Silvio de Abreu: “Não adianta estudar se você não tem talento”

O autor fala sobre suas novelas, preferências e polêmicas
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20.03.2015

Divulgação

Silvio Eduardo de Abreu ou, simplesmente, um dos melhores autores da teledramaturgia brasileira, Silvio de Abreu. Paulistano nato, vive, escreve e respira São Paulo todos os dias.

Conhecedor da capital paulista como ninguém, é famoso pelos suspenses que envolvem seus personagens como em A Próxima Vitima, Torre de Babel, Rainha da Sucata, Cambalacho, Passione e seu remake de Guerra dos Sexos.

Portal Pepper: Você já foi ator. Conta sobre essa experiência?
Silvio de Abreu: Péssima. Sou péssimo ator, não tenho talento para ser ator. Fiz oito novelas, trabalhei oito anos como ator, fiz várias peças de teatro, fiz filmes. Ser ator não é só decorar texto e falar igual papagaio, igual muitas pessoas falam. Ser ator é ter o poder da transformação, de você conseguir se colocar naquele personagem. Pra você ser ator deve ter um talento especial. Não adianta querer ser ator, e não adianta estudar se você não tem talento.

PP: No inicio de sua carreira você dirigiu pornochanchada. Como foi essa fase?
SA: Ótima. Aprendi muita coisa. Além de divertido foi uma liberdade de criação muito grande. Foi ali que aprendi a mexer com câmera, analisar script e onde comecei a escrever.

PP: Suas tramas são ligadas ao universo policial. Você se identifica com esse estilo?
SA: Eu gosto muito, é meu gênero predileto. Eu gosto de comédia, policial e melodrama, minhas tramas sempre misturam esses três gêneros.

PP: Suas histórias são sempre baseadas em São Paulo. Seria porque você é um paulistano nato?
SA: Na verdade é a cidade que eu conheço melhor. E quando você está escrevendo novela, você não pode ficar somente preso à pesquisa. Você precisa fazer a novela mais próxima do telespectador. As novelas não se passam em São Paulo, elas são sobre os paulistanos, eu conheço bem o povo paulistano. Se você escreve uma novela carioca, eu tenho que conhecer o povo carioca, não é só a cidade, é o espirito da cidade que faz dar certo.

PP: O que você mais gosta em São Paulo?
SA: São Paulo tem de tudo, eu gosto da variedade. É uma cidade péssima e excelente, tem de tudo, tem assalto, buraco, um trânsito horroroso, mas têm restaurantes maravilhosos, ruas lindas, cinemas excelentes, vários teatros, hoje em dia tem uma produção teatral maravilhosa. É uma cidade que você encontra de tudo, é igual à New York. Adoro a região do Jardim Paulista.

PP: A que se deve o fracasso de audiência da novela As Filhas da Mãe, que saiu do ar antes do previsto?
SA: Falta de comunicação entre minha pessoa e o público. Sempre que uma novela não dá certo, é que eu não consegui transmitir minhas ideias ao público. Ela tinha uma narrativa muito difícil. Ela tinha um público forte, mas pequeno, um público de classe A, adolescentes e até universitário muito forte, era uma novela que tinha projeção, mas o grande público noveleiro, que são as donas de casa, não é que não gostavam, eles não entendiam.

SILVIO DE ABREU E JORGE FERNANDO

PP: Você abordou homossexualidade em A Próxima Vítima, lesbianismo em Torre de Babel. Esses personagens seriam como um “acorda sociedade”?
SA: E também abordei o tema em A Boca do Lixo. Cada uma delas teve um propósito, não seria um alerta, a novela ajudou muito a abrir a cabeça da população, não só as minhas, mas no geral, tenho certeza que hoje em dia o homossexualismo não é visto da mesma maneira de como era visto há 20 anos, tenho plena certeza. É só você ver as paradas gays que tem. Não que seja obrigação das pessoas se mostrar eu sou isso, ou sou aquilo. Mas se estão se mostrando é porque existe uma tolerância maior da sociedade em relação ao tema. As novelas da TV Globo são responsáveis por grande parte disso.

PP: O que acha sobre o beijo gay na televisão?
SA: É uma bobagem isso, uma besteira. O que a televisão não quer é assustar o telespectador. Você deve pensar em quem está assistindo, não pode ser agressivo, então pra que fazer isso. Você vai contentar a parte dos gays, e terá um monte de gente que é o grande público dizendo “ai que nojo não quero ver isso”. A televisão funciona como um espelho da sociedade.

PP: Porque você repete alguns personagens em outras novelas?
SA: Eu precisava de um personagem que trabalhasse com o Gianecchini na oficina, em Passione, meio bobo, ingênuo, eu pensei esse personagem está igual ao Jamanta de Torre de Babel, então eu já boto o mesmo, pra que mexer se o personagem já existe.

PP: Qual a melhor novela da TV brasileira? E qual seu maior personagem?
SA: Teve duas. Vale Tudo e Que Rei Sou Eu. Do Gilberto Braga e do Cassiano Gabus Mendes. Teve também Mulheres de Areia, nas duas versões foram ótimas. É tão difícil falar dos personagens, não sei te responder.

silvio de abreu e fernanda montenegro

PP: Filme que não pode faltar em seu acervo?
SA: Não pode faltar a coleção do Hitchcock.

PP: Como foi ganhar o Prêmio de Melhor Novela do mundo na Ásia?
SA: Foi divertidíssimo. Foi com a Passione

PP: Porque atores gays não devem sair do armário?
SA: O galã é o sonho da telespectadora, ela sonha com aquele cara, ela corta a fotografia dele e coloca no armário dela. Quando ela descobrir que ele é gay, o sonho acaba. As pessoas imaginam que ser é não gostar de mulher, e não é, é outra coisa. Se o ator quiser se assumir é o problema dele, mas ele vai perder papel. Agora se ele faz outro tipo de personagem e nunca o galã, ai tudo bem. Mas se ele faz o sonho de amor, ele é idiota, se chegar e dizer eu sou gay, é um tremendo idiota.

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