“O MENINO DO BOSQUE”, DE HARLAN COBEN, LEVANTA TEMAS COMO BULLYING E A NECESSIDADE DE CONHECER AS ORIGENS

DISPUTAS ELEITORAIS E O PAPEL DECISIVO DA MÍDIA TAMBÉM ENTRAM EM PAUTA NA TRAMA
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08.05.2021

Joel Saget / AFP

Conhecido por seus plot twists e finais surpreendentes, o norte-americano Harlan Coben novamente entrega um belo suspense com seu “O Menino no Bosque”, lançado em abril de 2021 no Brasil, pela editora Arqueiro. Na trama, somos apresentados ao protagonista Wilde, que, na primeira infância, viveu anos isolado na floresta. Frequentando casas abandonadas, ele aprendeu a ler sozinho – aliás, continua um ávido leitor – até fazer contato com uma criança local, ser adotado e começar a frequentar a escola regularmente. No entanto, ele tem diversas lacunas em suas memórias e sabe pouquíssimo sobre sua infância. 

Adulto, Wilde tem um cotidiano absolutamente minimalista, e a descrição detalhada do autor é deliciosa para embarcarmos no universo peculiar do personagem, uma espécie de bicho-papão da cidade, temido por todos:

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“Wilde vivia num casulo esférico personalizado chamado Ecocapsule. A “ecocápsula” era uma microcasa inteligente, moradia ecológica ou casa móvel compacta, como preferir, criada por um amigo eslovaco que ele conheceu enquanto servia no Golfo. A estrutura parecia um ovo de dinossauro gigante. Usando diferentes tons de tinta fosca, Wilde a havia pintado por fora com uma estampa de camuflagem, para mantê-la escondida. O espaço total era pequeno, com menos de 7 metros quadrados e um cômodo, mas tinha tudo de que ele precisava: uma microcozinha com fogão de indução e uma minigeladeira, um banheiro completo com torneiras que economizavam água, chuveiro e um toalete incinerador, que transformava os dejetos em cinzas. A mobília era integrada: mesa, armários, depósitos, uma cama dobrável – tudo feito de painéis leves do tipo colmeia com acabamento em laminado de freixo. O exterior do ovo era feito de conchas de fibra de vidro com isolamento montadas numa estrutura de aço. Não havia máquina de lavar, secadora, micro-ondas nem aparelho de televisão. Ele não se importava. Suas necessidades eletrônicas consistiam num laptop e num celular, que eram fáceis de serem carregados na cápsula. Não havia termostatos nem interruptores de luz – todas essas funções eram realizadas pelo aplicativo da casa inteligente.”

A narrativa engata quando Wilde tenta ajudar seu afilhado, Matthew, a encontrar uma colega desaparecida, Naomi, que sofre bullying no colégio. Matthew sente-se extremamente culpado por não tê-la ajudado enquanto teve chance. “Como ela sobrevive? Alguns dias, como hoje, Matthew realmente presta atenção e sente vontade de fazer alguma coisa. Na maior parte dos dias, não. Nesses dias, o bullying também acontece, claro, mas é tão frequente, tão costumeiro, que se transformou numa espécie de ruído de fundo. Matthew aprendeu uma verdade terrível: a gente fica imune à crueldade. Ela vira o padrão. A gente aceita. Vida que segue.”

O livro traz boas reflexões sobre temas como bullying, violência, perda da autoestima, negligência parental e o estímulo desenfreado à competitividade no mundo capitalista. Disputas eleitorais e o papel decisivo da mídia também entram em pauta na trama.

VIDA LONGA AO CEMITÉRIO DOS LIVROS ESQUECIDOS

Além de Wilde e dos adolescentes do colégio, outra personagem que ganha bastante destaque no enredo é Hester Crimstein, avó de Matthew. Presente em outras tramas de Coben, a implacável advogada não mede esforços para encontrar a colega de Matthew e, de quebra, ajudar Wilde, que precisa desesperadamente construir suas memórias. Afinal, como um trecho alerta, “a memória faz exigências que com frequência a gente não consegue cumprir. E é falha porque insiste em preencher as lacunas”.

Obs: o livro foi escrito antes da pandemia, mas a trama se passa em 2020. Há este alerta antes da narrativa, mas, sim, em alguns momentos fica bem estranho que não haja medidas de distanciamento social, uso de máscaras ou referências à pandemia.

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