo) e a autoral “República da música”.

“Mestiço é isso” (1986) foi seguramente seu álbum da CBS de maior sucesso, por trazer “Sintonia”, dele com Fred Góes e Zeca Barreto. Vendo a mudança rumo ao brega-romântico do mercado musical de então, Moraes, numa espécie de metalinguagem, criou uma canção bem popular sob medida para o gosto radiofônico vigente. Deu certo. Incluída na trilha da novela das sete da TV Globo, “Hipertensão”, a canção ficou mais de seis meses nas paradas: “Escute esta canção / Que é pra tocar no rádio / No rádio do seu coração / Você me sintoniza / E a gente então se liga nesta estação / Aumente o seu volume / Que o ciúme não tem remédio…”.

O álbum se completa com um belo medley de grandes marcha-frevos autorais que obtiveram sucesso em vários carnavais passados, além de canções com participações de seus conterrâneos Caetano Veloso (“Bloco do povo”), Gilberto Gil (“Salvador é um Porto Seguro”) e Luiz Caldas (“Pernambuco, Jamaica e Bahia”). O ano de 1988 rendeu dois álbuns lançados pelo cantor. O primeiro foi “Baiano fala cantando”, que destacou a faixa de abertura, “Por que parou, parou por que”, dele com Guilherme Maia, que por muitos anos puxou o coro de bis ao final dos shows de MPB em vários cantos do país. O filho Davi Moraes reaparecia na autoral “Som do sonho” e o ritmo da moda, paraense, que virou febre nessa época a partir de Porto Seguro, na Bahia, marcava presença na igualmente autoral “Lambada de amor não dói”.

O segundo álbum do ano, “República da Música”, fazia alusão no título à chamada Nova República, que naquele ano promulgava a nova constituição federal, até hoje em vigor. Entretanto, na mesma época, também apareceram latas de maconha boiando no litoral carioca, que imediatamente entraram para o folclore urbano, daí o fato de uma delas estar estampada na capa do álbum, trazendo no rótulo, justamente, o título do disco. O mesmo destacava a romântica “Vem me perdoar” (com Zeca Barreto), na linha de “Sintonia”, além de regravações de “Ferro na boneca” e “Preta pretinha”, da época dos Novos Baianos – a primeira delas trazendo a participação dos seus colegas de grupo, Baby, Pepeu e Paulinho Boca de Cantor.

“Moraes & Pepeu” (1990), então seu 15º álbum, mostrava as parcerias com seu ex-companheiro de grupo e eterno amigo Pepeu Gomes, num vitorioso disco, que deu origem a uma turnê internacional, os levando até mesmo ao Japão, cujo maior sucesso por aqui foi a canção “A lua e o mar”, deles com Fausto Nilo, inclusa na trilha da popularíssima novela “Tieta”. Também se destacou o afoxé “É bom suar”, deles com Fred Góes, brincando com a pronúncia semelhante da saudação francesa “bon soir” (boa noite).

Por fim, a coletânea de Moraes da série “Brilhantes” (1997), rebobina várias das faixas já citadas neste texto, efetivamente algumas das mais representativas gravadas em sua fase CBS, incluindo a canção “Cidadão”, faixa-título de seu álbum de 1991, e uma bela regravação de “País tropical” e “Chove chuva”, de Jorge Ben, para o CD coletivo “Bossa nova, para fazer feliz a quem se ama” (1988), produzido por Roberto Menescal. O swing, a potência criativa e o alto astral únicos de Moraes Moreira estarão sempre conosco, a cada faixa revivida por nós, agora nem tanto em mídias físicas, mas nas novas plataformas de streaming, que a Sony Music em boa hora ajuda a ampliar seu cardápio de opções. Aperte o play:

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