Nos últimos anos, alguns bairros da região central de São Paulo vêm sendo cada vez mais procurados por jovens das camadas médias e altas da população, na contramão de uma tendência histórica de deslocamento das elites para longe do Centro. São muitos os fatores que resultam nessa movimentação – que é objeto do estudo de Maurício Alcântara em “São Paulo, a Cidade na Escala Hipster”, livro lançado pela editora Telha. Na pesquisa, o antropólogo investiga as motivações que levam esses jovens privilegiados a optar por viver na zona central da maior capital do país, movidos por novos repertórios – em geral, mais progressistas e conectados com tendências globais – de estar na cidade, de reivindicá-la e de fruir dela.
Além disso, o autor reflete sobre as consequências desse fenômeno da “hipsterização”, colaborando para o debate global acerca da “gentrificação” a partir da etnografia urbana. O ponto de partida da pesquisa foi uma mudança no perfil do comércio local, com a proliferação de novos restaurantes, espaços culturais, lojas e cafés voltados a um público majoritariamente jovem, composto por pessoas alinhadas a um espectro político progressista, que trabalham em áreas que valorizam a criatividade, e fazem questão de usufruir de toda a diversidade cultural e de serviços que a região oferece.
“Na última década, quem frequenta a região percebe mudanças não apenas na paisagem e no perfil de ocupação das calçadas, mas também nas maneiras como a imprensa, o mercado imobiliário, pesquisadores e a opinião pública tratam o fenômeno da ‘hipsterização’. A chegada dos ‘santa ceciliers’ é ao mesmo tempo um fenômeno social, econômico e cultural local, mas em forte sintonia com tendências observáveis em diversas grandes metrópoles em todo o mundo. A publicação da pesquisa em livro é uma enorme satisfação, e espero que a obra possa contribuir com debates para além do universo da academia sobre os temas nela explorados”, diz Maurício Alcântara.
“São Paulo, a Cidade na Escala Hipster” é o resultado de uma pesquisa antropológica realizada entre 2016 e 2019 no bairro da Vila Buarque.Apresenta uma breve contextualização histórica das transformações pelas quais o bairro e seu entorno passaram desde sua urbanização, no final do século XIX, e analisa os diferentes processos envolvidos na consolidação de uma “cena hipster” no Centro – tais como a circulação de referências estéticas, tendências de consumo e estilos de vida em escala global, os impactos da precarização do mercado de trabalho nos novos estabelecimentos voltados a esse público, e os debates sobre a segregação urbana que esse fenômeno pode provocar.240 páginas. R$ 69.