NEM SÓ DE IMPERADOR SE FAZ A HISTÓRIA

PRECISAMOS CONHECER A HISTÓRIA FEITA E CONTADA POR QUEM FAZ ACONTECER: O POVO
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01.09.2021

Divulgação / Ervin A. Johnson

Depois de quase dois anos sem novidades em nossas noites novelísticas, a estreia de uma produção gravada durante a pandemia trouxe uma alegria, finalmente uma história nova, com um ótimo elenco e um protagonista negro que não é Lazaro Ramos, nada contra Lazinho, mas parecia que só ele era qualificado para viver um personagem principal numa trama, porém o deleite azedou. Vimos durante os capítulos que se seguiam alguns equívocos se repetindo, e a sensação de trabalho em vão, batendo forte.

Que pena Michel Gomes!

Na novela “Nos Tempos Do Imperador”, acompanhamos a saga da monarquia brasileira, iniciada em outros tempos com a novela “Novo Mundo”. A continuação desta trama que fala sobre uma época importante para o Brasil seria de uma relevância enorme, mas a escolha por uma narrativa que refaz passos a partir da classe dominante não é mais digestiva.

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A história do Brasil por muito tempo foi contada pela voz e caneta daqueles que detinham o poder, fazendo silenciar os que eram oprimidos, e nesta lista se encontram indígenas e negros escravizados. Suas vozes não eram ouvidas, mesmo com todo o barulho que causavam. A distorção dos fatos nos impediu por muito tempo de saber da verdade, e a romantização desta era nos educava, fazendo com que reproduzíssemos a fala do opressor.

Por muito tempo era assim que a banda tocava, mas ultimamente o conhecimento tem chegado àqueles que ignorantemente repetiam os erros do passado, e hoje querem contar e recontar nossos próprios relatos.

Assim, chega para nós, “Doutor Gama” (GloboPlay), um excelente filme dirigido por Jefferson De (M8 – Quando a Morte Socorre a Vida) e estrelado por César Mello, Zezé Motta, Mariana Nunes, Pedro Guilherme e Ângelo Fernandes, que se passa no período colonial sem colocar o negro como personagem figurante e sim como protagonista.

Na trama conhecemos um pouco da vida de Luiz Gama, um rábula que advogou para libertação de mais de 700 negros escravizados e segundo a história, em 1882, o seu velório foi um dos maiores que São Paulo já viu, chegando a levar às ruas mais de 3000 pessoas. Além de um importante líder abolicionista, era também jornalista e poeta. Foi filho de Luiza Mahin, uma importante abolicionista que abria sua casa para as reuniões dos malês e participou ativamente da revolta, em Salvador. É o patrono da cadeira n.º 15 da Academia Paulista de Letras.

Soube que o personagem vai aparecer também na novela global, interpretado pelo brilhante Deo Garcez, que há anos tem levado aos palcos esta figura que muito fez pelos seus e foi invisibilizado durante anos, mas que em 2015 teve seu reconhecimento tardio como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), corrigindo assim uma injustiça cometida ao recusar a inscrição do jovem negro. Em 2017, Luiz Gama foi homenageado quando uma das salas da instituição recebeu o seu nome. Muitas ruas do país levam seu nome também.

Digo que sua história poderia ser produzida como minissérie, daria muito pano pra manga e quem sabe alavancaria a audiência. A verdade é que estamos cansados das mesmas histórias contadas pelas mesmas pessoas sobre as mesmas pessoas.

Em nós, até a cor é um defeito.

Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime.

Mas nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza

de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional

da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície

escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade.

(Luiz Gama)

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