POLÊMICAS À PARTE, ‘MARIGHELLA’ MARCA PROMISSORA ESTREIA DE WAGNER MOURA NA DIREÇÃO

ATOR TAMBÉM ASSINA ROTEIRO E PRODUÇÃO EM SEU PRIMEIRO FILME POR TRÁS DAS CÂMERAS
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06.11.2021

Divulgação / Reprodução

Momentaneamente, deixemos de lado polêmicas e pré-julgamentos que cercam esta significativa estreia do ator Wagner Moura como diretor. Falemos, sim, do que ‘Marighella’ (o filme), é: obra audiovisual ficcionalizada em formato de longa-metragem, baseada na biografia que Mário Magalhães lançou em 2012 a respeito de Carlos Marighella, escritor, político e guerrilheiro que enfrentou e foi preso em não apenas um, mas em dois regimes ditatoriais no país, sendo o primeiro o de Getúlio Vargas nos anos 30. É naquele imposto em 1964, e endurecido a partir de 1968, que a trama se concentra.

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Moura, também coprodutor e corroteirista, privilegia duas vertentes: as cenas de ação e a relação entre Marighella e seu filho. Na segunda dessas vertentes, se sai melhor. Na primeira, o resultado é irregular, fundamentalmente pelo uso de uma câmera na mão que treme de maneira excessiva – terrível modismo contemporâneo. Há momentos em que essa opção se justifica, como na tomada do trem, ainda no início, quando seguimos o protagonista pelos vagões quase que subjetivamente, como parte de seu grupo. A mesma cena, porém, conclui-se com o exagero citado: já fora do trem, em plano mais aberto, apenas para que se mostre a entrada nos carros e subsequente fuga, a câmera permanece tão trêmula quanto estava dentro do composto em movimento, já indicando a tônica do restante da projeção.

Que fique claro, não se trata de defender uma câmera completamente estável. Não é desse academicismo ultrapassado de que estamos falando. O que se discute é o quanto (e quando) essa instabilidade voluntária harmoniza-se com a ação retratada, impulsionando a narrativa, e o quanto esse movimento pode ultrapassar os limites a ponto de se tornar nauseante e nitidamente artificial, artificializando, por consequência, a tensão que buscava realçar. Como resultado, parte da força da cena se perde.

Explanado o principal ponto de atenção, passemos às qualidades de ‘Marighella’, igualmente evidentes. Por exemplo, seu forte elenco, afinadíssimo, liderado por Seu Jorge, confortável e convincente protagonista, e seu excelente opositor, Bruno Gagliasso (delegado Lúcio). Conta, ainda, com Adriana Esteves (Clara), Ana Paula Bouzas (Maria), Herson Capri (Jorge Salles) e Luiz Carlos Vasconcellos (Branco) como coadjuvantes de luxo, além de uma gama de jovens atrizes e atores de talento inegável. A reconstituição histórica, com carros, figurinos e objetos da época é igualmente caprichada, assim como a luz trabalhada na fotografia de Adrian Teijido.

Apesar de ceder a certas convenções, Wagner Moura demonstra personalidade, dando mostras do que podem se tornar marcas de sua carreira como diretor. Há provocantes quebras da quarta parede, quando encarando a câmera, personagens encaram também o espectador. São inseridas em momentos-chave, sempre nos desafiando a tomar partido e agir. Portanto, se há algo da qual ‘Marighella’ não pode ser acusado é de ser um filme que falseia distanciamento e neutralidade perante o tema e figuras históricas abordadas. Daí essa câmera sempre próxima e inquieta (ainda que demais) ao lado de seus retratados.

Especialmente representativa é a cena extra no meio dos créditos finais, talvez a mais explicitamente política de todo o filme: ao cantar o hino nacional com intenso ardor, é como se o elenco redemocratizasse este símbolo tão apoderado por determinados grupos nos últimos anos. Nesse sentido, sendo a arte, e sobretudo o cinema, espelho do momento e da sociedade em voga, não importando qual época a obra retrate, inevitavelmente ‘Marighella’ pulsa mais forte entre os que não se sentem representados pelo atual governo – mesmo os que não endossam necessariamente todas as atitudes tomadas pelos personagens.

Ao outro lado, porém, não é preciso esforço para notar as contradições que rodeiam esses mesmos personagens e usá-los como combustível para alimentar uma rejeição possivelmente pré-existente. Essa dualidade é planejada e engrandece o filme, à medida que torna mais complexa e profunda as questões nele tratadas, o livrando, assim, de julgamentos simplistas. O saldo, portanto, é positivo e faz de Wagner Moura um cineasta extremamente promissor.

Marighella – Brasil, 155 min, 2019 – Dir.: Wagner Moura – Estreou em 4/11. Assista ao trailer:

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