“Mais um passo pra fora da nossa zona de conforto”. É dessa maneira que Gustavo Bertoni, vocalista do Scalene, define o quinto álbum de estúdio da banda. Intitulado “Labirinto”, o trabalho percorre por uma narrativa que busca pelo centro e propõe uma ideia cíclica de um caminho eterno, onde toda chegada é também um ponto de partida. Temas como autoconhecimento, tecnologia e solidão fazem parte dessa jornada.
Para instigar a curiosidade e o imaginário de quem ouve, a banda formada por Gustavo Bertoni (vocal), Tomás Bertoni (guitarra) e Lucas Furtado (baixo) reúne 13 composições feitas entre os anos de 2019 e 2021 e cuja criação passou por momentos de dor, segundo o vocalista. “Ter que retornar pra quem você é pode ser doloroso. Muitas vezes, ficar mudando serve como uma fuga”, pontua. As faixas desenvolvem, além da identidade roqueira da banda, assuntos tratados ao longo da sua história.
“Labirinto” é visto como parte de um ciclo vivenciado pelo Scalene, imagem que remete ao ouroboros, figura mítica símbolo da evolução e da reconstrução. “Tudo que a gente vem questionando e pensando nos últimos discos tem se mostrado cada vez mais necessário de ser abordado”, pontua Tomás. “Com esse disco, a gente chegou ao jardim e começou um novo labirinto”, ele conclui.
O labirinto sonoro do Scalene vem em ondas, com momentos de introspecção e de explosão, mas sempre pautado por reflexões acerca de assuntos contemporâneos. Faixa que abre o disco, “Ouroboros” conta com participação do rapper Edgar e introduz a ideia de ciclos, que voltará a aparecer durante a audição. Lançadas como singles, “Névoa” e “Discórdia” tratam, respectivamente, do uso de entorpecentes lisérgicos como forma de mergulho em si e do caos como possibilidade de transformação pragmática.
A influência do trip hop aparece em “Sincopado“, assim como na explosiva “Febril“, primeiro single revelado de “Labirinto” e responsável por demarcar a retomada de um som mais pesado. “Abissal“, por sua vez, traz uma letra inspirada na tensão sexual de um primeiro encontro. “Fala sobre o medo e a tentação de adentrar na escuridão de outra pessoa e sobre a possibilidade de se conhecer melhor a partir disso”, comenta Gustavo. “Tantra“, também lançada como single, segue na temática do autoconhecimento e alcança o ponto mais contemplativo do álbum, que tem a sua introspecção mantida em “27“.
Com a participação de Gabriel Zander, da banda Zander, importante nome do hardcorebrasileiro, “1=2” traz de volta as influências de stoner rock do Scalene e entrega outras pistas de onde vieram as inspirações conceituais de “Labirinto”. “Rocha Lunar” abre questionamentos sobre como os desejos são moldados por grandes corporações, algoritmos e crenças limitantes; enquanto “Revés” entra na reta final do trabalho com aplicação de uma sonoridade pop punk, porém em um contexto dark.
Oscilando entre explosão e calmaria, “Fortuna” se debruça sobre a superação do rancor e traz a participação da banda norte-americana O’Brother, agregando elementos mais “sujos” do rock – em suas vertentes sludge e stoner. “Jardim” encerra o álbum e completa o ciclo iniciado em “Ouroboros”. A música resgata traços da música brasileira, algo que Gustavo vê como elo entre o novo trabalho e “Respiro”, lançado em 2019. “A gente tem bebido um pouco das intenções do techno e do synth wave, mantendo elementos de brasilidade que agora são meio inevitáveis depois da experiência com o Respiro”, ele comenta.
Ao final da audição, o caminho revelado pelo Scalene se mostra complexo, revigorante, doloroso, engrandecedor e perturbador. “É como o processo de compreender a si mesmo”, finaliza Gustavo. Ouça o álbum na íntegra: