“O passado é uma roupa que não nos serve mais”, já dizia Belchior, em meados de 1976, sobre a dialética do tempo, mesma década em que Sandra Pêra era ovacionada pelo público por integrar o grupo pop do momento, As Frenéticas, e dividia o apartamento com o cantor Ney Matogrosso, anos depois, a parceria continua firme e forte, fruto dessa amizade é a releitura de “Velha Roupa Colorida” que acaba de ganhar um divertido e colorido clipe, além do álbum “Sandra Pêra em Belchior”, segundo disco de sua carreira, lançado pela gravadora Biscoito Fino, após um hiato de 38 anos, com o lançamento de “Sandra Pêra” (1983). Assista abaixo:
“A ideia surgiu em um jantar na casa da Kati Almeida Braga, enquanto ouvíamos o CD do Fagner, ‘Serenatas’, que tem produção do José Milton. Kati perguntou se eu gostaria de gravar Belchior e eu não perdi tempo em pensar, aceitei imediatamente e já saí pensando no repertório. Belchior é um dos nossos patrimônios, um poeta deslumbrante e um ser humano único com suas loucuras, suas genialidades, defeitos e virtudes, com um repertório sensacional que de dois anos para cá foi redescoberto e quem gosta de cantar, descobre como é bom cantá-lo”, diz Sandra Pêra.
A cantora que completa 51 anos de carreira fala sobre a participação de Ney Matogrosso no seu novo projeto, que traz participações especiais de Juliana Linhares (Quintais e Galos Noites-1976), Chicas (Pequeno Mapa do Tempo-1977), Zeca Baleiro (Na Hora do Almoço-1971), parceria que também ganhará um videoclipe em breve e um solo cantando (Paralelas-1975) – “Primeiro que o Ney sempre dá certo, ele é bom, ele é lindo, canta como um rouxinol e queria muito que nós dois cantássemos juntos essa letra, pela música, pela Elis Regina e pela nossa história juntos”.
O álbum é composto por 11 canções, entre as mencionadas acima entram no repertório: (Todo Sujo de Batom-1974), (Sujeito de Sorte- 1976), sendo a abertura e fechamento do disco, (Divina Comédia Humana-1978), (A Palo Seco-1973), (Mucuripe-1972), (Medo de Avião-1979).
Enganam-se quem acha que irá encontrar toques frenéticos em sua nova produção, o disco traz muito da dramaticidade da atriz em suas releituras – “Eu tenho um temperamento, tenho uma atriz em mim que sempre esteve comigo em Frenéticas também, mas éramos seis mocinhas irreverentes e alucinadas que faziam o público delirar. Hoje sou uma ‘moçona’ que se sente bem no palco, mas não tão alucinada e se alguém delirar comigo, vou morrer de rir, mas não estou apegada ao passado não”, explica.
“Estou me preparando para um show, pensando nessas músicas comigo em cima do palco. Gosto muito de cantar, sempre gostei. As minhas aspirações estão em minha voz, continuar cantando o que eu gosto”, frisa. A produção musical é assinada por José Milton e Amora Pêra, filha de Sandra.
“Acho que o cenário cultural brasileiro está muito difícil, muita gente bacana e um espaço meio reduzido para todos, mas muita música interessante em vozes interessantes se espremendo para um lugar ao sol e muita gente jovem cantando muito bem”, reflete sobre o atual mercado musical tupiniquim. Ouça o álbum: