Muitos afirmam que, após 2020, o mundo como conhecíamos não existe mais. E o que resta, então, em uma nova realidade de tons pós-apocalípticos? A resposta é o que o cantor e compositor Rodrigo Vellozo busca entender em “Não Canto em Vão”, décima faixa do álbum “O Mestre-Sala da Minha Saudade”, lançado em agosto do ano passado. Escolhida para embalar o novo videoclipe do artista, dirigido por Murilo Alvesso, a canção vaga pelo universo distópico do personagem que dá nome ao disco e se agarra a questionamentos existenciais para encontrar uma forma de se reconhecer e se reconstruir em meio aos caos.
“Fomos da sutileza de um sussurro à intenção de um grito, do silêncio à distorção”, conta Rodrigo sobre a música feita em parceria com César Lacerda e que traz versos provocadores, como “Máquinas, dúvidas, quem sou eu? Plásticos, átomos, quem sou eu?”. “São questões que surgiram para mim quando o meu universo pessoal foi abalado com a morte do meu irmão, mas agora também entrelaçadas à realidade do mundo, já que precisamos entender: quem somos nós frente a todas essas máquinas que nos ajudam a atravessar esse tempo todo de não-convívio?”, indaga.
As reflexões referentes ao isolamento social também foram palco para a gravação do videoclipe. Registrada no Teatro Oficina, em São Paulo, a produção dialoga com o lugar ausente da classe artística e do vazio dos espaços culturais neste momento de pandemia. “O Oficina é um símbolo da resistência da cultura do Bixiga, em São Paulo, do teatro brasileiro. É um lugar que tem o significado de luta e liberdade, um templo sagrado”, avalia Rodrigo. “Eu venho do teatro e ocupar aquele local como um artista foi muito emocionante, principalmente por estar ali nesse período tão difícil, de distanciamento. Foi um momento da minha vida inesquecível, que está gravado para além do videoclipe”, completa.
Agregando arranjo mais urbano às sonoridades apresentadas nos singles anteriores – “Hiato”, “O Samba que Esqueceu”, “O Mestre-Sala da Minha Saudade” e “Lágrimas no Meu Sorriso” – parceria com seu pai, Benito Di Paula -, “Não Canto em Vão” também marca o lançamento do disco em vinil, disponível na loja Circus. “O álbum foi naturalmente para um caminho dividido entre Lado A e Lado B. O primeiro traz construções sonoras mais marcadas por ritmos regionais, eles estão mais explícitos. Já o segundo, vai pra essa esfera mais urbana, se aproximando mais do arquétipo do Mestre-Sala da Saudade: esse personagem que é ele, ao mesmo tempo sou eu e, na verdade, pode ser todo mundo”, conclui. Assista: