O frio chega ao Hemisfério Sul e, ainda em home office, jogamos no corpo as roupas mais confortáveis e quentinhas do nosso guarda-roupa: os moletons. Não que isso signifique estarmos sempre despojados demais. O moletom, que já foi sinônimo de roupa esportiva, vem sendo reconfigurado com estilo há décadas e ultimamente sai das passarelas para as ruas – ou no caso atual, casas – com o título de peça-símbolo do isolamento social. (Foto inicial: Coleção cápsula “Gucci Manifesto – 2019).
A CONTROVERSA SAIA PARA HOMENS – HOJE E SEMPRE UM ÍCONE DO GUARDA-ROUPA MASCULINO
Mas isso todo mundo já sabe… O que eu quero trazer aqui, é a origem do moletom, ou melhor dizendo, das roupas de esporte e lazer. Para isso, a gente vai até a segunda metade do século 19 para acompanhar um movimento muito importante que se intensificou naquela época: os esportes. Mas não os esportes dos gregos antigos – que antes da era Cristã criaram as Olimpíadas ao treinar o atletismo – e sim, os esportes modernos da Europa, que seduziam as classes aristocráticas e principalmente as mulheres, que ainda não tinham tido muito espaço nesta área.
Essas atividades ao ar livre incluíam jogar tênis, golfe, cavalgar e andar de bicicleta. Para isso, era muito desconfortável usar vestidos imensos com espartilhos e anáguas, cheios de babados e enfeites, como era comum. Surge então um costureiro inglês, já muito respeitado por suas encomendas tradicionais para a realeza britânica, que cria novos trajes para este momento social: John Redfern.
Redfern entende que as mulheres mais arrojadas da sociedade daquele período iriam se beneficiar com um tipo de vestimenta que tivesse um corte mais simples, principalmente para os meses de verão. É no ano de 1870 que ele lança a nova silhueta considerada soltinha – que ainda era feita sob medida (como a alta costura). Bem-sucedido, o criador abre, na década de 1880, ateliês na França – sendo um em Paris e outro no balneário elegante de Deauville, onde boa parte da elite francesa passava temporadas. Seu conceito vai se expandindo.
Com a morte de John Redfern em 1895, seus filhos e discípulos seguem na empresa Redfern Ltda, abrindo uma filial ainda em New York. Entretanto, é justamente a atuação do empreendimento na cidade litorânea, já entrando no século 20, que se mostra de suma importância para a estética de roupas confortáveis que deixaria um legado importantíssimo para os novos tempos, afinal o jersey – o tecido preferido de Redfern para o traje esportivo – evoluiu para o atual moletom.
Gabrielle Chanel, no ano de 1913, também abre uma butique em Deauville com a sua primeira coleção de peças consideradas esportivas, usando o flexível jersey como elemento base de suas criações para a mulher moderna e ativa. Mas a estilista vai um passo além: seus looks já são prêt-à-porter, ou seja, prontos para vestir ao serem adquiridos imediatamente – inaugurando o tipo de serviço sem o qual, nos dias de hoje, não viveríamos.
Foi no ano de 1926 que foi criado o moletom como conhecemos, produzido em algodão, pela empresa de roupas esportivas Champion, de NY. De lá para cá, essas peças confortáveis, de tecido macio ganharam o mundo – primeiro para a prática de atividades físicas e, depois, foram sendo incorporadas gradualmente ao nosso dia a dia. E hoje, claro, fazem parte imprescindível de qualquer guarda-roupa em todos os lugares do mundo.
Em tempo: a palavra francesa “molleton” vem do latim mollis e significa maleável, brando, suave. Mesmo que a moda tente fugir do seu berço mundial, é sempre a França que, de uma maneira ou outra, acaba dando o tom fashion.
