O mundo todo de olho nos atletas e nas competições da Olimpíada de Tóquio. Países inteiros torcendo por seus representantes de cada modalidade esportiva. Imagine a pressão. Essa semana acompanhamos as notícias sobre a atleta norte-americana Simone Biles que, mesmo sendo considerada a atleta favorita na ginástica artística, desistiu de continuar na competição. O assunto repercutiu bastante nas redes sociais e trouxe uma reflexão extremamente importante: o cuidado com a saúde mental.
“A ESCUTA É ALGO MUITO IMPORTANTE PARA AJUDAR ALGUÉM COM DEPRESSÃO”
Nos últimos anos felizmente viemos acompanhando uma abordagem melhor e mais ampla sobre saúde mental, mas precisamos normalizar ainda mais essas situações. A atitude de Simone Biles pode – ainda – não ter sido compreendida por todos, mas com certeza foi de grande importância para ela, além de proporcionar uma discussão relevante sobre o tema. Não existiria nenhum tipo de questionamento se a atleta norte-americana estivesse com uma lesão física, por exemplo, então por que questionam algo relacionado à saúde mental?
Entretanto, acredito não ser possível falar da Biles desconsiderando a forma como a sociedade afeta o psicológico, sobretudo, da mulher negra. As mulheres são mais pressionadas que os homens, é um fato. Desde que as mulheres nascem, atribui-se muito mais cobranças a elas do que aos homens. Cobranças que variam desde a parte estética até a comportamental. São padrões absurdos e ultrapassados que nos forçam a seguir dia após dia. Quantas não adoecem com a pressão que colocam sobre elas, principalmente no setor profissional? Quantas precisam desistir de algo para cuidar de si e não podem ou não são compreendidas? Quantas não aguentaram?
A VIDA ANSIOSA OFERECIDA ÀS MULHERES
De toda forma, atletas e profissionais de qualquer área, antes de tudo são seres humanos e por vezes, precisam parar, buscar ajuda profissional e se estabilizarem psicologicamente, para então retomarem suas atividades. E não tem como falar de cuidado com a saúde mental sem compreender o quanto o cenário atual vem nos afetando. Além dos desdobramentos preocupantes da pandemia do coronavírus, vivemos um momento em que as redes sociais tomaram lugares espaçosos em nossas vidas, prejudicando o psicológico de muitas pessoas com os comentários de ódio e a constante insatisfação com a vida nada perfeita fora dos filtros. Essa “vida perfeita” vendida nas redes sociais também reforça a ideia de que não podemos demonstrar nenhum tipo de fragilidade, insegurança ou vulnerabilidade. Viver nessa era virtual tem consequências graves, porque esse conceito de “vida filtrada” pode nos tornar menos tolerantes aos fracassos e erros que fazem parte da vida humana.
A atitude de Simone Biles é corajosa e significativa para o mundo todo. Um exemplo de autoconhecimento e respeito aos próprios limites. Uma atitude contrária ao que a sociedade cobra e espera dela (e de todas nós), mas que reflete diretamente em seu bem estar. Uma atitude madura que abriu espaço para discutirmos a saúde mental dos atletas e de qualquer outro profissional. Atitude que abre caminho para expor nossas vulnerabilidades e encontrar formas de aceitá-las.