Foi em 1921, no período pós-Primeira Guerra Mundial e Gripe Espanhola, quando o sentimento de vida, liberdade e hedonismo tomava conta da sociedade, que surgiu – pelo faro de Coco Chanel – a fragrância que tinha o compromisso de sinalizar os novos ideais.
50 ANOS DA MORTE DE COCO CHANEL – LEGADO DA ESTILISTA SUPERA SUAS CRIAÇÕES
Maio é tido como o mês da apresentação do aroma ao círculo íntimo de sua idealizadora. A lenda diz que foi no dia 5 deste mês 5 que ela causou um pequeno furor em um restaurante francês ao borrifar no ambiente a sua nova invenção para um grupo de amigos. Afinal, o 5 já era o seu número de sorte desde a infância e, além disso, foi a quinta prova dentre várias, que ela havia aprovado como o perfume que se tornaria o mais famoso de todos os tempos.
Ambição da estilista, a fragrância foi além do que imaginava a sua respeitada criadora e empresária de sucesso – que estava revolucionando o guarda-roupa feminino nesta mesma época. O Chanel n° 5 representou o espírito de um tempo de mudanças na cena artística, cultural e social no continente europeu. Em harmonia com o movimento disruptivo no trabalho de pintores modernos como Pablo Picasso e Salvador Dali; no fenômeno do Dadaísmo; na quebra de convenções da música de Igor Stravinsky e nos balés russos do diretor Serguei Diaghilev, Chanel concebeu um ícone fashion que seria um divisor de águas na história da moda e perfumaria.
Amiga e mecenas desses e outros artistas, ela entendeu que o seu perfume deveria ser diferente de tudo o que já tinha sido feito. Para isso, alinhou-se com o perfumista Ernest Beaux, que havia sido o criador da já diferenciada fragrância preferida da czarina Alexandra Romanov, antes da Revolução Comunista. Determinou um frasco transparente e de linhas retas, que fugia do até então em voga decorativismo art-nouveau e validou na essência um composto transgressor: uma recente descoberta química, os aldeídos, que misturados com o aroma concentrado de flores – principalmente o jasmim – produziram o “cheiro de mulher” que Chanel procurava. Um verdadeiro ato de vanguarda para a perfumaria mundial e os hábitos da sociedade de então.
O Chanel n° 5 trilhou uma trajetória extremamente bem-sucedida, vendendo bilhões até os dias de hoje. Era usado como item único por Marilyn Monroe para dormir. Foi retratado pelo artista pop Andy Warhol, tornando-se objeto da primeira obra de um perfume a fazer parte da coleção permanente do MoMA – Museu de Arte Moderna de New York. Também passou por discórdias entre sua criadora, Gabrielle Chanel, e seus sócios. Mas para os admiradores a concepção singular deste produto, definida com tanto zelo e significado, fez dele mais do que um item avant-garde – o Chanel n° 5 é o aroma deste último século.